Tempos atrás, escrevi neste espaço sobre a praticidade e a lógica fantasticamente simples da “onda verde” nos sinais de trânsito — e deixei bem claro meu desapontamento quanto à falta dessas medidas no Brasil. Pois é, como sempre, os dados confirmaram minhas teorias e aquilo que qualquer observação minimamente empírica nos faz concluir: não temos na cidade de São Paulo um sistema semafórico que sequer possa ser chamado de inteligente.
Sarcasticamente, sempre disse que diversos sistemas até podem ser chamados de inteligentes, porém tenho enormes dúvidas sobre o coeficiente intelectual de quem os programa. Exemplo disso são alguns elevadores de prédios comerciais programados por sei lá quem. Muitas vezes eles sobem todos juntos e descem todos juntos, como se fossem a Esquadrilha da Fumaça.
Segundo a Prefeitura de São Paulo, foram investidos R$ 230 milhões na reforma de equipamentos em 4.950 cruzamentos da cidade, mas isso não permitiu ainda que o sistema semafórico pudesse ser reprogramado a distância e pudesse facilitar o fluxo em vias congestionadas. Pelos dados da CET foram colocados 1.400 nobreaks e 1.000 controladores novos, além de 1.800 dispositivos que enviam à CET informações quando eles quebram. Pelos meus cálculos, como a CET diz que há 6.335 cruzamentos com semáforos, teria havido modernização de 78% do total. Teoricamente, um bom dado. Mas, segundo o secretário municipal de Transportes a CET ainda está desenvolvendo um software de código aberto para fazer essa reprogramação online. Depois disso, seria montada a sala de controle. Assim mesmo, com tempos de verbo no gerúndio e no condicional. Secretário, vá logo que seu chapéu já está lhe aguardando para ser colocado na sua cabeça e daí ambos podem tomar o caminho de casa.
Um dos (vários) problemas deste projeto é que ele não contemplou detectores de fluxo de tráfego, que permitiriam que a reprogramação fosse feita automaticamente. Pelo andar (lento) da carruagem, continuaremos dependendo de controladores humanos que monitorem o tráfego de dentro de salas climatizadas. Ou seja, voltamos na questão de equipamentos inteligentes mas até a página 3.
Outra ironia é que não há a tão alegada falta de recursos que acomete outras áreas, já que dinheiro para isto tem garantido pois vem do Fundo Municipal de Desenvolvimento do Trânsito — alimentado, caros leitores, pelo dinheiro arrecadado com multas na cidade. Bazinga! Um poço de recursos, como bem sabemos.
Segundo os especialistas, um sistema semafórico adequado consegue reduzir em 20% os congestionamentos. Várias cidades no país todo já tem sistemas de onda verde. Em agosto passado, Aracaju (600.000 habitantes) iniciou a sincronização dos semáforos em diversas avenidas, começando por uma “onda verde” ao longo de toda a av. Francisco Porto. A sincronização foi feita nos dois sentidos. Entraram também na novidade a av. Heráclito Rollemberg. Já tinha onda verde a região da Barão de Maruim, mas várias outras vem entrando na sincronia.
Em Curitiba (1,8 milhão de habitantes) assim que foi confirmado como o futuro prefeito, Rafael Greca se comprometeu a resolver os problemas de semáforos na cidade. Quando ele assumir, disse, unificará as linguagens e sincronizará os semáforos para criar ondas verdes. Textualmente: “O trânsito precisa fluir como as artérias do corpo. Os semáforos são um importante fator de controle do trânsito e devem ser usados com inteligência e técnica.”
Divinópolis (200.000 habitantes), em Minas Gerais, também entrou na onda verde. A Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Trânsito e Transporte (Settrans), implantou a sincronização semafórica em oito vias da área central: rua Goiás, Pernambuco, Itapecerica, Minas Gerais e Rio de Janeiro, além das avenidas JK e 1º de Junho. Nesse caso, foram substituídas 24 semáforos na região Central e 15 controladores eletrônicos.
Taubaté (250.000 habitantes), no interior de São Paulo, inaugurou em abril deste ano um sistema semafórico de onda verde com programação pelo agente de trânsito no local. Os equipamentos para controle já foram instalados na avenida Independência, rua Dr. Emílio Winther, praça Santa Terezinha, praça 8 de Maio, rua Barão da Pedra Negra, rua Coronel Marcondes de Mattos, rua Jaques Félix e rua XV de Novembro. O sistema opera em sistema de anéis de forma a garantir os sincronismos necessários.
Palmas (300.000 habitantes) no Tocantins tem onda verde desde 2014 em diversas ruas e avenidas. No caso da av. Teotônio Segurado, as autoridades dizem que ela reduziu o número de mortes. Com o sincronismo dos semáforos o condutor pode passar por todos os sinais abertos desde que mantenha uma velocidade média de 65 km/h e os semáforos da Teotônio, dos cruzamentos com a LO-01 até a LO-27, passam por manutenção semanalmente para que a “Onda Verde” funcione de forma correta. Segundo a Secretaria Municipal de Acessibilidade, Mobilidade, Trânsito e Transporte, essas intervenções se refletem na redução no número de mortes na via. Outra fonte confirma: de acordo com dados do Projeto Vida no Trânsito, em 2013 na Teotônio Segurado ocorreram 14 mortes em decorrência de acidentes de trânsito. Já em 2014, esse número caiu para 8, representando mais de 40% de redução. Nos primeiros cinco meses de 2015 foram registradas 2 mortes na avenida, nesse mesmo período de 2014 os números já apontavam 4 mortes na via — uma redução de 50%. Claro que Onda Verde ajuda mas não é tudo, por isso outros fatores também devem ser lembrados, especialmente o acréscimo de mais equipamentos eletrônicos de sinalização e fiscalização, que auxiliam num bom desenvolvimento do tráfego.
Já sei, alguém dirá que exemplifiquei com cidades médias e não megalópoles como São Paulo. Também não se sustenta, pois grandes cidades como Buenos Aires (13 milhões de habitantes na área metropolitana) têm onda verde. Entre outras muitas. Eu apenas quis me focar em casos de sucesso no Brasil. E ainda assim, por que autoridades sempre alegam isso quando lhes convém? Não usam esse argumento quando se discute implantação de ciclovias ou outras soluções de mobilidade. Ou, ainda, quando a questão é hospitais e postos de saúde. Nunca vi um prefeito reclamar de que tem poucos pacientes para as unidades de saúde. Alguém já viu?
Mudando de assunto: Agora começa minha temporada de abstinência de Fórmula 1. Provavelmente terei tremedeira e suor frio nos finais de semana durante um par de meses, mas a corrida de Abu Dhabi valeu a pena. Torci o ano todo pelo Nico Rosberg como havia feito em 2015 também, quando obviamente fracassei. Ele fez um campeonato bonito, piloto sempre correto e sem chiliques. Tinha o melhor carro? Sim, um dos dois melhores, mas ele foi melhor do que o Hamilton que é um excelente piloto, mas que precisa deixar de ser uma criança birrenta. Nem questiono ele ter segurado todo mundo para prejudicar o alemão — está dentro do regulamento embora não ache bonito. O Nico deu sorte quando o carro do Hamilton quebrou na China ou na Rússia, embora nos dois casos tenha sido na classificação? Ou na Malásia durante a corrida? Claro, assim como o inglês se favoreceu em 2015 quando o acelerador do carro do alemão quebrou na Rússia ou o motor estourou no GP da Itália, nos dois casos durante a corrida. Conspiração da escuderia? Fazendo as contas, desde 2013 o número de falhas mecânicas que significaram zero pontos para cada um dos dois pilotos está 8 para Nico e 4 para Hamilton. Pela matemática, conspiração só se for contra o alemão. Campeões além de talento e um bom equipamento precisam ter sorte e finalmente o vento mudou este ano para Rosberg. Em 2017 sentirei falta da elegância e da tocada impecável do Jenson (viu locutor da Globo, é Jenson, não Jason como você diz há anos!) Button. Quanto a pilotos brasileiros, parece que começamos uma entressafra braba na F-1. Enquanto isso, assistirei outras categorias, como faço ao longo do ano inteiro.
NG