De uma forma geral não posso reclamar de machismo. Ao longo de toda minha vida pessoal e profissional não me lembro de ter sido prejudicada nenhuma vez por ser mulher. Fui prejudicada, claro, mas não por esse fato.
No entanto, o mesmo não se aplica a postos de gasolina nem oficinas mecânicas. Nesses lugares reina o machismo. É só encostar no posto para abastecer que já me empurram aditivo para combustível ou fazem uma medição capenga do óleo e dizem que tem que trocar, completar ou qualquer outra coisa (foto de abertura). Já nem discuto mais que é besteira e que eu mesma verifico essas coisas. Agora digo firmemente que não.
Mas se é um atendente novo ou nas raríssimas vezes em que tenho de parar em outro posto que não o que frequento, faço cara de alface (ou de burra mesmo) e apenas digo “vou avisar ao meu marido. É ele que cuida o carro, eu não entendo nada.” E recuso qualquer coisa alegando que sou uma negação em conhecimento de carro. Às vezes tenho alguns dramas pessoais por fazer isso pois como boa aluna montessoriana sempre acho que se deve aprender ou ensinar algo.
Mas, caros leitores, vou ao posto de gasolina pelo menos duas vezes por semana. Cansa dizer a mesma coisa o tempo todo e infelizmente cheguei à conclusão de que é menos demorado fazer papel de tonta. Mas tenho tremendas discussões comigo mesmo sobre se não seria melhor tentar terminar com esse estereótipo que acabo alimentando me fazendo de tonta. Sei lá, quem sabe alguns anos de terapia me ajudem a resolver isso. Mas como no momento esse quesito está for a de cogitação, continuo ora discutindo ora simplesmente fazendo cara de paisagem. Irônico é que quando é meu marido quem vai é difícil isso acontecer. Comigo, ou com minhas amigas, sempre.
Antes de viajar para a África do Sul levei o carro do meu marido para fazer a revisão na concessionária. Aceitei todos os itens obrigatórios, mas dispensei alinhamento e balanceamento por serem muito mais caros do que em outros lugares. Tirei o carro da autorizada e levei para fazer esses serviços numa loja de uma rede grande onde geralmente trabalham bem, embora já tenha brigado com eles. Esclarecendo que o carro estava absolutamente perfeito e a revisão era apenas para manter a garantia. Alinhamento e balanceamento eram apenas preventivos, pois estava tudo OK.
Quanto à loja, já contei aqui que anos atrás comprei um “Groupon” de promoção de alinhamento e balanceamento para minha mãe, pois estava na hora de fazer isso no carro dela. Ela foi e praticamente a obrigaram a trocar os quatro amortecedores. Enfim, tomei as dores e lá fomos nós brigar. Bati o pé e exigi que fossem colocados os amortecedores velhos e desfeita a operação de crédito. Consegui parcialmente, pois dois dos amortecedores nunca foram encontrados e ficaram os novos mesmo, sem custo. Em todo caso, entendi que era um caso isolado, de má-fé de um gerente de uma das lojas da rede e levei o carro da cara-metade para alinhar e balancear.
Depois de algum tempo mexendo no carro, o mecânico começou com um monte de besteiras, que precisava fazer uma dúzia de coisas que eu sabia de sobra que não eram necessárias. De novo a mesma coisa da minha mãe: anunciam um preço relativamente bom para um determinado serviço e depois empurram outros que fazem com que a conta mais do que triplique. Ele argumentava e eu pacientemente ouvia. E aí arrematou: acho que você não sabe do que estou falando…
Eu sei que tem um monte de coisas que não conheço neste mundo. Inclusive várias de mecânica, mas peraí, aí o sujeito estava pisando justamente no meu terreno. Aguentei heroicamente até o fatídico “Você não sabe do que estou falando”. Aí me enfezei. Baixou a argentininha invocada. Respirei fundo, mentalizei uns mantras e fiz ele abrir a internet no computador da oficina. Mandei digitar www.autoentusiastas.com.br e pedi para ele ir até “Editores” e ir rolando os nomes. E ataquei, com toda a paciência do mundo: “Você já ouviu falar de Arnaldo Keller? Bob Sharp? Fernando Calmon?. .. e por aí fui, fazendo ele ver nome por nome. Quando chegou na minha foto ele disse: É você! Bazinga. Aí, foi só perguntar: “Você ainda acha que eu não sei do que você está falando?” Pronto, as outras coisas que é ele estava me empurrando deixaram de ser necessárias…
Voltei dois dias depois com meu carro também para fazer alinhamento e balanceamento e já nem precisei falar nada. Aliás, o cara virou meu amigo de infância e nem quis me empurrar serviços desnecessários. Agora a piada é que todos meus amigos dizem que levarão os carros lá e dirão que são amigos de Nora Gonzalez…
É fato que as mulheres somos as vítimas preferenciais. Cansei de explicar por que não quero aditivo ou porque o nível do óleo está bom. Até mudei de posto por causa disso e tenho ido num que sempre (e apenas) oferecem calibrar os pneus e limpar o para-brisa. E só. Adorei não ter que bancar a estúpida nem perder 10 minutos explicando que nada do que eles me oferecem é necessário. Depois da história da oficina, passarei a adotar uma nova estratégia: daqui para a frente brandirei meu celular 4G, já na página do AE.
Mudando de assunto: Eu, assim como todo mundo, fui pega de surpresa com a saída de Nico Rosberg da Fórmula 1. Este ano torci muito por ele, por achar que foi consistente, coerente e não ficou choramingando como Hamilton, Vettel ou Alonso. Não sei se um título mundial é pouco, mas reconheço que tem que ter coragem para sair quando já estava garantido na melhor escuderia por mais dois anos. Bem, agora torcerei pelo Daniel Ricciardo. Irritada mesmo fiquei com as bobagens que li, inclusive em grandes sites de notícias. A mais imbecil certamente foi que Rosberg teria sido o primeiro piloto a largar a F-1 depois de ganhar o campeonato. Nigel Mansell fez o mesmo em 1992 quando conquistou seu único título máximo na F-1 e em 1993 correu na Cart. Alain Prost fez o mesmo em 1993, depois de conquistar seu quarto título, como havia feito Jackie Stewart em 1973 quando conquistou seu terceiro campeonato. Mike Wawthorn também fez a mesma coisa em 1958 depois de ganhar seu único campeonato com apenas uma vitória. E meu ídolo James Hunt foi campeão uma única vez, em 1976, e aí ligou o “dane-se” até parar definitivamente em 1979. Para ele, ganhar um campeonato mundial já era a realização de um sonho. Estranho, esse pessoal da F-1…
NG