Já falei várias vezes aqui no AE nesses nossos oito anos, sem contar outros tantos no Best Cars e não sei quantos em revistas para as quais escrevi e escrevo, por exemplo a revista Carro: sempre que dirigi no exterior nunca me vi tolhido de trafegar em velocidades razoáveis e coerentes.
Falei, inclusive, das várias vezes em que via uma placa de velocidade e olhava para o velocímetro e estava exatamente no limite. Isso porque lá velocidades das vias são estudadas e não aplicadas aleatoriamente, “a Bangu”, como se diz no Rio.
Mas ainda não dirigi nas cidades onde prefeitos, não sei se malucos ou irresponsáveis, ou ambos, resolveram baixar as velocidades tresloucadamente: Londres, Sadik Khan (Trabalhista) e Nova York, Bill de Blasio (Democrata). Só dirigi em Paris no ano passado, cuja prefeita Anne Hidalgo (Socialista) também aderiu a esta neurose de reduzir velocidade, embora eu tenha usado velocidades normais, inclusive na périphérique, via de trânsito rápido que circunda a cidade, onde a velocidade baixou de 90 para 80 km/h e depois para 70 km/h, embora todo o tráfego se movesse a 80 km/h e até um pouco mais.
O fato que quero chamar a atenção é que nem de longe se dirige em Paris sob o terror que é São Paulo e outras cidades brasileiras, com a sensação de se estar devagar demais e sabendo que há armas — os detectores de velocidade com câmera — à caça do cidadão que se distraia e ande “em excesso de velocidade”.
O mais grave disso tudo é que não era assim. Antes de morar em São Paulo eu vinha aqui com frequência, tanto para resolver assuntos na VW quando concessionário, quanto para correr em Interlagos. Depois, quando me mudei, andava-se tranquilamente, a velocidades normais e civilizadas. A coisa começou a feder com o prefeito Gilberto Kassab e degringolou de vez com o petista Fernando Haddad, o tal de “nós pega o peixe”, que se é assim que o povo fala, está certo. Aí ferrou de vez, para não usar um verbo chulo.
Um parêntese. Em 1º de janeiro de 1997 um idiota, que nem paulista ou paulistano era (carioca) assumiu a cadeira de prefeito de São Paulo. Sim, ele mesmo, Celso Pitta, que sete meses depois instituiria o rodízio, essa vergonha paulistana perpetuada pelos seus sucessores, inclusive, pelo jeito, por João Dória Jr.
Voltando, é de Fernando Haddad a frase “o paulistano vai pensar duas vezes antes de tirar o carro da garagem”, o exemplo perfeito de quem tem uma mente doentia. Como se quem tivesse carro fosse uma reduzida elite — em São Paulo a relação habitante por veículo é 1,7! Elitezinha grande essa, hein!
Vou dar um exemplo do terror que é dirigir em São Paulo por causa desse desgraçado escorraçado pelo voto. Voltando da GM, em São Caetano do Sul, percorre-se a av. Goiás de 60 km/h de limite. Não é o ideal, mas dá para andar normalmente, sem precisar ficar com o olho pregado no velocímetro. Ao cruzar a divisa de município pega-se a av. Almirante Delamare e depois a Presidente Tancredo Neves, e a velocidade máxima cai para 50 km/h. Pronto, parece que se está parado. E tome olho no velocímetro.
Enquanto isso, no Rio, av. Atlântica, que margeia a Praia de Copacabana, bairro da mais alta densidade demográfica, com calçadas sempre cheias de pessoas, inclusive idosos, atravessando nas faixas semaforizadas, o limite é 70 km/h; no Aterro do Flamengo, a av. Infante D. Henrique, 90 km/h; e por aí vai. Isso se chama inteligência de quem comanda o tráfego lá.
No início de dezembro, por ocasião do lançamento dos novos motores Renault SCe, dirigi Sandero e Logan em Curitiba e, agradável surpresa: fora a palhaçada da avenida principal (acho que Sete de Setembro) de 30 km/h, dirige-se normalmente a 60 km/h na maioria das ruas sem o “terror do velocímetro” e sem a população ameaçadora de “pardais”.
João Dória Jr. elegeu-se (em 1º turno, fato inédito na história da cidade de São Paulo) exclusivamente — tenho certeza — por prometer reverter as velocidades nas marginais dos Pinheiros e Tietê para números pré-Haddad. Ao se aproximar o dia de sua posse, 1º/01/17, iniciou-se campanha feroz contra a volta das velocidades anteriores por (falsos) arautos da “segurança”, certamente gente tosca que não sabe o que é um volante de direção. Até ação na justiça contra “velocidades mortais” por um tal de Idec pintou, como noticiamos.
Mas, tudo bem, sr. novo prefeito, e o resto? Nenhuma cidade, mesmo pequena, só tem duas vias, uma emendada na outra como as marginais daqui, mas uma malha urbana que vai de pequena a gigantesca, nosso caso.
Estamos com velocidades que beiram o ridículo e, pior, são verdadeiras armadilhas. O leitor André Andrews foi flagrado às 2 da manhã trafegando à “estonteante” velocidade de 60 km/h na av. Aricanduva, tendo como velocidade considerada 53 km/h, 3 km/h acima do limite. O editor-chefe do AE, com o Civic Touring de teste, numa distração a “criminosos” 50 km/h próximo à esquina de sua casa, o onde a velocidade foi baixada de 60 para 40 km/h. Isso num sábado às 4h30 da tarde.
Quero acreditar que o prefeito João Dória Jr. tenha usado apenas as duas marginais como bandeira de revisão dos limites para não assustar algumas centenas de imbecis que não têm noção do que é trânsito, para só depois proceder ao restabelecimento das velocidades corretas e razoáveis em toda a malha viária da cidade. Quero acreditar nisso, repito.
Porque se ele não o fizer mostrará ser um covarde, que se rende à opinião de desajustados socialmente que fingem querer o bem desta grande cidade. Se for mesmo isso, será implacavelmente criticado pelo AE, a exemplo do seu antecessor.
AE/BS