Terça-feira 7 de fevereiro foi o dia da Internet Segura. OK, mas segura para quem? Quem se informa só no ciberespaço está mal informado, para dizer o mínimo.
Recentemente comentei aqui que amigos e conhecidos meus nas redes sociais saíram publicando afobadamente links para matérias sobre acidentes nas marginais do Tietê e Pinheiros, em São Paulo, logo depois da volta aos limites antigos de velocidade. Digo afobadamente pois acredito que alguns (mas apenas alguns) o tenham feito sem perceber que os textos se referiam a acidentes ocorridos em 2016, portanto, quando as máximas eram mais baixas do que as atuais.
Alguns “compartilharam” links de acidentes atuais nos quais pelo menos um dos envolvidos estava alcoolizado — muito alcoolizado. Outros muitos espalharam esses links de má fé mesmo, para levar os incautos a achar que 90 km/h seria uma marca assassina.
O que sempre me surpreende não é que isso aconteça, mas sim de quem vem essas publicações. Eram pessoas que eu achava inteligentes e bem informadas, mas que acabo percebendo são parciais e fazem questão de divulgar coisas que sabem não serem corretas. Posso garantir que cair na real desde o ciberespaço dói muito. Parece até que a altura é maior… Outros foram ingênuos, esclarecendo desde já que quando digo isso eu mesma me alinho ao lado da Velhinha de Taubaté e entre um elfo e o Coelhinho da Páscoa.
Bastam apenas alguns minutos para encontrar exemplos disso. Como disse Ésquilo e Winston Churchill popularizou: “Numa guerra, a primeira vítima é sempre a verdade”. Mas tem gente por aí massacrando a verdade com requintes de crueldade.
Em um caso cheguei a postar o desmentido. Era o caso de um site pouco idôneo, para dizer o mínimo, que publicou que um departamento da USP teria feito um estudo e listado sites que divulgam informações falsas. Ao ler o texto com um mínimo de senso crítico já dá para perceber que tem alguma ideologia por trás, já que os tais sites são somente de um lado do espectro ideológico e ainda têm uma lista de sites verdadeiros que seriam os maiores divulgadores dessas informações inverídicas. Os tais sites são da mesma ideologia que as informações. Bazinga!
Claro que tinha algo por trás. Aí foi só entrar no site da USP e do tal departamento, que realmente existe, para encontrar um desmentido de que tivessem feito qualquer estudo nesse sentido. No entanto, um monte de gente “compartilhou” o texto fake de sites fakes que divulgam notícias fakes. Algo deveras kafkiano você divulgar uma mentira sobre sites mentirosos. E isso faz de você o quê? Na melhor das hipóteses, um ingênuo.
Eu mesma coloquei o desmentido no perfil de um conhecido que estava divulgando isso. Vocês pensam que ele viu o comentário? Parece que não, pois nem curtiu nem me xingou. Nem ele, nem nenhum dos milhares de seguidores que ele tem. Posso dizer que foi minha primeira e última incursão na cruzada pela verdade no ciberespaço.
É claro que isso acontece com qualquer ideologia. Mas parece que alguns estão mais desocupados do que outros ou tem mais afinco para tanto. Tenho a impressão de que alguns escolhem certos assuntos e forçam fatos a se encaixarem. Como os links dos acidentes.
Da mesma forma, parte da imprensa faz a mesma coisa — divulga números de acidentes nas marginais sem dizer quantos ocorriam antes dos novos limites. Semana passada vi um apresentador de televisão comentar horrorizado um acidente (sem vítimas) na pista expressa da marginal do Tietê entre um caminhão e uma moto. Para quem não é de São Paulo, lembro que o trânsito de motos é proibido na pista expressa dessa marginal e que a velocidade máxima para veículos pesados continua sendo os mesmíssimos 60 km/h impostos pelo prefeito anterior. Ou seja, o acidente envolveu alguém que a princípio estava na mesma velocidade em que teria trafegado no ano passado e outro que não deveria estar onde estava. E o que é que o novo prefeito ou o novo/velho limite de velocidade tem a ver? Nadica de nada.
Incrível mesmo é o grau de virulência também no ciberespaço. Se você é a favor da volta dos limites de velocidade nas marginais você é taxado de maluco assassino de gente, como se todos fossem obrigados a andar a 90 km/h. Aos mal informados esclareço que olhei novamente toda a legislação, revi o Código de Trânsito Brasileiro, li as diretrizes do programa Marginal Segura e podem tranquilamente andar aos antigos 70 km/h pela direita ou ficar nas pistas marginais e andar a 60 ou ainda pela faixa da direita das marginais aos mesmos 50 km/h de antes. Não há nada que obrigue ninguém a andar a ultrassônicos 90 km/h. Desnecessário dizer que ativei meu modo irônico nesta última frase… E pelo que tenho rodado neste mês todo, posso afirmar que ninguém irá lhes incomodar.
Discordar não deveria significar atacar. No entanto, é o que acontece. E por que xingar, usar palavrões e classificar quem discorda com adjetivos horrorosos que nada tem a ver com a questão? Não sou judia, mas tenho muitos amigos que são. Ainda assim me sinto deveras ofendida quando vejo alguém chamar de nazista alguém que defende a volta da velocidade antiga nas marginais. Ou que critica alguma atitude de governos de esquerda. Os nazistas mataram 6 milhões de judeus. Como alguém que defende andar a, no máximo, 90 km/h pode ser comparado com alguém que matou tanta gente?
Sim, porque aqui não estou falando dos demais extermínios dos nazistas — teve todo tipo de atrocidade, incluindo minorias e pessoas que apenas pensavam diferente. E aí está outro lado irônico disto: os nazistas matavam quem pensava diferente mas os que não concordam com determinadas posturas taxam os demais de nazistas. É simplesmente rebaixar o Holocausto a uma conversa de boteco com a platitude de um pires. Enfim, sempre que se mistura ideologia com razão dá nisso. Ainda assim, estamos em tempos de total absurdo.
Tem uma palavra na língua portuguesa que eu adoro. Pena que seja tão pouco utilizada: néscio. Define aquele que não sabe. Vem do latim ne, que significa “não” mais scio, de scire, que é mais propriamente “saber”. Gosto mais dessas palavra do que apenas “ignorante”, pois este pode não ter tido oportunidade de aprender. O néscio geralmente não quer aprender. É aquele pior cego, o que não quer ver.
Adoro uma boa conversa e confesso que morro de inveja quando vejo filme americano e assisto aquelas aulas de Debates. Acho isso fundamental para que se forme o caráter e o raciocínio de uma pessoa. Discutir, argumentar ou mesmo só tomar contato com gente que pensa diferente de nós para mim é algo apaixonante. Mas até eu tenho fugido de alguns, digamos, intercâmbios de ideias. E olha que sempre tive amigos em todos os espectros ideológicos, políticos e de diversas nacionalidades com várias idiossincrasias e costumes. Mas ultimamente ando achando que tem gente substituindo as sessões de terapia pela conta de banda larga e a conta do Facebook…
Mudando de assunto: Hoje vou “roubartilhar” um vídeo que o Fernando Calmon postou no Facebook dele. É coisa para autoentusiasta mesmo. Veja só:
NG