No sempre simpático Salão de Genebra, aberto ao público ontem e que vai até domingo 19, as maiores novidades foram táxi Volkswagen e picape Mercedes.
Mostra suiça, usualmente buscando temas como ecologia, hibridismo ou segurança, nesta 87ª edição deixou rolar. O caminho da redução de emissões está bem pavimentado por legislação e carros híbridos, elétricos ou autônomos, em trilhas próprias, variando marca para marca.
Dentre estes Matthias Müller, o chefe mundial da Volkswagen, fez declaração pontual ao apresentar o Sedric, novo autonômo como proposta de táxi para 4 pessoas. O Grupo Volkswagen investe alguns bilhões de dólares em seu projeto Together – Strategy 2025 (Juntos – Estrategia 2025), pavimentando a via de combustíveis alternativos e autonomia. O Sedric, frente e traseira iguais, sem pedais, volante ou instrumentos, atende pelo toque de um botão à mão do interessado. Não entrará em produção mas será referência de tecnologia para os próximos anos. Disse o executivo maior da VW, o futuro começa hoje.
De Volkswagen novidade mais atraente foi o Arteon, seguindo o desenho atual de sedãs com perfil acupezado. Substitui o antigo Passat CC, depois CC e, com o fim de produção do Phaeton será o maior da marca. Exibido também SUV Tiguan 7 lugares (foto de abertura), sobre plataforma MQB, mesma de Golf e Audis A e Q3.
Importante para o Brasil, será produzido no México e importado sem impostos, com previsão de competitividade e vendas num mercado de grande expansão neste segmento. David Powels, presidente da VW do Brasil projeta, nosso mercado superará a média mundial de preferência por utilitários esporte, hoje em 25%.
Foi Salão de carros esportivos de alto desempenho, alguns ultrapassando 1.000 cv de potência, e com presença de marcas conhecidas: Ferrari, Lamborghini, Maserati, e outras sem referências no mercado nacional: Pagani; David Brown – nada a ver com Aston Martin; Koenisegg; Kahn; Italdesign, agora marca da VW, pelo Rabel, exercício de estilo mesclando base mecânica Lamborghini/Audi R8 e carroceria futurística, a ser feito em apenas 5 unidades; novidadeira chinesa Techrules com projeto de estilo por Giorgetto Giugiaro, insólito por usar turbina a gás como gerador de energia a seis motores elétricos; Eadon Green em coupé Black Cullin inspirado nos anos ’30, confortável e performático.
Brasil
De maior interesse ao mercado nacional havia o EF7 — iniciais de Emerson Fittipaldi, associado ao projeto, esportivo construído pela HWA, conduzida por Hans-Werner Aufrecht, o A da antiga AMG, preparadora de Mercedes. Monobloco e carroceria em compósito de fibra de carbono, motor V-12 Mercedes, 1.000 kg e 600 cv. Iniciativa para 39 veículos — mesmo número das vitórias internacionais do bicampeão, carroceria Pininfarina. Preço estimado, ½ McLaren, ou seja US$ 1M.
De referência sentimental, relançamento da marca francesa Alpine, controlada pela Renault, muito próxima estilo ao modelo original A110, evolução do mítico A108 construído e vitorioso nas corridas nacionais na década de ’60.
Curiosidade ao mercado europeu, tipo atração periférica, os picapes Mercedes X-Class e Renault Alascan. Ambas com mesma base serão feitas sobre base idêntica pela Nissan na Argentina e exportadas ao Brasil via Mercosul. Outra, picape feita pela Mitsubishi para a Fiat.
Novo Mercedes E coupé, belo em suas linhas fluidas e Range Rover Velar, proposta sobre o Evoque, menos SUV e mais Crossover — aparentemente a Land Rover se conduz em caminho em direção ao asfalto para um sedã. Médio prazo e curiosidade para a marca surgida com jipes.
Papos de Salão
Conversas, histórias, certezas e dúvidas de jornalistas internacionais no Salão.
up! terá versão forte
Markus Kleimann, diretor de desenvolvimento da VW no Brasil, disse em jantar restrito ter pronto protótipo do up! TSI com o motor também 1- litro de 3 cilindros, turbo e injeção direta e os 116/125 cv atualmente equipando o Golf 1-L em versão TSI. Será versão para ampliar as opções na linha — e adicionalmente o 1-L mais veloz do mundo. Nome em suspenso. Ou GT, ou TSII.
Ex-quase falida PSA compra Opel e Vauxhall
Notícia marcante do Salão foi a compra da alemã Opel e sua subsidiária inglesa Vauxhall pela franco-chinesa PSA, controladora de Peugeot, Citroën e DS. Opel e Vauxhall pertenciam à GM.
Negócio de 2,2B euros — uns US$ 2,3B. Justificativas para a transação variam diametralmente. Pela GM as marcas vinham em prejuízos seguidos — sensíveis 9B euros desde 2009 —, e o futuro não sinalizava positivamente por conta e soma com fatores exógenos: saída do Reino Unido da União Europeia, projetando aumento de custos do Vauxhall, no qual boa parte das peças é importada; e o exercício de xenofobia de Donald Trump, presidente dos EUA, pressionando tradicionais produtores de veículos no país a cortar investimentos no México e investir em fábricas e na produção americana. Soma aponta prejuízo e necessidade de investimentos, conta desbalanceada.
PSA tem outra visão — negócio Opel + Vauxhall é mal administrado. Carlos Tavares, o ex-vice mundial da Renault e executivo maior da PSA disse, em três anos tirá-la-á do prejuízo; crescerá a margem de lucro operacional para 2%; e a 6% em dez anos. Transação ampla, supera a atividade de fazer carros e entra no aspecto financeiro e securitário com a venda pela GM da unidade financeira. GM foi dona da Opel por 88 anos. PSA honrará o fornecimento de peças pela Opel para a minguante operação da Holden na Austrália, para a Buick nos EUA, mantido o intercâmbio acionário e técnico para desenvolver produtos e veículos.
Em fevereiro Opel lançou o Crossland, SUV sobre plataforma mecânica do Citroën C3 hatch.
Com o negócio PSA+Opel+Vauxhall será o segundo grupo produtor de automóveis na Europa, ultrapassando a Renault, decrescendo em vendas no Continente. Alemães e ingleses esperam tsunami sino-francês para cortar empregos e custos, afinar e compatibilizar métodos. Tais atitudes na PSA mudaram os prejuízos de 2013 nos lucros de 2015 e reservas de 2,7B euros.
Tenho visão adicional. Ex-poderoso na Renault, hoje mais poderoso na PSA, Tavares, português, homem do automóvel, sabe perfeitamente, carros franceses têm má fama mundial. Assumir a Opel — e a Vauxhall é apenas um apêndice — dar-lhe-á algum conhecimento quanto aos métodos alemães para apurar qualidade e, muito mais, agregará a imagem da qualidade alemã aos seus franceses. Compraram a marca para ficar com a fama.
Surpresa, o Peugeot 3008 Carro do Ano
Boa parte dos jornalistas presentes ao Salão de Genebra sorriu amarelo ao anúncio do COTY — nada de perfume, mas Car of The Year, Carro do Ano —, escolhido por júri internacional de jornalistas especializados. Prêmio foi ao novo 3008 recém-lançado — ainda não chegou ao Brasil —, com design em pegada de SUV, adequada às simpatias do mercado. Seguindo-o, Alfa Romeo Giulia, novo Citroën C3, Mercedes Classe E, Nissan Micra, Toyota C-HR e Volvos S90/V90.
Critério de escolha considerou inovação, segurança, design e custo-benefício.
Mais Porsches
Presente à apresentação do Porsche Panamera Sport Turismo agora em versão Crossover — ou hatch de quatro portas — Matthias Brüch, diretor-geral da marca no Brasil tem visão contida do comportamento do mercado neste indefinível ano.
Entende, vendas no mercado interno deverão superar levemente os 2 milhões de unidades. Quanto Porsche imagina pequeno ganho, repetindo o desempenho de 2016, quando marca se elevou apesar da redução do mercado. Opinião de outros executivos oscila: David Powels, da Volkswagen, crê em 2% de crescimento; Antônio Megale, presidente da Anfavea, associação dos fabricantes, 6%; Carlos Zarlenga, condutor da GM, entusiasmados 10%.
O Sport Turismo pouco auxiliará no total, cujo líder não é o mítico 911, mas o utilitário esporte Macan. Mas terá referência como o station wagon, break, estate car, perua — leque de denominações para este tipo de veículo com teto mais longo e porta-malas se comunicando com o habitáculo. O preço: superará o milhão de reais.
Audi esquenta
Marca de luxo deu ênfase a tecnologia e, em veículos programados para exportação ao Brasil, aposta em desempenho. À parte do conceito Q8, um SUV expondo soluções, mostrado em janeiro no Salão de Detroit e já apresentando retoques, será produto marcante no setor. Conjuga motor 3-L TFSI — turbo e injeção direta —, mais sistema híbrido elétrico, mais compressor elétrico, gera 476 cv capazes de levá-lo esportivamente de 0 a 100 km/h em surpreendentes 4,7 s e conseguir velocidade final de 275 km/h reais. Outra novidade, o RS 5 Coupé, lobo com cara de lobo, usa motor 2,9-L V-6, biturbo, gerando 450 cv e 61,2 m·kgf. Na lista de potência, RS3 Sportback e o SQ5 TFSI. O primeiro se torna derradeiro usuário de motores de cinco cilindros em linha, 0,5 litro/cilindro, 400 cv e 48,9 m·kgf. Recém-apresentado, o SQ5 TFSI emprega motor V-6, 3 litros e 354 cv e 51 m·kgf.
Novo Polo e Virtus, novidades VW para 2018
Encerrando especulações, Volkswagen anunciou resgatar no próximo ano nova e atualizada versão do Polo. Virá em carrocerias hatch e sedã, como o fez na década de ’90, mas separá-los-á por nomes. Hatch será o Novo Polo e Virtus a versão sedã três-volumes.
Há duas décadas, quando apresentado, era o mais moderno e o melhor dos Volkswagen, imagem buscada pela empresa. Novo Polo não é derivação ou desenvolvimento traçado sobre estrutura do Gol, mas produto inteiramente novo, construído sobre a plataforma MQB, já utilizada no Brasil para fazer Golf e Audis A e Q3. Será novo passo a um dos maiores desafios impostos a um fabricante nacional: sair da atual 3ª posição de vendas e reassumir a liderança
Dúvida no tema estava nas possibilidades veiculadas por algumas publicações vendo o Polo europeu, a ser lançado ao final desse ano, como inspirador do Gol. Pela informação da Volkswagen serão dois produtos. A nova geração do Gol, com apresentação prevista para o próximo mês, e devendo diferenciar-se do modelo atual por mudanças frontais em grade, para-choques e grupo óptico, maior preocupação com a interconectividade, mudanças internas.
RN