Com pneus ultramacios, Mercedes perde 0,7 s para Ferrari. Pneus ultramacios ainda são mistério. Massa foi destaque na Catalunha
Tal qual a vera pasta italiana, que deve ser degustada naquele ponto onde a massa ainda tem um quê de dureza, no treino de Barcelona a Ferrari foi a mais veloz com uma opção mais dura de compostos de pneus. Ao final das duas semanas de treinos de pré-temporada em Barcelona, Kimi Räikkönen foi o mais veloz com pneus supermacios, teoricamente mais duros que os ultramacios usados usados por Sebastian Vettel, o segundo piloto mais rápido ao final de oito dias de treinos. Sem ligar muito para esse ponto, os carros da Ferrari foram mais eficientes que os Mercedes de Valteri Bottas e Lewis Hamilton.
Verdade que muita coisa pode mudar nas duas semanas que ainda faltam para começar o campeonato, dia 26, em Melbourne, na Austrália, mas é muito difícil que essas duas equipes deixem de lutar pelas primeiras posições do grid e pelos três lugares do pódio. Por enquanto, o piloto que demonstrou maior potencial é Felipe Massa: teve rendimento constante, seu Williams FW40 Mercedes mostrou ser confiável e se a equipe não cometer os erros crassos do passado recente, a F-1 voltará a ganhar audiência no Brasil.
Mais do que mostrar as forças da temporada, algo ainda em processo de definição, os oito dias de testes no Circuito da Catalunha indicaram algumas questões técnicas que deverão marcar, pelo menos, a primeira metade da temporada. O primeiro ponto é o rendimento mostrado pelos pneus ultramacios e supermacios, as duas opções de compostos mais aderentes para esta temporada. Era esperado que os primeiros fossem significativamente mais rápidos que os últimos, mas tanto Ferrari (com Kimi Räikkönen, 1’18”634), quanto Mercedes (Valtteri Bottas, 1’19”310) conseguiram tais resultados com a segunda opção, identificada com a banda lateral marcada por inscrições pintadas em vermelho.
Os pneus identificados pela cor roxa tem a banda de rodagem revestida com a composição supostamente mais aderente, porém Sebastian Vettel (1’19”024) e Lewis Hamilton (1’19”32) foram mais lentos que seus companheiros andando com pneus mais duros. Há quem diga que Vettel ao fazer sua volta mais rápida teria aliviado o pé do acelerador propositadamente quando completava a última curva do circuito. Será que Hamilton não teria feito o mesmo? Os dois tem horas de voo suficientes para usarem e abusarem dessas artimanhas.
Grande novidade da temporada 2017, junto com as asas que também ganharam dimensões maiores, os pneus Pirelli deste ano, mais largos, proporcionarão maior aderência e portanto, terão influência direta no consumo de combustível. Segundo estudos publicados pela revista alemã Auto Motor und Sport, essas medidas maiores dos borrachudos são responsáveis por aumentar a área frontal dos carros em aproximadamente 10%, o que também afeta a relação consumo-distância percorrida. Apesar da FIA ter liberado 5 kg extras de combustível (cerca de 7 litros), engenheiros que participaram dos testes de Barcelona admitiram que em circuitos como Melbourne e Bahrein, primeira e terceira etapas do calendário, poderão ser registrados casos de pane seca, quando o carro para no meio do circuito com o tanque vazio.
Segunda colocada no Campeonato dos Construtores em 2016, a Red Bull ainda é a grande incógnita para este ano. Seus carros ainda estão andando mais lentos que os da Scuderia e o motor Renault ainda mostra algum prejuízo em termos de confiabilidade se comparados aos da Ferrari e Mercedes, situação amenizada pela maior potência conseguida em relação à unidade de potência usada no ano passado. A casa francesa admite que ainda há o que melhorar nesse conjunto, mas Cyril Abiteboul garante que o futuro é promissor. Ainda sobre a Red Bull, vale lembrar que o melhor tempo de Max Verstappen (1’19”438) foi conseguido com os pneus supermacios, enquanto Daniel Ricciardo usou ultramacios para obter 1’19”900, combinação igual à de Ferrari e Mercedes.
Felipe Massa será o lutador solitário no início da temporada: seu companheiro de equipe Lance Stroll deverá se concentrar em acumular horas de voo nas oito primeiras etapas do ano para se impor como algo mais que uma promessa bancada pelo poderio financeiro de sua família. Após uma semana inicial onde rodou e bateu mais do que seria esperado, o canadense foi orientado a rodar o maior número de voltas possível em condições e corrida e fez a lição de casa direitinho: embora tenha andado com pneus supermacios, sua melhor marca foi obtida com pneus macios, os “amarelos”.
Sobre o brasileiro, por enquanto há indícios fortes que Massa poderá fazer sua melhor temporada na Williams: no quinto dia de treinos ele foi o mais rápido na pista e dois dias depois dedicou boa parte do treino a andar com pneus médios (os “brancos”), opção mais dura e consequentemente a mais lenta: sua melhor marca nessa configuração foi em 1’24”443, 4/10, melhor que a marca de 1’24”863 registrada pelo seu companheiro de equipe, com acerto igual e no mesmo dia. A Williams foi a equipe que mais trabalhou com esse tipo de pneu na segunda semana, opção que não será usada na Austrália (roxo, vermelho e amarelo, ou ultramacio, supermacio e macio, na ordem) mas será entregue na China (vermelho, amarelo e o médio branco).
Independente da escolha da maciez ou rigidez dos pneus, não há nada mais duro do que o problema que afeta a McLaren neste início de temporada. A exemplo do que ocorre com a operação Lava-Jato no Brasil, não passa um dia sem que surja alguma nova história envolvendo a fragilidade cada vez maior do relacionamento da equipe com a Honda. Um dos fatos mais importantes dos últimos dias foi o desligamento do francês Gilles Simon, engenheiro que atuava como consultor dos japoneses desde 2013. Ex-Ferrari, Renault e FIA, Simon teria se desligado em protesto pelo fato de suas ideias terem sido ignoradas pela fábrica, algo que não foi confirmado pelo porta-voz da Honda.
Em Barcelona, a McLaren andou com cinco motores diferentes em oito dias de testes, mas o ainda esperançoso Eric Boullier, bam-bam-bam da equipe nas pistas, tenta convencer a todos que já consegue ver sashimi na posta dos hashis: “Ninguém esperava por esses problemas, muito menos a Honda. Mas não se trata de problemas sérios ou de erros de projeto.”
Em Melbourne poderemos ver se os McLaren MCL32 de Fernando Alonso e Stoffel (que foi mais rápido que o espanhol em Barcelona…) deixarão de ser os carros mais lentos nas retas.
O resultado final dos testes de pré-temporada Barcelona:
Posição/Piloto/Nº/Carro/Pneus/Tempo
1) Kimi Räikkönen (7), Ferrari SF70H , supermacio, 1’18″634
2) Sebastian Vettel (5), Ferrari SF70H, ultramacio, 1’19″024
3) Valtteri Bottas (77), AMG-Mercedes W08, supermacio, 1’19″310
4) Lewis Hamilton (44), AMG-Mercedes W08, ultramacio, 1’19″352
5) Felipe Massa (19), Williams FW40-Mercedes, ultramacio, 1’19″420
6) Max Verstappen (33), Red Bull RB13-Tag Heuer, supermacio, 1’19″438
7) Carlos Sainz Jr (55), Toro Rosso STR12-Renault, ultramacio, 1’19″837
8) Nico Hulkenberg (27), Renault RS17, ultramacio, 1’19″885
9) Daniel Ricciardo (3), Red Bull RB13-Tag Heuer, ultramacio, 1’19″900
10) Sergio Perez (11), Force India VJM10-Mercedes, ultramacio, 1’20″116
11) Estebán Ocón (31), Force India VJM10-Mercedes, ultramacio, 1’20″161
12) Jolyon Palmer (30), Renault RS17, ultramacio, 1’20″205
13) Lance Stroll (18), Williams FW40-Mercedes, macio, 1’20″335
14) Daniil Kvyat (26), Toro Rosso STR12-Renault, supermacio, 1’20″416
15) Kevin Magnussen (20), Haas VF17-Ferrari, ultramacio, 1’20″504
16) Romain Grosjean, (8), Haas VF17-Ferrari, ultramacio, 1’21″110
17) Stoffel Vandoorne (2), McLaren MCL32-Honda, ultramacio, 1’21″110
18) Fernando Alonso (14), McLaren MCL32-Honda, ultramacio, 1’21″389
19) Marcus Ericsson (9), Sauber C36-Ferrari, ultramacio, 1’21″670
20) Pascal Wehrlein (94), Sauber C36-Ferrari, ultramacio, 1’22″347
21) Antonio Giovinazzi (36), Sauber C36-Ferrari, ultramacio, 1’22″401
22) Alfonso Celis Jr (34), Force India VJM10-Mercedes, ultramacio, 1’23″568
WG