Nas duas últimas colunas fiz diferente, em vez de um só assunto contei-o fracionado, historietas que, pelo visto, tem agradado, pelo menos é isto que meus caros leitores escreveram em seus comentários.
Hoje vou contar mais duas, ambas curiosas e com final feliz.
Primeira historieta: O aeroporto
Nos anos 70, como o leitor sabe, eu era representante da Volkswagen do Brasil e incumbido de visitar as concessionárias do Paraná e Santa Catarina para lhes dar apoio na área do pós-vendas.
No caso da concessionária da cidade de Cascavel (PR), por lá ficava dois dias e no terceiro pela manhã seguia para Foz do Iguaçu passando pela entrada da cidade de Medianeira, onde ocorreu o fato contado em “Questão de sobrevivência” escrito em 14 de agosto do ano passado. Daquela cidade eu queria mais era distância!
Como todo representante de empresa, ficávamos — eu e representantes de outros fabricantes, até os que trabalhavam em laboratórios farmacêuticos — no mesmo hotel, mesmo porque as opções não eram muitas. Depois do jantar nos reuníamos na recepção para falar do dia a dia, dos problemas encontrados, das soluções dadas, etc. Naquela época não havia laptop, muito menos internet, e o que nos restava era contar as peripécias do dia, os clientes aborrecidos, os titulares das concessionárias falando mal dos fabricantes, isto era geral, podiam ser de carros, caminhões, tratores, eram todos farinha do mesmo saco.
Em dado momento, conversando na porta do hotel — fazia muito calor — ouvimos um ruído que parecia ser de um avião, pequeno, mas era um avião.
Ele sobrevoou a principal avenida, a Av. Brasil que tinha boa iluminação, balançou suas asas o que indicava uma possível emergência.
O gerente do hotel, que a todos nós conhecia, disse: “Ele está em perigo, está procurando o aeroporto para descer e, além de ele não saber onde fica, a pista não é iluminada. Convoco a todos que tem carro a me seguirem, vamos para o aeroporto iluminar a pista.” Pensei com meus botões, como assim, iluminar a pista?
Lá chegando, e sob a orientação do gerente do hotel, posicionamos nossos carros e de outros moradores que conheciam esta prática, lado a lado, uma linha de uns quinze carros de um lado, estacionados com uma distância de uns dois a três metros um do outro e lá do outro lado da pista — de terra — que não tinha mais do que um 50 metros de largura, com piso de terra, formou-se outra fila de carros (a foto é apenas ilustrativa).
Todos com os faróis acesos formaram um facho de luz suficiente para mostrar ao piloto o traçado da pista e onde ele deveria descer para sobreviver e não cair por pane seca ou pior, cair sobre uma casa.
O pouso foi emocionante. A aeronave, um monomotor de prefixo paraguaio, foi até o final da pista e quando foi iniciar a volta para estacionar próximo a um hangar, foi surpreendido, adivinhe por quem? Isso mesmo, pela Polícia Federal, que estava na época atrás contrabandistas de cigarros e toca-fitas K-7 — lembra-se delas?
Os ocupantes do avião, piloto e um passageiro, foram presos, a mercadoria, apreendida, e nós ainda recebemos um muito obrigado da polícia.
Voltamos ao hotel e até de madrugada, antes de dormirmos, o assunto não poderia ser outro.
Ficamos todos muito contentes por ter tido a oportunidade de auxiliar a polícia a prender aqueles contrabandistas.
Foi mais uma experiência que tive e que hoje — graças à internet — tenho a oportunidade de compartilhar com você, leitor ou leitora de AE.
Segunda historieta: Supercoragem e supermedo
Já faz um bom tempo, organizei um passeio de moto até o Aeródromo Municipal Alberto Bazaia, onde funciona o Aeroclube de Itu, naquela cidade do interior paulista.
Lá estavam se apresentando, em um show aéreo, Marta Lúcia, conhecida mundialmente por suas peripécias sobre a asa de um biplano (wing walking), este pilotado por seu companheiro, Pedrinho Mello.
Enquanto no solo, Marta e Pedrinho conversaram muito conosco e ficaram maravilhados com o brilho das nossas motos. Contamos histórias das nossas viagens, dos trabalhos sociais que costumávamos organizar e a conversa fluiu até o início do show.
Não é necessário falar muito sobre as loucuras praticadas pelo casal, as fotos e as matérias disponíveis na internet mostram do que são capazes de fazer.
Terminado o show aéreo, o casal juntou-se a nós e pediu para matar uma curiosidade: subir em uma das motos do grupo.
A escolhida, talvez por estar mais perto de onde estávamos, foi a minha BMW, que por acaso era também a maior delas.
Com cuidado (sem riscar o tanque!) subiram na moto que estava no cavalete central que permite um pequeno balanço da moto mas sem nenhum perigo. Assim que o casal se movimentou, a moto fez movimento de balanço sobre o cavalete central para se apoiar na roda traseira. Quem tem moto sabe do que estou falando.
A reação da Marta foi cômica, ela deu um grito, mas um grito mesmo e disse “Vamos cair!”.
Tanto eu quanto os amigos que nos rodeavam a tranquilizamos e dissemos que era assim mesmo, era apenas um balanço normal para trás até a roda traseira apoiar-se no no chão.
E é lógico que depois vieram as brincadeiras que foram bem recebidas pelo casal.
Você fica em pé na asa de um avião, o avião faz manobras e executa até um looping, desafia a morte a cada instante, confia no seu companheiro e acha que vai cair de uma moto parada?
Isto tem explicação? Ela resumidamente disse e tinha razão, “Cada um na sua”.
Uma coisa é verdade, ninguém, mas ninguém mesmo do nosso grupo teria coragem de subir naquele avião. Nada mais verdadeiro do que o “Cada um na sua”…
Aplaudimos o casal, parabenizamos os pelo show e lhes desejamos boa sorte.
Depois seguimos nosso roteiro e fomos almoçar, e o assunto, adivinhe qual foi.
RB