“O consumo do nosso carro é aquele que a gente quer”
Bob Sharp vive escrevendo isso em resposta a leitores que relatam ao AE suas proezas em termos de rendimento quilométrico com combustíveis de qualquer espécie. O que Bob quer dizer é simples: consumo depende de múltiplos fatores e a principal variável é o elemento que está atrás do volante, ou seja, nós.
Abro o relato da 2ª semana de avaliação do C3 equipado com o pão-duríssimo motor de 1,2 litro, reconhecidamente moderno e econômico, alertando que eu quis (!!!) que ele percorresse em média 7,4 km com um litro de nossa infame gasolina “batizada” com 27% de álcool.
“Só isso?”, pensarão muitos de vocês, ao que eu respondo: só não, TUDO isso. Fez sete e meio km/l enquanto o Fit da minha senhora (câmbio automático) fez – sempre com gasolina – 5 km/l nas mesmas condições de uso e, é claro, também “por que ela quis”. Sim, isso mesmo: ela e eu quisemos morar na região mais montanhosa da cidade de São Paulo, onde para ir a qualquer lugar é preciso encarar uma pirambeira, muitas vezes com o motor do carro frio.
Fora isso eu também “quis” respeitar os horários do dia a dia, indo buscar filho na escola na hora que todo mundo faz isso, indo à reunião marcada no fim do dia do outro lado da metrópole quando todos estão na rua ou indo à consulta médica bem no dia que caiu outro dilúvio universal em São Paulo, com as tradicionais consequências: alagamento, semáforos quebrados, gente dirigindo em pânico, se arrastando em ziguezague com medo do piso molhado.
“Quis” tudo isso, e também rodar a uma ridícula média horária de 15 km/h, e descobri que nem mesmo o excelente tricilindro francês resiste a tais desígnios. Diante de tudo isso fica fácil afirmar que qualquer um que não queira nada disso vai conseguir marcas bem melhores com o C3. Por exemplo, aposentados sem rotina que morem na plana Brasília, profissionais cujo trabalho os obrigue preferencialmente a circular em vias expressas ou rodovias, e assim por diante. Todos eles vão querer, e conseguir, marcas de consumo bem melhores.
Veredicto da semana? O C3 com motor PureTech é uma excelente arma para o dia a dia infernal em uma metrópole, e 7,4 km/l é marca que talvez só o irmão Peugeot 208 dotado do mesmo motor conseguisse repetir, ou possivelmente um VW up!.
Discursos do consumo feito, vou à outros fatos como, por exemplo o banco, que definitivamente poderia ser melhor tanto em conformação como no material de estofamento usado, que é firme demais. O assento é pequeno e o encosto impreciso na forma, que não combina com as costas (ao menos as minhas). Salvam um pouco amplas regulagens, mas mesmo assim a posição de condução se torna incômoda quando acontece (e aconteceu) de ficar mais de uma hora preso em um para e anda infernal.
Nesta triste situação, o fato dos comandos de pé serem macios assim como é o volante, cuja assistência elétrica da direção indexada à velocidade, ajuda. Diverte o bom sistema de áudio, e na hora que tudo para, ficar fuçando na tela tátil é distração. Como no 208, o C3 também é dotado do CarPlay para donos de smartphones Apple ou também o MirrorLink para os usuários de Android e outros. No sistema há também dados sobre o carro e outros triquetriques.
Voltando ao convívio desta semana de (congestionada) cidade na veia, importante citar que a alavanca de câmbio poderia ter um curso menor e um trambulador menos barulhento, mais “sequinho”. Falando em barulho, andando só em ruas mal pavimentadas — todas de São Paulo —, fora a fivela do cinto de segurança do passageiro que fica batendo no revestimento plástico da coluna B e chateia um montão, o que não é bom, pois mesmo já tendo passado dos 15 mil km rodados (o que em um carro de frota de imprensa representa o dobro e às vezes o triplo), o C3 não é ruidoso, pelo contrário.
Na visita ao posto de combustível, a revisão na pressão dos pneus me fez consultar a indicação do adesivo na coluna da porta, que recomenda 28 lb/pol² (psi em inglês) nos quatro para pouca carga, 32/36 lb/pol² para carga máxima e um 36/36 lb/pol² sob a palavra “consumo”. Em favor do conforto de marcha, refutei a recomendação mas restou a curiosidade: quanto tal indicação favoreceria o consumo? Talvez mais adiante fique sabendo.
Falando em pneus, os Pirelli P1 se confirmaram competentes em piso molhado, aliás até mais do que no piso seco, o que é coerente com a formulação ecológica de seu composto onde a sílica é protagonista reduzindo a resistência à rolagem, favorecendo desempenho na água e promovendo economia.
Infelizmente, a pesquisa do pneu sobressalente revelou o que já acontece no “irmão” 208: em vez de um estepe de medida igual à da rodagem (195/60R15V) há um paradoxal pneu de modelo diferente (Pirelli P7) e medida minimamente menor, 185/60R15H. Observando o raso berço que o abriga é fácil notar que o projeto do C3 originalmente previa o uso de roda sobressalente temporária, aquela fininha, descartado talvez por razão de economia — ao que sei um pneu temporário custa mais caro que um normal. Ressaltos nas laterais do porta-malas, com cinco ou seis centímetros de altura, onde se apoia a chapa que serve de fundo ao compartimento de bagagens, compensam o que sobra do 185/60 para além do plano de metal, ou seja, roubando profundidade ao porta-malas.
Apesar desse detalhe infeliz, o saldo do C3 no uso em ambiente metropolitano duro e puro é positivo. O pequeno Citroën é um carro ideal para a cidade: compacto, econômico, fácil de levar e dotado de itens especialmente positivos como, por exemplo, o sensor de distância instalado no para-choque traseiro e a boa visibilidade global. Estrela máxima é, porém, o motor, que levado como se deve, explorando a faixa entre 2 e 3,5 mil rpm, rende seu melhor. Um porém? Sim, há: nas saídas em vias íngremes o curso do acelerador, longo, exige manha para evitar que o motor apague caso não se faça uso do freio de estacionamento, mas apenas da rapidez em deixar o pedal do freio e acelerar.
Para a semana que entra, mais uso em cidade, talvez uma viagenzinha e provavelmente experimentar como se comporta o C3 quando se usa a tal calibragem alta nos pneus.
Uma Feliz Páscoa para todos.
RA
Leia o relatório anterior: 1ª semana
CITROËN C3 1,2 TENDANCE PURETECH
Dias: 14
Quilometragem total: 756 km
Distância na cidade: 366 km (48%)
Distância na estrada: 390 km (52%)
Consumo médio: 10,6 km/l (gasolina)
Melhor média: 17,2 km/l (gasolina)
Pior média: 7,4 km/l (gasolina)
Média horária: 26 km/h
Tempo ao volante: 29h05 minutos
FICHA TÉCNICA CITROËN C3 TENDANCE 1,2 PURETECH | |
MOTOR | |
Denominação | PureTech 1,2 |
Tipo de motor, instalação | Otto, arrefecido a líquido, transversal, flex |
Material do bloco/cabeçote | Alumínio |
Nº de cilindros e disposição | Três, em linha |
Diâmetro x curso (mm) | 75 x 90,34 |
Cilindrada (cm³) | 1.197,3 |
Comprimento da biela (mm) | 145,6 |
Relação r/l | 0,31 |
Taxa de compressão (:1) | 12,5 |
Nº de comandos/localização | Dois, cabeçote, variador de fase na admissão e escapamento |
Acionamento dos comandos | Correia dentada |
Válvulas por cilindro | Quatro |
Potência máxima (cv/rpm, G/A) | 84/ 90/5.750 |
Torque máximo (m·kgf/rpm, G/A) | 12,2/13/2.750 |
Rotação limite (rpm) | 6.500 (corte “sujo”) |
Formação de mistura | Injeção no duto |
SISTEMA ELÉTRICO | |
Tensão/bateria/alternador (V/A·h/A) | 12/60/120 |
TRANSMISSÃO | |
Rodas motrizes | Dianteiras |
Tipo | Transeixo manual de 5 marchas + ré |
Relações das marchas (:1) | 1ª 3,636; 2ª 1,950; 3ª 1,281; 4ª 0,975; 5ª 0,767; ré 3,330 |
Relação de diferencial (:1) | 4,692 |
Embreagem | Monodisco a seco, acionamento hidráulico |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora integrada ao eixo |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, eletroassistida indexada à velocidade |
Relação de direção | n.d. |
Diâmetro do volante (mm) | 370 |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 10,4 |
FREIOS | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco, 266 |
Traseiros (Ø mm) | Tambor, 203 |
Operação | Servoassistência a vácuo, EBD |
RODAS E PNEUS | |
Rodas (pol.) | Alumínio, 6Jx15 |
Pneus | 195/60R15V, de baixo atrito de rolamento, Pirelli P1 |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em aço, hatchback, 4 portas, 5 lugares, subchassi dianteiro |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente de arrasto (Cx) | 0,33 |
Área frontal (calculada, m²) | 2,07 |
Área frontal corrigida (m²) | 0,683 |
DIMENSÕES EXTERNAS (mm) | |
Comprimento | 3.944 |
Largura | 1.708 |
Altura | 1.521 |
Distância entre eixos | 2.460 |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.110 |
Rebocável sem freio/com freio | 411 |
CAPACIDADES (L) | |
Tanque de combustível | 55 |
Porta-malas | 300/com banco rebatido 1.000 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s, G/A) | 14,3/12,8 |
Velocidade máxima (km/h, G/A) | 171/177 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL (INMETRO/PBEV) | |
Cidade (km/l, G/A) | 14,8/10,6 |
Estrada (km/l. G/A) | 16,6/11,3 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 5ª (km/h) | 31,3 |
Rot. a 120 km/h em 5ª (rpm) | 3.830 |
Rot. à vel. máxima em 5ª (rpm) | 5.650 |
Alcance nas marchas (km/h, 6.500 rpm) | 1ª 43; 2ª 80; 3ª 121; 4ª 160 |