Muito se tem falado em segurança do trânsito nos últimos anos. O vilão escolhido por alguns é a velocidade, mas pouco se diz a respeito de outras medidas que deveriam ser adotadas, seja na forma da fiscalização, seja na mudança de comportamento do sociedade.
E é a este último que eu me refiro hoje. Nem tudo precisa ou deve ser regulamentado, imposto, fiscalizado ou multado. Há pequenas atitudes que cada um pode (ou deveria, na verdade) tomar e que em muitíssimo melhorariam a segurança.
Pedestres, por exemplo. Muito já discutimos aqui no AE sobre a questão dos atropelamentos nas marginais. A imprensa em geral acaba deixando de lado essas ocorrências em outras vias, sabe-se lá por quê. Nem vou entrar nessa questão, pois o fato é que não há por que haver pessoas a pé nesses lugares — assim como em muitos outros, diga-se de passagem. A única possibilidade de um contato, digamos, imediato de vários graus entre um veículo e um pedestre seria se o veículo invadisse a calçada, algo que rarissimamente acontece. E que fique claro que bicicleta também é considerada veículo e deve andar no asfalto, no leito carroçável, e não na calçada — exceto naqueles casos em que ciclofaixas foram pintadas nesses locais.
O exemplo de Brasília foi caso citado em verso e prosa durante muitos anos e, embora hoje não seja tão exemplo assim, ainda pedestre por aquelas paragens é bastante respeitado. Basta colocar o pé na faixa que a maioria dos veículos, na maioria dos casos, para. Em várias outras cidades, especialmente do Sul e Sudeste, essa boa norma de educação também é mais comum do que rara.
Mas também é fato que muitos pedestres passaram a achar que eles podem qualquer coisa. Como já exemplifiquei aqui em outras oportunidades, as imediações das avenidas Engenheiro Luís Carlos Berrini e Paulista são um show de horrores. Com frequência pedestre acha que por estar na faixa ele tem prioridade, ainda que no local haja semáforo específico para eles e ele esteja vermelhinho, indicando que naquele momento lhe é proibido — e não apenas recomendado — atravessar. A vez é dos veículos. Geralmente é um comportamento de manada – um começa e os outros vão atrás, muitas vezes sem nem olhar para o sinal.
Sou pedestre com muitíssima frequência, por gosto, por obrigação e por necessidade. Adoro carro, mas também sou uma caminhante inveterada — a pesar das calçadas, com as quais ainda sofro bastante. E canso de ver barbaridades cometidas por pessoas a pé.
Muitas vezes o pessoal abusa ou apenas mostra falta de bom senso. Costumo abastecer num posto de combustíveis perto de casa num local de enorme fluxo de pedestres pela proximidade com terminal de ônibus e metrô de superfície, além de lojas diversas. Gosto do posto, do atendimento e da qualidade do combustível. Mas às vezes é uma tortura entrar e sair do local.
Quando eu mesma estou a pé por lá, faço questão de passar atrás dos carros que estão tentando sair do local e muitas vezes dou passagem para o carro — se não vem outro veículo pela super ocupada avenida não me custa nada esperar uns segundos e para o veículo é uma diferença enorme, pois pode ficar mais de cinco minutos esperando uma nova oportunidade. Pena que quando eu estou atrás do volante não encontro a mesma boa vontade… É como eu digo para meu marido com alguma frequência: como eu gostaria de ser casada comigo mesma ;-).
Outra coisa que me tira do sério é o descuido de mães e babás com crianças pequenas, especialmente nas imediações de parques e praças. Quando meu sobrinho era pequeno aprendi com minha irmã a atravessar eu primeiro e o carrinho da criança depois. No entanto, é comum ver que as pessoas empurram o carrinho na frente para atravessar a rua. Mas, como assim? Especialmente quando não há sinal para pedestres, apenas faixa e, ainda mais, numa esquina. E às vezes nem isso, é no meio do quarteirão, mesmo. Elas esperam que o bebê avise que está vindo um carro? Nananinanão.
Essa responsabilidade cabe ao adulto e é ele que tem que correr o risco de ir na frente, não o bebê. Assim mesmo em caso de um possível acidente, o veículo tem chance de parar e poupar a criança. Afinal de contas, é atribuição dos pais (ou responsáveis) zelar pelas crianças, que são, elas sim, indefesas. Para isso não há necessidade de lei. É questão de bom senso. A mesma coisa quando se empurra uma cadeira de rodas. Mas, por óbvio, não é para puxar de costas para a rua, não. É para fazer isso de frente para a rua e de costas para o cadeirante ou o bebê — só para ficar claro.
Óbvio que não é mais fácil, pelo contrário. Até em termos de Física é mais fácil empurrar do que puxar, mas é mais seguro quem tem condições de avaliar a segurança da travessia ir na frente. E, em caso de extrema nobreza, ir para o sacrifício no lugar dos desvalidos. Dramatizando um pouco (ou um muito), sabe aquela do agente do serviço secreto que pula na frente do presidente para receber a bala e salvar o outro? É bem isso.
Isso não está no Código de Trânsito Brasileiro — nem precisa estar. Assim como não consta do Manual de Bons Pais, que nem existe, mas pode muito bem fazer parte de um virtual Manual de Bom Senso.
A mesma coisa se aplica à travessia de ciclistas. Canso de ver placas que dizem “Ciclista, atravesse desmontado” (foto ao lado), com direito a desenhinho e tudo, mas muitos insistem em não descer da bicicleta mesmo quando a ciclovia não é constante — já que nesse caso permitiria que não se parasse. O objetivo não é interromper o percurso apenas porque sim. Nem faria sentido, pois quem se desloca de bicicleta numa cidade não deveria fazer da velocidade em chegar a outro ponto seu primeiro objetivo. Há outros motivos para pedalar e não são os segundos que se aumentam ao atravessar uma rua levando a bicicleta pela mão que farão tanta diferença assim. O risco óbvio é o ciclista cair enquanto atravessa ou, ainda, atropelar um pedestre. No trânsito sempre se protege o mais frágil daquele que o segue. A ordem é pedestre, ciclista, motociclista, motorista de carro de passeio, motorista de ônibus/caminhão.
Por falar nisso, como meus caros leitores sabem, meus pais sempre aproveitavam qualquer oportunidade para nos ensinar alguma coisa. Ainda que fôssemos levar décadas para aplicar esse conhecimento. Eu aprendi quando era realmente pequena que ao passar de carro perto de um ciclista ou motociclista devemos manter distância suficiente para o sujeito cair e nós não passarmos por cima dele. É óbvio que eles nunca imaginaram que eu viria a morar em São Paulo e que os motoqueiros fossem fazer as barbaridades que fazem – aliás, nem atualmente pessoas que moram em outros países entendem as coisas que acontecem aqui sobre duas rodas. Mas, enfim, o ensinamento permanece e faço de tudo para cumprir isso. Textualmente, meu pai, que assim como minha mãe teve moto durante muitos anos, dizia que eu sempre deveria pensar que o motociclista ia cair e assim cabia a mim tentar evitar. O mesmo se aplica aos ciclistas, coisa que meu pai e meu avô eram, como bons italianos.
De novo, as normas do CTB estipulam normas e leis para todos os que estão envolvidos no trânsito de alguma maneira e não apenas quem está atrás do volante. Mas certamente podemos fazer mais e adotar outras atitudes que em muito melhoram a fluidez do trânsito e podem reduzir o risco de acidentes.
Mudando de assunto: estas corridas de Fórmula 1 de madrugada acabam comigo. Não consigo esperar pelo VT e minhas olheiras dizem tudo. Ainda acho que faltam ultrapassagens – culpa dos carros mais rápidos, mais baixos e com pneus mais largos e nos quais a abertura da asa móvel não faz tanta diferença — mas, claro, o Max Verstappen nem toma conhecimento dessa “dificuldade”. O moleque é um show à parte nesse sentido. Ainda falta experiência e consistência, mas vê-lo dirigindo é emoção na certa. Ando brigando muito com a televisão e as transmissões. Adoro o Ricciardo e o Räikkönen e gosto do Vettel, mas ficar vendo os três por sei lá quantas voltas seguidas me pareceu um pouco demais. E deixamos de ver outras manobras que devem ter sido bem interessantes. Adorei a ultrapassagem do Sainz sobre o Alonso, cujos méritos reconheço, mas para mim o destaque da corrida foi o Verstappen e não o espanhol, como alguns avaliaram. Mas sempre digo que tem os pilotos dos quais gosto e tem aqueles que são excelentes. Uma coisa não obriga a outra. Reconheço os méritos e o enorme talento do Alonso, mas não está entre os meus cinco favoritos. É como o James Hunt ou o Gilles Villeneuve, dois dos meus eternos ídolos. Tinha gente melhor naquela época? Sim, mas gosto mais deles. Questão de estilo, não de estatísticas ou resultados. Por isso que eu sou fã de Fórmula 1. Fã não precisa justificar preferências, né?
NG