Como vocês sabem, dirigir e viajar são duas paixões da minha vida — além do marido, da família, da profissão, etc, etc, e, embora não tenha guiado carro nesta segunda parte da minha mais recente viagem, tenho várias experiências para comentar com meus caros leitores.
Resolvemos não alugar carro por questões logísticas. Um país pouco menor do que o Brasil (7,7 milhão de quilômetros quadrados e 8,5 milhões de km², respectivamente) e relativamente pouco tempo… A Noratur optou por limitar a viagem a três cidades e ir de uma a outra de avião, com alguns deslocamentos de carro em volta desses três destinos, porém, com motorista. Foi uma boa escolha, pois o avião leva duas horas para ir de Sydney a Cairns e o mesmo de lá para Melbourne. Assim, do pouco que conhecemos daquele lindo país, preferimos fazê-lo a fundo.
A primeira coisa que chama a atenção, claro, é dirigir na mão inglesa. Mas isso eu já sabia e já tinha experiência. Como sempre digo, o problema nem é manter-se do lado esquerdo ou ultrapassar, mas sim fazer baliza e, para mim, entrar numa rotatória se não tiver alguma referência como um carro à frente. Mas esse assunto é para a próxima semana, quando falarei da Nova Zelândia.
As estradas no geral são muito boas e os motoristas muito civilizados. Assustam somente aqueles mega, híper, super, uber caminhões que só tem na Austrália e que medem um zilhão de metros, os road trains, autênticos trens rodoviários. Se eu estivesse dirigindo e encontrasse um desses numa estrada acho que o comboiaria até seu destino final ainda que tivesse de atravessar o país inteiro. Eu? Ultrapassar um bicho desses? Nananinanão!
Nas cidades a sinalização é simplesmente perfeita. Em Cairns e Melbourne, por exemplo, chama a atenção a pintura nos cruzamentos para que os carros mantenham o raio na hora da conversão (foto de abertura). E quando digo chama a atenção não é pela marcação no chão, mas porque a curva é perfeitamente bem traçada. Ou alguém já imaginou como seria a linha para indicar uma conversão aqui no Brasil?
Estacionar também é muito fácil, com vagas demarcadas na rua com bastante folga, assim como nos estacionamentos. Dá para abrir as portas sem ter de andar num batmóvel, com porta que abre para o alto. E tem os velhos e bons parquímetros — nada de obrigar ninguém a ter espertofone com conexão de internet, como em São Paulo.
As velocidades nas estradas são muitíssimo razoáveis — geralmente 100 ou 120 km/h ainda que não tenham lá tantas faixas — o máximo que vimos foi três em cada sentido, mas a maioria era de duas ou mesmo uma. O asfalto é de boa qualidade, os carros têm boa manutenção. Em fim, como deveria ser sempre. O maior problema são os animais selvagens — senão, daria tranquilamente para andar mais rápido do que isso. Mas sim, a imagem bucólica do canguru cruzando a estrada é verdadeira. No nosso caso, mais wallabies do que cangurus, mas a diferença está apenas no tamanho. Na verdade, tem mais de 20 tipos dos dois animais e num comportamento estranho, confesso que dei de comer diretamente na boca a alguns num parque, com comida comprada especialmente para isso e fiz carinho em vários outros apenas dois dias depois de ter jantado filé de canguru. E é excelente. É só não lembrar do bichinho fofinho que não tem problema. Mas me deu dor no coração.
Como todos os animais na Austrália são estranhos, cruzam o asfalto coelhos selvagens, uma espécie de gambazinho (“possum”) muito bonito mas que é praga, e cobras de todo tipo. Não é raro ver algum atropelado, apesar das cercas. Dizem que duro é quando um coala ou um preguiça resolve fazer isso porque pode levar uma eternidade até chegar do outro lado. Bons reflexos e visão de longo alcance (e lateral) são fundamentais para dirigir. Engraçado foi ver no centro de Sydney um tipo de garça atravessando a rua — pela faixa, diga-se de passagem.
Vi poucas motos e a maioria de alta potência e nas estradas. Mas Melbourne e Sydney têm congestionamentos que para eles são um problema e lá vi algumas motos e scooters. Como paulistana dei risada do trânsito por lá, mas quem mora fora de Sydney e tem de trabalhar lá enfrenta alguns perrengues — mas não abre mão do carro. Tanto que em janeiro de 2016 as autoridades locais contavam 18,4 milhões de veículos, incluindo ônibus, caminhões, trailers, caminhonetes, etc. Desse total, 75% (ou 12,26 milhões) são carros de passeio. Para uma população total de 24 milhões, é uma proporção bem alta, não? Especialmente se considerarmos que pelas características do país muitos usam caminhonetes (picapes).
A maioria dos veículos leva apenas uma pessoa e, embora haja muitas bicicletas, elas são usadas só para pequenos deslocamentos dentro da cidade. Poucas ciclovias, mas muito respeito de parte a parte. Ora eles andam pela calçada, ora pela rua, sempre com luzes na frente e atrás da magrela, roupa fosforescente e luz no capacete (adiante e atrás).
Andei bastante de bonde e ônibus em Melbourne, que funciona muito bem. Inclusive numa área restrita, como um microcentro, ele é grátis. O sistema de bilhete único deles é bastante confuso e nem quem mora lá sabe quando você tem que validar seu bilhete quando desce. Na subida fora do perímetro grátis, sim, mas ao descer nem um brasileiro que mora lá e que nós conhecemos soube explicar, pois depende se você subiu na área grátis, se você vai usar o bilhete nas duas horas seguintes… É tanta variável que apesar de ter lido os folhetos (até os trouxe e nem agora consigo entender claramente como fazer) na dúvida, fazia como a maioria fazia. Mas é facílimo carregar o cartão em diversos lugares e em todos os Seven Eleven.
Nos pontos na rua está informado o horário em que cada linha passa no lugar – e funciona! E algo assim como 11h07. Se você chegar às 11h10, perdeu. Tem também placas de LED com informações em tempo real que lembram que o próximo bonde 54 chega em 3 minutos, dentro do veículo avisam que no ponto seguinte pode-se fazer conexão com as linhas tais e tais. E ainda assim as pessoas andam muitíssimo de carro.
Apenas para manter a coerência e comparar maçãs com maçãs, na Austrália houve 5,3 mortes por 100.000 habitantes em 2016, confirmando uma tendência iniciada em 1988, quando foram registradas 17,5 mortes no trânsito por 100.000 habitantes. Ainda abaixo dos 22,23 do recorde de 1980 – abaixo, ainda, dos 23,4 registrados no Brasil em 2015.
Todos os sinais semafóricos têm o dedicado a pedestres, que deve ser acionado quando se quer atravessar. Ao apertar o botão, acende-se a luz vermelha para o pedestre (senão ela permanece apagada) e em pouco tempo muda para verde — respeitada por todos os motoristas. Enquanto estive naquele país não vi ninguém forçando a travessia mas também vi pouquíssimos pedestres atravessarem a rua com o farol fechado — ainda assim, quando não vinha nenhum carro em quarteirões. Aliás, até gravei o som que o sinal faz quando o pedestre — cego — pode atravessar. Já sinto falta daquele barulhinho!
Quanto às velocidades, novamente nada absurdo como se vê no Brasil. Em pleno centro de Sydney, no Darling Harbour onde fiquei hospedada, a velocidade máxima era 50 km/h. E também no centro de Melbourne a velocidade máxima em várias ruas era de 60 km/h.
Curiosamente, embora a Austrália faça parte da Commonwealth, a comunidade britânica de nações, distâncias e velocidades são expressas pelo sistema métrico.
Mas, como sempre, trânsito seguro tem pouquíssimo a ver com velocidade. É questão de projeto, sinalização, bons motoristas e, claro, carros com boa manutenção. Outra coisa que me chamou a atenção, também em Melbourne em volta do Albert Park, foi a sinalização de estreitamento ou alargamento de pistas é perfeita. O mesmo se repete em outros lugares da cidade. Nada de espremer veículos ou jogá-los em cima uns dos outros. Previsibilidade é fator fundamental para a segurança no trânsito.
Mudando de assunto: nesta viagem conheci mais dois circuitos de Fórmula 1. Estive no de Abu Dhabi (meu hotel estava exatamente DENTRO do circuito e a vista do quarto era exatamente a pista, eba!) e o de Melbourne, em Albert Park. Mais dois cliques na minha lista de circuitos!
NG