Como acontece com alguma frequência, eu ia abordar outro assunto, mas a minha indignação e novos fatos me fizeram mudar de assunto. Não costumo fazer comentários em redes sociais, basicamente porque acredito que precisamos de tempo e de mais informações para emitir opiniões antes de dar pitacos e o que mais vejo é gente que fala de qualquer coisa a todo momento instantes depois de qualquer coisa.
Não me sinto no direito de palpitar sobre o resultado de um jogo de polo aquático simplesmente porque não entendo nada sobre esse esporte, assim como não darei minha opinião sobre física quântica. No entanto, o que mais vejo é gente que também não entende nada sobre esses dois assuntos dando palpite minutos depois de um jogo ou de uma descoberta nesse campo.
Trabalhei durante muitos anos em jornais diários e o que mais nos pressionava era o tempo. A notícia tinha que sair naquele dia ou não interessava. Mas isso nunca foi desculpa para não apurar tudo corretamente, de forma responsável e completa. Todos os aspectos deviam ser levados em consideração. Não podíamos deixar nada de fora.
Nem vou mencionar aqui a instantaneidade das coisas nas mídias sociais, pois isso já foi fartamente abordado por todos, e não quero que isso sirva de desculpa para nada. Mas a questão dos atropelamentos de skatistas em São Paulo no dia 25 de junho é vergonhosa.
Vamos ao fato: um carro atropelou skatistas que andavam pela rua Augusta, normalmente uma via para carros, que naquele dia seria fechada para um passeio da categoria — basicamente, desceriam a rua desde a av. Paulista até o centro da cidade.
Com vídeos de alguns segundos que mostram imagens parciais saiu um monte de gente criticando o motorista, chamando-o de assassino, coxinha e pedindo a prisão dele. Quando ele se apresentou à polícia, muitos indignados questionaram por que fora liberado — ora, porque a lei assim o diz. Se você não concorda, é seu direito, mas brigue para que ela seja mudada. Delegado de polícia deve cumpri-la.
Vários culparam o prefeito da cidade pelo seu slogan “Acelera São Paulo” durante a campanha eleitoral, no longínquo meio do ano passado. Hããã? Obviamente, uma forçação de barra para atrelar qualquer acidente à administração municipal atual, como se na anterior não acontecessem atropelamentos — ou como se na rua Augusta a velocidade tivesse aumentado entre uma gestão e outra. Não, não aumentou, como em nenhuma outra via da cidade exceto em parte das marginais – e nem em toda a extensão delas. Pura ideologia.
No cyberespaço, vários apressados falaram em excesso de velocidade (da parte do carro, é claro), embora nada disso estivesse provado e nem pareça ser o caso. Horas depois, começaram a aparecer outras imagens onde se vê claramente que outros veículos também transitavam pela mesma rua ao mesmo tempo, inclusive ônibus municipais, pelo simples motivo de que o evento deveria começar às 10h30 e eram por volta das 9h40. A interdição complete começaria mais tarde — logo, o trânsito ainda poderia passar pelo local e os cones, barreiras e fitas ainda não haviam sido todos colocados.
Aliás, o mesmo carro é covarde e gratuitamente agredido por um skatetista quando está parado atrás de outros veículos antes de qualquer incidente. Detalhe: ele está regularmente na via, ao contrário do skatista que não poderia estar no leito carroçável. E vários outros continuaram jogando skates no veículo conforme ele avança, que ficou totalmente destruído.
Nem vou mencionar que havia uma senhora idosa dentro do carro e que ficou ferida e mais um adulto, pois acho que ninguém merece passar por isso, seja homem, mulher, criança ou adulto. Mas apenas para dizer como testemunha não serve para rigorosamente nada. Vários skatistas e lojistas disseram que havia uma criança dentro do carro. Uns diziam que o motorista seguia em linha reta outros que ia em ziguezague.
Pelos vídeos, um pouco de cada coisa, pois durante uma boa parte do percurso um skatista se segurou na frente do para-brisas, encobrindo a visão do motorista.
No Brasil há uma tendência ao coitadismo. Recentemente, uma secretária municipal disse que entre ficar do lado do governo e do lado das minorias, ficaria sempre do lado das minorias. Juro que não entendi. Eu ficaria, sim, do lado das minorias se elas tivessem razão. É como ficar do lado de uma criança de três anos que faz birra apenas porque é minoria e não do lado dos pais que a estão educando. Ou optar por ficar do lado de assassinos (que ainda são minoria) e não do lado da lei.
Por que ficar do lado de um grupo de skatistas que recebeu um benefício de andar na rua (apesar de poder fazer isso nas inúmeras ciclofaixas, na avenida Paulista e nas outras que estavam fechadas naquele mesmo dia) durante um determinado período e teima em fazer isso fora do horário? Se eles saíssem andando no Rio, pela Av. Brasil, ou pelo Eixo Monumental em Brasília em horário normal, os acidentes que provocassem seriam culpa dos carros?
Ah, sempre os carros, esses demônios! Quando é que essas pessoas vão parar de ver fantasmas? Carro é carro. Demônio é demônio. Dá para não misturar? Parece que assistiram o filme “Christine” e não entenderam que é um filme de ficção. Me poupem…
E também acham que qualquer acidente é culpa da velocidade. Já saíram dizendo que esses atropelamentos foram porque o motorista do carro andava em alta velocidade. Ora, não parecia ser o caso, até porque a Augusta é uma via relativamente estreita, subida íngreme e com tanta gente dificilmente poderia fazer isso. Mas, vá lá. Só vendo o tacógrafo. Não sou eu quem dará palpite sem embasamento. Já tem gente demais fazendo isso.
A Prefeitura disse que multará os organizadores que iniciaram a descida antes da hora marcada. Nada mais justo. Regras devem ser cumpridas por todos. Imaginem se a municipalidade não tivesse bloqueado as ruas no horário combinado? Não seria responsabilizada? O mesmo vale para o outro lado. Vamos parar de ser reféns de grupos que querem “ocupar” isto e aquilo. Ou que alegam que “a rua é nossa”. Não, a rua é de todos, e com horários e regras todos podemos usá-las.
Mudando de assunto: a corrida do Azerbaijão teve absolutamente de tudo. Superemocionante, pódio supermerecido. Bela corrida do Bottas, do sempre bom Ricciardo e grande surpresa do promissor Stroll — que ficou feliz como se tivesse ganho. Lindíssima manobra do Magnussen que, confesso, nunca havia visto fazer algo memorável — geralmente nem lembro dele, nem para bem, nem para mal. Não gostei da freada do Hamilton apenas para prejudicar o Vettel na relargada, mas também não gostei do troco que o alemão deu. Pessoalmente, sou mais favorável a resolver as coisas no estilo Piquet-Salazar: uns cascudos fora da pista teriam sido mais divertidos. E antes que me acusem de algo, liguei meu modo irônico, tá?
NG