Como vocês sabem, sugestão de leitor para mim é ordem. E, atendendo ao pedido do “Fat Jack” vou contar um pouco das minhas percepções quanto às diferenças entre veículos no Brasil e nos países onde estive recentemente.
Sempre estou atenta a isso — por puro gosto, diga-se de passagem. Tanto que tirei algumas fotos aleatoriamente embora a maioria dos meus registros seja de natureza no estilo cartão postal. Tenho tentado sair em algumas fotos, mas o fato de ser pequena não ajuda. Selfie com meu bracinho? Nem por acaso. Nem eu mesma saio na foto. E aí dependo totalmente do marido. Logo, algumas fotos com gente e muitas estilo “momento Kodak”. Vamos, então, ao tema carros.
Em Dubai e Abu Dhabi, onde o combustível é muito barato, as ruas e estradas são excelentes e o poder de compra é bem elevado, vi muitos menos suves do que no Brasil. Muitos sedãs, isso sim (foto de abertura). O que me chamou a atenção é que estamos falando de deserto. Os que vi eram verdadeiros suves e jipões, tipo 4×4, não carrinhos altos com estepe na traseira. Mas também muitos sedãs, o que me surpreendeu. Às vezes temos a tendência de que lá fora é como aqui — só que não.
Mas, claro, falo aqui de percepções. Pelos números oficiais há um carro registrado para cada dois habitantes, mas com taxas de mais de 8% de crescimento ao ano (muito acima do crescimento da população) o número tende a empatar rapidamente. Os cidadãos de Dubai reclamam que já passam 1h45 por dia no carro entre ir e voltar do trabalho. Para mim, que moro em São Paulo, isso parece um sonho. Quem me dera! E ainda faço a ressalva que isso leva em conta também aqueles que moram nos emirados vizinhos e que frequentemente moram num e trabalham em outro.
Vi veículos com filme nos vidros, mas como já disse aqui, nenhum, absolutamente nenhum, com isso no para-brisa — algo que considero deveria ser punido com uma sessão de cócegas na sola dos pés durante três meses intermitentemente – para não falar em algo mais sério, já que estou de ótimo humor. Ainda assim, diria que menos do que em São Paulo. E olha que as temperaturas oscilam entre a mínima de 14 ºC no inverno a 41 ºC no verão, mas com picos que chegam aos 50 ºC. Claro que ninguém anda com o vidro aberto. Ar-condicionado direto, inclusive nos pontos de ônibus e de metrô, que lá é de superfície. Por sinal, nas montanhas-russas de Abu Dhabi a cada vez que o carrinho saía do parque da Ferrari (que é fechado), sentia-se o calor quase insuportável. Me lembrei do vento Zonda, que sopra na Argentina na região de San Juan e Mendoza e que de tão quente é usado para secar uvas e fazer uva-passa. Igualzinho.
As marcas de carros nos Emirados também chamam a atenção. Toyota domina a paisagem largamente. E não é apenas uma impressão que tive. Pesquisei e descobri que ela tem grande parte do mercado. Os últimos números que achei em inglês são de 2014. Talvez tenha algo em árabe mais atualizado mas está fora dos meus conhecimento. Naquele ano, a Toyota tinha 41,9 % do mercado automobilístico nos Emirados Árabes Unidos, seguida pela Nissan, com 19% e depois Mitsubishi (7,8%), Hyundai (7,1%), Ford (5,3%), Kia (4,8%) e outras marcas ficam com o restante.
Aliás, o mesmo aconteceu na Austrália e na Nova Zelândia — até mais notável. Muito suve, mas ainda muito sedã e especialmente japonês. O que não era Toyota era Nissan — mas com larguíssima margem para a primeira marca. Aliás, a invasão nipônica é tão notável que a Holden (GM australiana) anunciou que em outubro deste ano fechará suas fábricas na Austrália justamente pela incrível perda de mercado para os carros japoneses. Ainda assim, vi muita propaganda deles na televisão e vários rodando — inclusive em locadoras. Aliás, algumas parecem trabalhar quase exclusivamente com a marca. A Holden fez bastante sucesso por lá, mas não sobreviveu aos japoneses.
Na Austrália, a Toyota Hilux foi o veiculo mais vendido em 2016 seguido do Corolla. Os suves responderam pelas vendas de 37,4% do total de veículos, acima dos 35,4% de 2015. Em termos de fabricante, em 2016 a Toyota tinha a liderança do mercado, com 17,8% das vendas, seguido da Mazda, com 10%, Hyundai (8,65%), Holden (8%), e Ford (6,9%). Mas o mercado é bem competitivo, pois lá há mais de 400 modelos para escolher.
Nós mesmos havíamos alugado carro tipo suve e na ilha Sul da Nova Zelândia nos deram um RAV4 (Toyota). Como a maioria das locadoras não permite que se atravesse com o carro o Estreito de Cook, que divide as duas ilhas do país, devolvemos o RAV4 em Picton, cruzamos num ferry até Wellington e aí pegamos o outro carro — que era um Captiva, justamente da Holden. Detalhe: a travessia só pode ser feita de ferry boat ou avião pois não há pontes ou túneis entre as duas ilhas. E, por óbvio, resolvemos não nadar os mais de 20 quilômetros que separam as duas ilhas. Não disse que hoje estou engraçadinha?
Na Austrália e na Nova Zelândia praticamente não vi carros com filme nos vidros. Só não digo nenhum porque não aposto nisso, mas quase. Os dois países estão, respectivamente, nos paralelos 26 sul (o meio do país) e 36 sul (na altura da ilha Norte), portanto, mais ou menos na mesma localização no globo que os estados do Paraná e Santa Catarina e Mendoza, na Argentina. Na Austrália as temperaturas variam de alguns graus abaixo de zero até 50 ºC. Na Nova Zelândia, de abaixo de zero a quase 40 ºC. ou seja, para quem alega que filme é bom por causa do sol… sei não… será que eles são imunes aos raios solares?
E aí um parêntese: tem coisas que só acontecem no Brasil. O elevadíssimo número de cesáreas é geralmente justificado porque o bebê estava enroscado no cordão umbilical. Ué? Só bebê brasileiro é que se enrosca? Ou o cordão das mães de outros países é mais esperto e foge do pescoço da criança? A mesma coisa quanto a dizer que o bebê estava virado. Será por causa dos ritmos tropicais? Samba faz a criança ficar de cabeça para cima na barriga da mãe? Claro que não. É supercomum criança não virar, mas aí o médico tem de ter habilidade para fazer uma manobra relativamente simples e virar o bebê. A mesma coisa com o filme nas janelas dos carros. Parece que o sol aqui é mais forte do que em países no mesmo paralelo… Claro que tem os que falam em segurança, mas ainda não entendo no que melhora a segurança colocar filme nas quatro janelas e no vidro posterior. Ladrão não olha pelo para-brisa? E para aqueles que colocam filme no vidro da frente… pelourinho neles! É um perigo para eles mesmos e para os outros.
Mas voltando ao assunto dos carros do outro lado do mundo. Sim, também por lá os motoristas parecem preferir carros brancos e prata. Diria que mais de 50% nos dois países e dois emirados em que estive são dessas duas cores — provavelmente mais ainda brancos. Mas também encontrei muitos carros de cores um pouco mais diferentes do que as daqui – especialmente um laranja meio ferrugem, muitos vermelhos e azuis. Nem tanto nos Emirados Árabes, onde a maioria era branco mesmo, mas na Nova Zelândia é bem mais comum.
De uma forma geral, como meus destinos foram de países com bastante liberdade comercial, vê-se que há mais opções de modelos. No Brasil, seja pela retração de mercado ou pelo fato de as compras serem feitas na maioria das vezes em função do valor de revenda, temos menos modelos. E uma coisa acaba levando a outra. Como no caso das cores. Como as que mais vendem são branco, prata e preto, as fábricas dão prioridade a essas cores. Aí quem vai comprar um carro e não quer (ou não pode esperar), sai com um veículo branco, prata ou preto. E caímos naquele círculo tipo biscoito Tostines. Vende mais porque está sempre fresquinho ou está sempre fresquinho porque vende mais?
Mudando de assunto: Li que em 2016 foram autuados em média 363 motoristas por disputar racha. Em todo o Brasil. Acho que não há muito interesse em punir quem faz isso, pois basta passar alguns dias na av. das Nações Unidas na zona sul de São Paulo para autuar talvez um 25% desse total. E sei que isso se repete no país todo. Infelizmente.
NG