Dizer que sou autoentusiasta é pleonasmo. É claro que sou. Senão, não estaria aqui há dois anos escrevendo semanalmente. Como todo gosto, não há motivo especial para isso. Por que gosto de carros? Sei lá. Porque sim. Da mesma forma porque gosto de viajar, da cor rosé, dos filmes Ruas de Fogo e Invictus. E isso é o legal de gostar de algo. Não precisa explicar e não há uma razão em especial. Às vezes nossos gostos vão até contra a razão.
Recentemente vi no Facebook uma foto de um conhecido ao lado de duas supermodelos brasileiras lindíssimas, e de uma mulher que eu não identifiquei. A legenda dizia algo assim como “Eu, ao lado de Fulana e Sicrana e minha mulher, a mais linda das três”. Adorei. Precisa explicar? Claro que não. Gosto é gosto. Meu marido gosta de mim. Se sou mais bonita do que a Michelle Pfeiffer, que ele adora? Claro que não. Mas ele gosta é de mim. Bom, pelo menos ele jura isso…
Quem não se apaixonou por um carro como o da foto acima, o “Herbie”?
E por que conto tudo isto? Porque não sei se minha seguradora não me conhece ou, mais provável em tempos difíceis como os atuais, joga rede para todo lado para ver se pega algum peixe. E me mandou uma proposta relativamente parecida com um leasing – mas preciso ir mais a fundo para ter certeza. Mas, no geral, parece, sim, um leasing.
Eles me oferecem um carro pelo qual eu pagaria uma entrada razoavelmente grande e um determinado valor mensal e, ao final de um ou dois anos, teria a opção de comprá-lo ou trocá-lo por outro. Durante todo esse período o valor mensal incluiria seguro, o “aluguel” em si, todos os serviços de manutenção necessários, reparos, IPVA, despachante, etc.
Confesso que não fui atrás dos detalhes e apenas olhei sem grande profundidade as informações de me enviaram — bastante detalhadas, por sinal. Apenas porque neste momento não pretendo mexer com isso. Como diz um amigo meu referindo-se à TV a cabo, tenho por hábito não alterar nada que esteja funcionando minimamente bem porque senão é uma dor de cabeça para que volte àquele mínimo. Esse é o caso dos carros de casa, com os quais não temos nenhum problema.
Talvez esta modalidade seja interessante do ponto de vista financeiro e talvez em determinado momento econômico valha a pena. Assim como James Bond, nunca digo nunca. Mas há coisas que não são totalmente baseadas na lógica. É um pouco como casa com piscina. É economicamente interessante? Na maior parte dos casos, não. Pelo que se gasta em produtos de manutenção, energia elétrica para filtragem, tempo para peneirar a superfície, etc, etc, etc em relação a quanto se usa, na maior parte dos casos a relação custo-benefício é negativa. Mas quem põe preço naqueles finais de semana ou feriados com a família reunida, as crianças brincando na água, ou apenas uma noite de lua cheia e ficar boiando na água, contemplando as estrelas? Ainda que sejam, sei lá, 40 dias por ano, é como aquele cartão de crédito: não tem preço.
A mesma coisa com carro, para quem gosta. Compensa ter um e usá-lo apenas no final de semana para viajar com a família, e andar de transporte coletivo, bicicleta ou moto (muitas vezes por necessidade) durante a semana? Novamente, para quem gosta, sim. Quem tem moto pensa assim também, ainda que a use somente algumas vezes por ano para esporádicas viagens ou feriados somente para fazer um bate-e-volta a lugar nenhum, apenas pelo prazer de dirigir.
Com casamento e filho é a mesma coisa. E nem se avalia se dão muito trabalho ou não. Nem quanto custam (e aí vale tanto para descendentes quanto companheiros). Nossos cônjuges são os mais lindos do mundo – para nós. E filhos? Quem já não ficou sem graça quando alguém apontou o próprio rebento e disse ”não é lindo?”. Eu já. Vi cada coisa… Um especialmente me deixou sem fala de tão feio. Mas os pais achavam uma fofura.
Meu marido pagou um mico espetacular. Uma vez, um amigo ia nos apresentar a nova namorada. Eleganentemente, os convidamos para jantar em casa. Na hora combinada, o porteiro interfonou e ele foi recebê-los. Mas ficou lá, parado, com a porta aberta por sei lá quanto tempo. Eu, como boa paulistana neurótica, pensei logo em assalto e sai correndo da cozinha para fazer Deus sabe o quê. Dei de cara com o amigo e uma moça deveras feia. Sem entender, os convidei para entrar. Passamos uma noite muito agradável e quando eles foram embora, meu marido me contou que ele ficou paralisado pensando: Meu Deus, vou ter que dar um beijo “nisto”!
No caso do carro, gosto do meu. Confesso que tenho ciúmes dele, mesmo quando o troco com meu marido — o que acontece com alguma frequencia, especialmente devido ao rodizio. Se ele o dirige mas eu estou junto, menos, embora eu dê alguns palpites. Poucos, é verdade, mas ainda assim quando estamos no carro dele nem abro a boca e no meu ainda digo algo. Sempre alego “ah, mas você não conhece essa manha…”. É por isso que odeio deixá-lo com manobrista e só faço isso em último caso.
Não sei como seria ter um carro que sei seria provisório — ainda que com a possibilidade de comprá-lo no final. Me parece uma adoção provisória, sei lá. Ia ficar dividida entre criar laços afetivos e depois sofrer com a perda? Às vezes fico muito tempo com meus carros, às vezes os troco mais rapidamente. Depende das circunstâncias. Bom, como disse antes, nunca digo nunca.
Mudando de assunto: Se a corrida de F-1 da Áustria foi bastante legal, o final foi eletrizante. Várias vezes pensei que veria pneus explodindo e carros descontrolados rodando na pista. Mas sobrou talento da parte de todos — e uma boa dose de sorte. Ricciardo fez por merecer mais um pódio e ver tanto nariz e tanto dente comemorando é sempre uma alegria. Eta sujeito bom de braço e simpático! E eu sempre tive uma quedinha pelos finlandeses na F-1, então, é claro, gostei de ver o Bottas ganhar mais uma.
NG