Este teste estava faltando. Só havíamos dirigido a Oroch com motor 1,6-L no lançamento em setembro de 2015, no Rio de Janeiro (Bob Sharp). O motor K4M entregava 110/115 cv a 5.750 rpm e 15,1/15,9 m·kgf a 3.750 rpm. Em novembro do ano passado a Renault apresentou os novos motores SCe de 1 e 1,6-L e este passou, no caso da Oroch (e do Duster), a 118/120 cv a 5.500 e a 16,2 m·kgf a 4.000 rpm.
Entre as mudanças, bloco também de alumínio, reposicionamento dos injetores do coletor de admissão para o cabeçote, variador de fase na admissão, melhoria no coletor de escapamento e nova calibração dos parâmetros de injeção e ignição. Foi essa Oroch que testei durante uma semana, no uso, e gostei bastante.
Há quem, apesar de precisar, não tem picape grande de cabine dupla porque simplesmente não gosta de algumas de suas inerentes características, como tamanho, motor Diesel e suspensão dura. O preço muito elevado também, para muitos, é limitante. Essas picapes, que para os padrões brasileiros são chamadas de grandes e nos Estados Unidos são consideradas médias, são muito úteis e adequadas para quem viaja longas distâncias por nosso imenso interior enfrentando as mais adversas condições, mas para quem não necessita dessa robustez guerreira toda e tem seu dia a dia na cidade grande pode não achar nelas o desembaraço necessário.
A Oroch inaugurou um segmento que oferece o que essa pessoa precisa e também evita essas barreiras, pois dirigi-la é como dirigir um suve médio. Não é nada muito grande, sua suspensão é macia, há bom espaço e conforto interno, praticamente igual ao das grandes, e sua capacidade de carga de 650kg é mais que suficiente para a maioria das necessidades.
Para estradas de terra, desde que não haja atoleiros que exijam tração 4×4, até a prefiro, pois sua suspensão bastante macia permite que se viaje com conforto e segurança a velocidades mais elevadas do que é viável com as grandes. Motivos: um, sua carroceria é monobloco e não uma carroceria sobre chassi, e outro, sua suspensão traseira é independente por leves braços e não um pesado eixo rígido, com diferencial, semelhante ao de caminhões. O que digo acima cabe igualmente à Fiat Toro, sua concorrente direta, lançada logo após a Oroch.
Os que já dirigiram o suve Duster podem considerar a Oroch ainda melhor de estabilidade, tanto em retas quanto em curvas, principalmente nas curvas de maior velocidade. Isso se deve a dois fatores: a Oroch tem maior distância entre-eixos (2.829 x 2.673 mm) e sua suspensão traseira é independente, enquanto a do Duster 4×2 é por eixo de torção (a do Duster 4×4 também é independente, igual).
O câmbio é só o manual de 5 marchas, com comando a cabo, com trocas algo muito leve e natural. O pedal da embreagem também é leve. O motor, com as mudanças se mostrou perfeitamente adequado à picape.
Segundo a Renault, ela atinge 161 km/h com gasolina ou álcool. Com o motor anterior a velocidade máxima declarada era 160/164 km/h, o que permite supor ser um dado exagerado quando com álcool. Na aceleração 0-100 km/h os dados oficiais são coerentes, 14 s/12,5 s, antes eram 14,3/13,2 s.
Houve alteração nas relações de marcha. A 4ª foi alongada de 0,97:1 para 0,94:1 (3%) e a 5ª, 7,3%, de 0,82:1 para 0,76:1. Mantida a mesma medida de pneus, 215/65R16T, a v/1000 subiu de 31 para 33,5 km/h, resultando em 3.580 rpm a 120 km/h em vez de 3.870 rpm, rotação adequada para as necessidades de geração de potência de um veículo de arrasto aerodinâmico considerável como ela, e a essa rotação o motor segue suave e silencioso. Mesmo em torno e 4.500 rpm (150 km/h) ele segue igualmente agradável.
O motor retoma bem velocidade e nada deixa a desejar. Para acelerações mais vigorosas deve-se reduzir marchas para se dispor de mais potência. Faz ultrapassagens rápidas e seguras, viaja bem. Subi carregado a serra de Bertioga a Mogi das Cruzes e nada de aflição por falta de motor.
Para uso da grande maioria, portanto, ele satisfaz plenamente, daí que optar pelo motor de 2-l, mais potente, a meu ver fica para satisfazer um gosto e não necessidade, já que na cidade o 1,6-l SCe traz respostas rápidas e na estrada, mesmo carregada com quatro pessoas e bagagens, viaja veloz e sem esforço algum a 120 km/h reais ou a mais que isso. Viajaria com tranquilidade a 140 km/h, no velocímetro, caso isso fosse permitido.
O motor de 2 litros fica também para quem deseja o câmbio automático epicíclico de 4 marchas, opção só disponível para esse motor, ou pretende usá-la amiúde com carga máxima. A diferença geral de consumo entre eles, segundo o Inmetro, ambos manuais (2-L, 6-marchas) é de 13,1% na cidade e 2,6% na estrada (média gasolina e álcool) , sendo, claro, o 1,6-l o mais econômico.
O consumo desta Dynamique, segundo o Inmetro, com gasolina é de 11,1 km/l na estrada e 11,2 km/l na cidade, o que é praticamente o mesmo. É esperada pouca diferença de consumo cidade/estrada em veículos com aerodinâmica ruim, com grande arrasto, porém nunca vi algo assim tão próximo. No meu caso, com gasolina fiz entre 10,5 e 12,2 km/l na estrada, dependendo das condições, sempre carregado com família e bagagens, o que não está fora do que o instituto apurou. Na cidade, ao longo de 4 dias, só consegui 9,5 km/l, porém não usei o modo Eco, modo que traz maior economia e que é acionado numa tecla mal posicionada no console central. Não o usei por achá-lo “chocho”, lento demais até para o meu modo sossegado de dirigir na cidade.
É bem silenciosa também. O motor está bem isolado e há pouco ruído de rodagem, mesmo tendo pneus de duplo propósito. Os bancos dianteiros são confortáveis e o espaço para os da frente é vasto. Já os de trás tem um encosto um tanto para a vertical e o espaço para as pernas é só razoável, mas isso é o que se encontra nas picapes de cabine dupla. O volante tem regulagem só de altura, mas lhe falta poder baixar um pouco mais, além de lhe faltar a de distância, daí que não tive como me ajeitar na posição correta. O volante é revestido de material um pouco escorregadio. Seu peso é ótimo e sua assistência eletro-hidráulica é indexada à velocidade. Não há regulagem da intensidade da luz do painel, e deveria ter, tampouco ajuste interno da altura do facho dos faróis, e deveria ter, principalmente por ser uma picape.
O ar-condicionado é bastante eficiente, porém o ventilador é um tanto ruidoso exceto na velocidade mais baixa. O tanque de combustível é incompreensivelmente pequeno para o propósito do veículo: 50 litros. A caçamba comporta 683 litros e suas medidas são: comprimento, 1.300 mm, largura, 920 mm, altura, 550 mm. É possível levar qualquer moto, desde que se tenha o extensor de caçamba, que também serve de rampa. Os freios são a disco ventilado (280 mm) na dianteira e a tambor (229 mm) na traseira. Muito bons, proporcionam frenagens seguras e o pedal tem boa progressividade. O punta-tacco sai na maior facilidade.
A versão Dynamique começa com preço de R$ 76.000. Esta da matéria, por ter cor metálica, sofre um acréscimo de R$ 1.600, portanto, R$ 77.600. Há pouco foi lançada a versão Express, a mais barata delas, R$ 66.200, mas que nem por isso deixa de oferecer tudo o que acima foi citado. Como se vê, comparando preços, esse segmento parece ter ainda muito a crescer.
Em vista do sucesso que o Duster 4×4 tem feito entre os jipeiros, por sua valentia, estava mais que na hora da Oroch também oferecer essa opção de tração.
Nota: será adicionado vídeo posteriormente.
RENAULT DUSTER OROCH DYNAMIQUE 1,6-L | |
MOTOR | |
Designação | Renault SCe 1,6-l |
Descrição | 4 tempos, 4 cilindros em linha, duplo comando de válvulas no cabeçote, corrente, variador da fase na admissão, atuação indireta sem compensação hidráulica de folga, quatro válvulas por cilindro, bloco e cabeçote de alumínio, flex |
Cilindrada (cm³) | 1.597 |
Diâmetro e curso (mm) | 78 x 83,6 |
Taxa de compressão (:1) | 10,7 |
Potência máxima (cv/rpm, G/A) | 118/120/5.500 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) | 16,2/4.000 |
Formação de mistura | Injeção no duto do cabeçote |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio | Transeixo manual de 5 marchas à frente mais ré, tração dianteira |
Relações de marchas (:1) | 1ª 3,73; 2ª 2,05; 3ª 1,32; 4ª 0,94; 5ª 0,76; ré 3.55 |
Relação de diferencial (:1) | 4,93 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Independente, McPherson, dois braços inferiores paralelos, um braço longitudinal, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
DIREÇÃO | Pinhão e cremalheira, assistência eletro-hidráulica indexada à velocidade |
Voltas entre batentes | 3,4 |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 10,7 |
FREIOS | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/280 |
Traseiros (Ø mm) | Tambor/229 |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 6Jx16 |
Pneus | 215/65R16T |
CARROCERIA | Picape cabine dupla, monobloco em aço, cinco lugares |
CAPACIDADES (L) | |
Caçamba | 683 |
Tanque de combustível | 50 |
PESO (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.296 |
Carga útil | 650 |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4.693 |
Largura sem espelhos | 1.821 |
Altura | 1.695 |
Distância entre eixos | 2.829 |
Distância mínima do solo | 206 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s, G/A) | 14/12,5 s |
Velocidade máxima (km/h | 161 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBEV | |
Cidade (km/l, G/A) | 11,1/7,6 |
Estrada (km/l, G/A) | 11,2/7,7 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 5ª (km/h) | 33,5 |
Rotação a 120 km/h, em 5ª (rpm) | 3.580 |
Rotação à vel. máxima em 4ª (rpm) | 4.940 |
Fotos: