Todo mundo que já fez autoescola ou que dirige com um mínimo de cuidado sabe que a primeira coisa a fazer ao entrar num carro é fazer os ajustes necessários para que a postura do motorista seja a correta. Isso significa acertar a distância do banco ao volante, os retrovisores, a altura do banco e, eventualmente nos carros mais modernos, a altura e até a distância do próprio volante de direção. Só depois de tudo devidamente ajustado é que se liga o motor e se sai dirigindo. Básico assim.
Como meus caros leitores já sabem, sou um pouco prejudicada verticalmente – vulgo, baixinha. Portanto cada vez que troco de carro com meu marido ou que, com enorme pesar no coração sou obrigada a deixar meu carro com um manobrista ao descer já deslizo o banco para trás, pois senão a maioria dificilmente conseguirá dirigir ou sequer sentar no banco, pois o assento precisa ficar a uma distância que permita que meus pezinhos cheguem aos pedais de forma segura, ou seja, que eu consiga pisar neles até o fim sem tirar as costas do banco. Não que eu dirija com o nariz colado no vidro. Nada mais feio, ridículo e inseguro do que isso. É que o comprimento das minhas pernas está longe de ser o 1,20 metro dos da Ana Hickmann. Na verdade, minha altura total, até o topo do meu cocuruto, é algo mais do que isso…
Bom, se quiserem volto à questão da postura de direção segura outro dia. Mas o que me chamou a atenção estes dias foi outra coisa para a qual eu pessoalmente nunca havia me atentado – pelo menos não pelo motivo correto.
Dirijo muito nas estradas e é frequente me deparar com outros motoristas que fazem longos percursos – ou mesmo na cidade, com pessoas que vem pelas estradas e chegam a São Paulo e seguem pelas marginais. E, para meu horror, é frequente que aqueles que vem no banco do carona tenham os pés na janela, do lado de fora ou apoiados no painel do carro.
Digo para meu horror porque sempre achei isso extremamente feio apenas por uma questão estética. Deve ser azar meu, mas nunca achei alguém com pés de modelo de anúncio de televisão. Na verdade, alguns são, sim, mas de anúncios de pomada para micose antes do tratamento. Arghhh! Outros nem tanto, mas que é desagradável, isso eu continuo achando. Deve ser porque fui ensinada desde pequena a não colocar os pés sobre a mesa de centro de casa e até hoje, quando tenho que fazer isso por questões médicas, faço malabarismos. Uso uma banqueta e embrulho meu robot foot num saco plástico megarresistente. Sei lá, não acho higiênico colocar pés, descalços ou com chinelos ou sapatos que pisam deus-sabe-o-quê no mesmo lugar onde vou colocar xícara de café, aperitivo, minha taça de vinho… E não, tecnicamente não tenho Transtorno Obsessivo Compulsivo. Já chequei com vários médicos.
Mas agora descobri que não é apenas uma questão de gosto. É um problema de segurança bem sério. Vi umas fotos no Feicibúqui de uma mulher da Geórgia, nos Estados Unidos, que ocupava o banco do carona num carro com os pés descansando sobre o painel do carro quando o veículo em que estava bateu contra outro. O airbag foi acionado e a mulher quebrou vários ossos do pé, tornozelo, fêmur e do próprio rosto, pois o airbag inflou e jogou o pé contra a face. O acidente em si nem foi grave – uma colisão que não teria tido maiores consequências se não fosse a postura errada da pessoa que ocupava o banco do acompanhante. Não sei sobre o quadril dela, mas imagino que também deve ter sofrido bastante, assim como o joelho e outras articulações. Afinal, poucas pessoas tem a flexibilidade das chinesinhas do Cirque du Soleil que colocam o pé atrás do pescoço. E ainda assim, uma coisa é fazê-lo voluntariamente, depois de alongar os músculos, outra é subitamente com a força de um impacto desses.
Pesquisando um pouco mais encontrei outro caso, de 2014, em Houston. Neste caso, além do pé no painel a passageira estava digitando no celular. Resultado: uma perna jogada contra o peito e rosto, resultando em vários ossos quebrados na face e na perna, entre eles tíbia e fíbula, além de costelas quebradas devido ao celular. Um bombeiro que socorreu outra passageira vítima de um acidente assim (esta com as duas pernas no painel), disse que ela parecia “um peru de Natal”. Piadas de humor negro à parte, a coisa deve ter sido bem feia.
Estranho que justamente eu que sempre me preocupo com segurança não tenha pensado nisso e sim no aspecto, digamos, estético de andar com o pé no console. Mas agora tenho um argumento bem mais sólido do que “não porque é feio”.
Evidentemente o mesmo se aplica aos passageiros do banco de trás. Tem gente que coloca os pés para fora da janela dos ocupantes dos assentos dianteiros. Isso eu não deixaria porque normalmente sou eu quem está num dos bancos da frente e não quero ter os pisantes de ninguém no meu pescoço. É claro que isso serve para qualquer velocidade, pois o airbag pode ser acionado mesmo bastante devagar. O mesmo serve para outros objetos como celular, que podem provocar os mesmos estragos que a perna fez no caso dessas mulheres. O mais seguro mesmo é andar sentado, com as pernas apoiadas no assoalho e o cinto de segurança corretamente afivelado, seja no banco do carona ou num traseiro. Em viagens longas, o melhor mesmo é fazer paradas sempre que necessário para esticar as pernas – seja do motorista, seja dos acompanhantes. Nada de esperar que apareçam formigamentos, cãimbras ou outros sintomas de que se andou demais na mesma posição. E, sabendo disso agora mais do que nunca, jamais pôr os pés no console ou na janela.
Mudando de assunto: Pergunta meramente retórica, é claro. Por que é que até 2016 as autoridades paulistanas e parte da população negavam que existisse uma indústria da multa? Alegavam que para não ser multado bastava não cometer infrações. Agora em 2017 com outra administração de outro partido, sem que tenha sido retirado um único radar, quando há uma queda na emissão de multas dizem que se deve à menor fiscalização?
NG