Mais de mil quilômetros em rodovia, duas viagens e uma conclusão: o Fiat Argo é um grande parceiro de quem precisa viajar. A maior e melhor constatação é acerca da saúde do pequeno motor de 1,3 litro batizado de Firefly que, abastecido exclusivamente com gasolina nesta semana, surpreendeu tanto em termos de consumo como no aspecto desempenho.
Na mais longa das duas viagens — da capital paulista a Belo Horizonte e respectiva volta — o Argo foi submetido a condições de tocada propositalmente diferentes. Na ida, pressa total, espremendo a novidade da Fiat no limite de suas possibilidades. Na volta, ritmo tranquilo. De acordo com o computador de bordo o consumo foi de foi de 12,7 km/l para ir e nada menos do que 16,1 km/l para voltar, sendo que dos 656 km percorridos com o tanque da volta, cerca de 80 km foram em uso urbano na acidentada topografia de Belo Horizonte. Econômico, não é?
Mais do que positivas marcas de consumo o Argo demonstrou genuína vocação rodoviária, que se traduziu em boa capacidade de aceleração, retomada e uma excelente sensação de segurança se a velocidade for mantida ao redor do limite da lei — 110~120 km/h. Rodei 100% do tempo com o ar-condicionado ligado, éramos três adultos a bordo e o porta-malas estava pela metade.
O conforto acústico é digno de nota, incomum nesta categoria de carros, a ergonomia irrepreensível apesar de não haver regulagem de distância do volante. Os bancos se demonstraram adequados, realmente confortáveis, e que não receberam nenhuma reclamação mesmo depois das cerca de 8 horas empenhadas em cada “perna”.
São 300 litros bem aproveitáveis: levou com folga a bagagem de três adultos; nos encostos do banco traseiro veem-se os dois pontos para fixação superior dos bancos infantis
E quanto ao câmbio, o polêmico automatizado GSR? Bem, as lacunas em uso urbano, especialmente em locais acidentados como a zona oeste de São Paulo (e Belo Horizonte…), deram lugar a um comportamento perfeito na rodovia, e apenas em algumas situações – trechos em aclive – optei por reduzir de 5ª para 4ª marcha usando os comandos do volante. Qual a razão? Antecipar a redução que aconteceria naturalmente através de uma maior pressão do acelerador. A opção por usar o comando manual foi na base do “já que tem, vamos usar”, e não por necessidade. Sem contar que as reduções são precedidas de sonora e agradável aceleração interina automática que casa rotação e velocidade à perfeição.
O Argo Drive 1.3 GSR mantém 110~120 km/h sem sacrifício nenhum, aliás, nesta faixa de velocidade oferece resposta ao acelerador mais consistente que em velocidade mais baixa. Ocorre que exatamente neste ritmo de 120 km/h o ponteiro do conta- giros aponta para 3,5~ 3,6 mil rpm, rotação anunciada pela Fiat como sendo a do torque máximo do Firefly. Já a 80~90 km/h a resposta não é tão pronta, o motor dá impressão de estar “sonolento”, na casa das 2,5~2,8 mil rpm. Nada grave: basta reduzir uma marcha que o giro pula para a zona da pegada.
A precisão direcional e a sensação de apoio sólido nos curvões da rodovia Fernão Dias confirmou o excelente ajuste das suspensões do Argo. Apenas em velocidades exageradas, bem exageradas diga-se, o novo Fiat mostrou que a opção por deixá-lo altinho, longe do solo, o prejudica nas mudanças rápidas de direção. Todavia, qualquer eventual mau comportamento deste Argo “pernalonga” é compensado pela existência do controle de estabilidade. Ajuda a tarefa de guiar de maneira segura em alta velocidade e por centenas de quilômetros o ajuste do sistema de direção eletroassistida indexada à velocidade. De fato a 120 km/h o “peso” da direção do Argo é significativo, aliás como prefiro. O volante também ajuda à sensação de bom domínio com sua empunhadura grossa. E dotado de botões para comandar praticamente tudo, do sistema de áudio (de boa qualidade) ao completíssimo computador de bordo passando pelo câmbio, telefone e controlador de velocidade. E a buzina, claro.
Sensibilidade excessiva a ventos laterais não senti, parte em função das patas opcionais, medida 185/60R15H (Good Year Eficient Grip). E quanto a ruídos aerodinâmicos, ponto para os técnicos responsáveis pelas formas do Argo, que não “briga” com a parede de ar a ser atravessada.
Então, tudo são flores no convívio de horas e mais horas na estrada com a novidade da Fiat? Não: os puxadores das portas dianteiras invadem demasiadamente a cabine, incomodando a perna esquerda de quem guia. Outra coisa que aprendi foi que o sistema start-stop deve ser desligado em viagens em dias quentes, pois nas paradas dos pedágios — invariavelmente demoradas — sua ação cortava o funcionamento do ar-condicionado, algo nada bom em um dia de sol forte.
Na segunda viagem realizada nesta semana, bem mais curta, houve a oportunidade de rodar em uma estrada de terra muito poeirenta e cheia de buracos. Nela o Fiat Argo mostrou a vantagem que é ter uma distância mínima em relação ao solo de razoáveis 150 mm, algo verdadeiramente útil em um país onde estradas “de chão” ganham de lavada das pavimentadas. Andando rápido na deserta estradinha o Fiat mostrou competência digna de rali, não raspando nem batendo nada. A análise das vedações de portas e porta malas comprovou capricho construtivo pois o poeirão ficou só do lado de fora.
Faltando apenas uma semana para concluir a avaliação do Argo, um sentimento ambíguo me acomete: constato ter nas mãos um carro que está superando em muito as minhas expectativas e isso me deixa feliz. Por outro lado, por sei lá qual motivo, talvez eu não esteja enxergando eventuais deficiências. O que fazer? Seguir a tradição, ou seja, visitar a Suspentécnica na qual experiente colaborador Alberto Trivellato, detalhista e observador, vai passar o Fiat Argo em revista, análise que costumeiramente encerra nossos Testes de 30 dias. Veremos se ele vai achar o Argo tão bacana quanto eu estou achando…
RA
Leia os relatórios anteriores: 1ª semana 2ª semana
FIAT ARGO DRIVE 1,3 GSR
Dias: 21
Quilometragem total: 2.198 km
Distância na cidade: 913 km (42%)
Distância na estrada: 1.285 km (58%)
Consumo médio: 11,7 km/l (11% álcool – 89% gasolina)
Melhor média: 6,3 km/l (álcool)
Pior média: 6,3 km/l (álcool)
Melhor média: 16,1 km/l (gasolina)
Pior média: 11,1 km/l (gasolina)
Média horária: 31,7 km/h
Tempo ao volante: 69h20minutos
FICHA TÉCNICA ARGO DRIVE 1,3 GSR | |
MOTOR | |
Designação | Firefly 1,3-L |
Descrição | 4-cil em linha, bloco e cabeçote de alumínio, monocomando com variador de fase 2 válvulas por cilindro, flex |
Cilindrada (cm³) | 1.332 |
Diâmetro e curso (mm) | 70 x 86,5 |
Taxa de compressão (:1) | 13,2 |
Potência (cv/rpm, G/A) | 101/6.000//109/6.250 |
Torque (m·kgf/rpm, G/A) | 13,7/14,2/3.500 |
Formação de mistura | Injeção no duto Magneti Marelli, ignição integrada ao módulo |
TRANSMISSÃO | |
Tipo | Transeixo com câmbio robotizado de 5 marchas mais ré, tração dianteira |
Relações das marchas (:1) | 1ª 4,273; 2ª 2,316; 3ª 1,444; 4ª 1,029; 5ª 0,795; ré 4,200 |
Relação de diferencial (:1) | 4,200 |
Dianteira | Independente, McPherson, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira eletroassistida, indexada à velocidade |
FREIOS | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/257 |
Traseiros (Ø mm) | Tambor/203 |
Controle | ABS (obrigatório) e distrib. eletrônica das forças de frenagem |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Aço, 5,5Jx14 (Opcional: alumínio 6Jx15) |
Pneus | 175/65R14T (Opcional: 185/60R15H) |
Estepe | Igual ás demais rodas |
CARROCERIA | Monobloco em aço, hatchback, quatro portas, cinco lugares |
CAPACIDADES (L) | |
Porta-malas | 300 |
Tanque de combustível | 48 |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.148 |
Carga útil | 400 |
Peso rebocável sem freio | 400 |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 3.998 |
Largura sem espelhos | 1.724 |
Altura | 1.500 |
Distância entre eixos | 2.521 |
Bitola dianteira/traseira | 1.465/1.500 |
Distância mínima do solo | 149 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s, G/A) | 11,8/10,8 |
Velocidade máxima (km/h, G/A | 180/184 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBVE | |
Cidade (km/l, G/A) | 12,9/9,2 km/l |
Estrada (km/l, G/A) | 14,4/10 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 5ª (km/h) | 33,1 |
Rotação a 120 km/h, em 5ª (rpm) | 3.620 |
Rotação à vel. máxima em 5ª (rpm) | 5.600 |