O mês do Argo comigo foi, sem dúvida, marcado pela surpresa. Primeira delas o próprio carro. O moderno hatch surpreendeu positivamente em aspectos múltiplos e importantes. Com ele — por fatos inesperados, não planejados — bati o recorde de quilômetros rodados no Teste de 30 Dias, nada menos que 3.225 quilômetros.
Tratou-se da 15ª avaliação deste tipo que faço para o AE desde a estreia, no já distante mês de abril de 2015, com o Renault Fluence. Por curiosidade, somei a quilometragem de todos os “30 dias” que antecederam o Argo e a cifra total, de 24.908 km, resultou em média de 1.779 km por teste, o que comprova que o Fiat Argo quase que duplicou a quilometragem padrão.
Tamanho percurso — mais de 100 horas ao volante! — veio bem a calhar por ser o Argo uma novidade importante e, como já dito anteriormente, não ser segredo que é um carro-chave, com a qual a Fiat pretende recuperar sua liderança no segmento em que Chevrolet Onix e Hyundai HB20 nadam de braçada.
Sem entrar em méritos mercadológicos (por qual razão a Fiat demorou tanto a substituir o Palio e “trabalhou” tão mal o Punto?), resta o fato que, depois de todos estes quilômetros, é possível dizer de boca cheia que a Fiat “acertou a mão”.
O Argo é perfeito? Ainda não, mas é um baita ponto de partida. Certamente tem qualidades para brigar pela preferência dos consumidores desde já e pavimentar o caminho que poderá levá-lo ao posto de líder de sua classe. Basta ser “lapidado” pontualmente já que a base é, como disse, excelente.
“Babação de ovo” demais? Para tirar a prova dos nove, o 30 Dias sempre acaba na Suspentécnica, onde o olho clínico de Alberto Trivellato se encarregaria de me derrubar de um eventual delírio mas… não foi assim.
Ao assumir o volante para o circuito que antecede a exploração das entranhas do Argo, Trivellato se surpreendeu com o bom nível do acabamento interno. sensação bem exprimida por uma frase sintética, mas direta: “Não é pé-de-boi!” Pois é, não mesmo. Os materiais usados tem excelente aparência e o colaborador exaltou aspectos construtivos que denotam capricho, como os vãos uniformes entre componentes e partes, a posição de dirigir correta, na qual é fácil e rápido encontrar um bom ajuste.
O namoro de Alberto com o Argo esbarrou apenas em dois itens a melhorar: o puxador da porta do motorista, invasivo demais, que incomoda a perna, e o apoio para o braço central, que dificulta a ação de achar o encaixe para a lingueta do cinto. Todavia, nada incomodou mais ao colaborador nos primeiros minutos ao volante do Argo do que o câmbio automatizado do qual o “capo” da Suspentécnica não é um fã mas…
… passados alguns quilômetros a excelência das suspensões e o impecável trabalho de insonorização deixaram o colaborador boquiaberto. O Argo filtra a maior parte do desconforto da péssima pavimentação paulistana e deixa os ruídos da metrópole do lado de fora. Roda macio, mas sem moleza, o motor é ouvido mas sem que isso seja incômodo. Segundo Alberto, o 1,3-litro da Fiat é algo áspero, mas nada demais: responde adequadamente às exigências do sensível acelerador eletrônico, empurra com vontade no tortuoso percurso quando surgiu a chance de acelerar. O câmbio? Alberto mesmo acha a fórmula para não brigar com ele: “Basta ser suave com o acelerador”.
Depois de explorar freios (OK!), direção (ótima!), e aprender que a central multimídia e os recursos eletrônicos — do computador de bordo ao controle de tração e de estabilidade — estão no nível de carros muitos mais caros, Alberto rumou para a oficina, para enfiar o nariz nas partes menos visíveis deste novo Fiat.
Erguendo o carro, formou-se instantaneamente uma roda de funcionários, todos curiosos com a novidade. No exame, a engenharia aplicada ao Argo se revelou exclusiva pois, apesar de adotar solução mais do que clássica para o arranjo de suspensões — McPherson à frente, eixo de torção atrás —, nenhum componente foi reconhecido o que confirma a modernidade do projeto. Chamou a atenção a robusta estrutura das bandejas da suspensão dianteira e o parrudíssimo eixo de torção, “coisa para não dar manutenção tão cedo” revelou Alberto.
A simbiose de opções técnicas — coxins de diferentes medidas e tipos na traseira e dianteira — resultou no rodar firme porém agradável do Argo que certamente tem no ajuste de suspensões um ponto alto. E como bem observou Trivellato, de nada adiantaria ter um bom acerto de suspensão se a estrutura não fosse adequada.
Outro detalhe que chamou a atenção na parte inferior do Argo foi o cuidado com as superfícies: a quase totalidade conta com painéis plásticos que determinam um fundo plano, onde o ar flui de maneira fácil, um grande amigo da aerodinâmica e dos consumos baixos.
Infelizmente, a área sob o motor não tem nenhuma proteção e marcas de choques contra o solo no cano de descarga e um “lábio” de borracha parcialmente arrancado (é fixado por grampos metálicos) mostrou ser este um setor que não faz jus ao restante da área inferior.
Mesmo com a cena pouco feliz desta parte desprovida de proteção a impressão que se tem ao observar o Argo por baixo é que trata-se de um carro moderno, caprichado seja do ponto de vista do projeto, seja no da realização.
Para Alberto Trivellato o novo Fiat parece pertencer a um outro segmento — e superior! — em alguns aspectos tendo em vista a quantidade de mimos eletrônicos que oferece (controle de estabilidade e tração especialmente) e aspectos menos importantes mas mesmo assim muito valorizados, como a completíssima central multimídia e o festival de informações servido pelo computador de bordo, que tem voltímetro, temperatura do óleo, controle da pressão dos pneus e as demais informações de praxe, como na sequência de fotos abaixo.
Ao término da avaliação do Argo, além da aprovação de Alberto Trivellato (menos ao câmbio automatizado!) ficou evidente o alvoroço da equipe de funcionários da Suspentécnica. Acostumados a ver os carros mais sofisticados e exóticos do planeta — no dia da visita havia um Rolls-Royce Silver Shadow de 1968 e o (naquelas paragens) costumeiro Porsche 911 em versão topo de meados dos anos 1990 — o Fiat Argo “causou” por pertencer ao mundo possível, ser um hatch ao alcance de todos eles e trazer novos ares tecnológicos ao segmento.
De minha parte, como disse no início, o Teste de 30 Dias com o Argo foi marcado pela surpresa: travar contato com uma novidade é sempre excitante, mas melhor ainda foi verificar a competência deste Fiat, com o qual se convive de maneira agradável e que dia a dia vai cativando quem o dirige. Quanto ao câmbio automatizado, ao contrário da maioria vejo o componente como adequado para quem é capaz de entender do que se trata: um meio de abandonar o uso da embreagem e optar por algo mais simples e de custo menor.
E a “cabeçada”? Basta aprender a usá-lo que ela some. As ocasiões nas quais este câmbio titubeou nesses mais de 3 mil quilômetros foram três ou quatro, sempre de um mesmo jeito: vindo de um declive ou freada mais intensa e entrando em uma rampa pronunciada em seguida. A incerteza ocorre, ele escolhe a 2ª mas deveria ser a 1ª. Rapidamente corrige e vai embora, e nem de longe lembra as primeiras versões dos automatizados. Na rodovia é perfeito e a economia na adoção de tal tecnologia mais simplificada para oferecer o automatismo é a que possibilita haver tantos acessórios e “bônus” no Argo.
Falta algo neste Fiat? Sim, claro: incompreensível não haver o banco de encosto bipartido na traseira e a chave presencial seria mais do que adequada num carrinho tão hi-tech. Quanto à presença do polêmico sistema start-stop, não me alinho com detratores por ver pertinência no desligamento do motor nas paradas mais longas mas é necessário dar tempo ao Argo para ver ser tal sistema não resultará — como sustentam muitos leitores — em um desgaste precoce da bateria.
Ao cabo do teste, verificar que o Argo Drive 1,3 GSR de pouco mais de 60 mil reais é um excelente carro é confortante, assim como verificar que em nenhum momento o consumo excedeu limites aceitáveis. Fui de São Paulo a Belo Horizonte com pressa (mesmo!) usando gasolina e ele marcou 12,7 km/l. Na volta, calmo (mas não bobo), fez 16 km/l! Na sequência, da capital paulista a Parati, com álcool, fez 11 km/l e na volta 10 km/l. Achei ótimo considerando que o carro estava semicarregado, com ar-condicionado ligado e um motorista — eu! — que adorou o vigor do motorzinho Firefly e o uso de verdade. É valente e adequado à necessidade do novo hatch da Fiat que, como disse, é surpreendente.
E novo teste de 30 dias começa hoje: Renault Kwid, inicialmente com gasolina.
RA
Leia os relatórios anteriores: 1ª semana 2ª semana 3ª semana
Assista ao vídeo do análise do Alberto Trivellato na Suspentécnica:
FIAT ARGO DRIVE 1,3 GSR
Dias: 30
Quilometragem total: 3.225 km
Distância na cidade: 1.280 km (40%)
Distância na estrada: 1.945 km (60%)
Consumo médio: 11,0 km/l (39% álcool – 61% gasolina)
Melhor média: 11,0 km/l (álcool)
Pior média: 6,3 km/l (álcool)
Melhor média: 16,1 km/l (gasolina)
Pior média: 11,1 km/l (gasolina)
Média horária: 32,0 km/h
Tempo ao volante: 100h22minutos
Litros Consumidos: 294,65
Custo: R$ 933,63
Custo do quilômetro rodado: R$ 0,29
FICHA TÉCNICA ARGO DRIVE 1,3 GSR | |
MOTOR | |
Designação | Firefly 1,3-L |
Descrição | 4-cil em linha, bloco e cabeçote de alumínio, monocomando com variador de fase 2 válvulas por cilindro, flex |
Cilindrada (cm³) | 1.332 |
Diâmetro e curso (mm) | 70 x 86,5 |
Taxa de compressão (:1) | 13,2 |
Potência (cv/rpm, G/A) | 101/6.000//109/6.250 |
Torque (m·kgf/rpm, G/A) | 13,7/14,2/3.500 |
Formação de mistura | Injeção no duto Magneti Marelli, ignição integrada ao módulo |
TRANSMISSÃO | |
Tipo | Transeixo com câmbio robotizado de 5 marchas mais ré, tração dianteira |
Relações das marchas (:1) | 1ª 4,273; 2ª 2,316; 3ª 1,444; 4ª 1,029; 5ª 0,795; ré 4,200 |
Relação de diferencial (:1) | 4,200 |
Dianteira | Independente, McPherson, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira eletroassistida, indexada à velocidade |
FREIOS | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/257 |
Traseiros (Ø mm) | Tambor/203 |
Controle | ABS (obrigatório) e distrib. eletrônica das forças de frenagem |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Aço, 5,5Jx14 (Opcional: alumínio 6Jx15) |
Pneus | 175/65R14T (Opcional: 185/60R15H) |
Estepe | Igual ás demais rodas |
CARROCERIA | Monobloco em aço, hatchback, quatro portas, cinco lugares |
CAPACIDADES (L) | |
Porta-malas | 300 |
Tanque de combustível | 48 |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.148 |
Carga útil | 400 |
Peso rebocável sem freio | 400 |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 3.998 |
Largura sem espelhos | 1.724 |
Altura | 1.500 |
Distância entre eixos | 2.521 |
Bitola dianteira/traseira | 1.465/1.500 |
Distância mínima do solo | 149 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s, G/A) | 11,8/10,8 |
Velocidade máxima (km/h, G/A | 180/184 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBVE | |
Cidade (km/l, G/A) | 12,9/9,2 km/l |
Estrada (km/l, G/A) | 14,4/10 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 5ª (km/h) | 33,1 |
Rotação a 120 km/h, em 5ª (rpm) | 3.620 |
Rotação à vel. máxima em 5ª (rpm) | 5.600 |