Agosto guardou má fama para o comércio nacional por muitos anos, porém para a indústria automobilística esse é tradicionalmente um mês de vendas robustas. Mais dias úteis e ausência de feriados contribuem e este ano fez jus à regra.
No encontro mensal da Anfavea com a imprensa, no último dia 6, a notícia dos bons números do mês veio acompanhada de uma revisão geral das perspectivas, elevando a projeção de crescimento do mercado interno de +4% para quase o dobro, i.e., +7,3%. A entidade, normalmente cautelosa em previsões, exibia um otimismo incomum e talvez tenha nos contagiado. Se até julho a comparação de vendas nacionais acumuladas com o ano anterior apresentava expansão modesta de 3,95%, ao revisar essa estimativa de crescimento para 7,3%, ou um total de 2.136.000 veículos leves, podemos deduzir que a Anfavea aposta num ritmo médio de vendas diárias de 9.850, daqui até o final de dezembro. Em agosto emplacaram-se 9.137 veículos/dia. Uma aposta e tanto.
Se a nova estimativa está bem calibrada ou não, teremos quatro meses para acompanhar, todos torcem que sim, este colunista também. Antonio Megale, presidente da entidade, listou diversos fatores que lhes permitiram esse otimismo: inflação em queda, indústrias voltando a contratar, redução da inadimplência e confiança do consumidor em alta.
Em agosto vendeu-se um total de 216.534 veículos, sendo 210.142 automóveis e comerciais leves, um salto de 17% sobre o mês anterior e de quase 18% sobre mesmo mês de 2016. Emplacamentos diários saltaram 7% sobre julho. Há 17 meses (exceto dezembro) não se via vendas superiores a 210.000 unidades. Caminhões e ônibus exibiram sinais que podem ser de reação, no entanto as novas projeções revisaram ambos números de pesados para baixo, pois antes se contava com retomada desde janeiro, o que não ocorreu.
Se aquele triste episódio de final de maio quando uma mala com R$ 500 mil, filmada pela PF, correndo pelas ruas da capital paulista quase põe no vinagre o governo Temer e a frágil recuperação econômica em curso, passados mais três meses a nossa política jamais arrefeceu, muito pelo contrário. e a economia segue parecendo dissociada das turbulências e fervuras de Brasília, num recorde de políticos denunciados, presos e/ou respondendo a processos por corrupção, lavagem de dinheiro, extorsão e malversação de recursos públicos. Nossa tragédia política tornou-se mundana e pouco ou nada tem influenciado o comprador de automóveis.
A pouco mais de um ano de novas eleições majoritárias, temos um ex-presidente que carrega sete denúncias e uma condenação por corrupção contra si e ele insiste em fazer crer que será eleito novamente, que veio para salvar o país. O surrealismo de sua caravana pelo Nordeste deu um tom patético a uma campanha presidencial disfarçada de Lula. Mas o mês ainda teve a apreensão de R$ 51 milhões em espécie num apartamento emprestado a um ex-ministro, delatores da JBS livres, depois presos, enfim, esses acontecimentos que fazem o roteirista da série “House of Cards” parecer um estagiário. E ontem o presidente Temer passou a enfrentar mais uma denúncia de corrupção, na despedida do Janot da PGR.
Em geral, sinais de saída de uma recessão não se resumem a apenas um trimestre de crescimento positivo do PIB ou de emprego. Mas aqui a ansiedade do presidente Temer em demonstrar que saímos da pior recessão em 100 anos vem tentando fazer-nos acreditar que já temos o suficiente. Bem queria fosse verdade. Desde maio, os números de venda de automóveis e comerciais leves, média nacional, exibem crescimento quando comparados com mesmos meses de 2016, ou seja, um quadrimestre apenas, sendo que não foram consistentemente positivos em todas as regiões, a não ser em agosto último. Normalmente este escriba é mais atirado e a Anfavea mais conservadora, talvez tenhamos invertido papéis. Evidentemente, a rede de revendedores tem um termômetro mais acurado que o meu, contudo falamos de tempo, mais do que intensidade. Conta-se que a aprovação da reforma da Previdência já praticamente assegurada, sem saber se o seu último formato que fez certo consenso na comissão da Câmara seria suficiente para trazer um efeito no curto e médio prazos. Sabemos sim, que se nada da reforma passar este ano, tudo muda. Que Deus ilumine os parlamentares.
A região Sudeste puxa a reação nacional, em agosto tivemos expansão de 22,4% sobre mesmo mês de 2016 e no acumulado do ano já são +10%, a única região que ainda não exibe reação positiva e consistente é a Sul.
Ranking do mês e dos oito meses do ano
Em agosto vendas de automóveis e comerciais leves foram 17% superiores a julho com somente dois dias úteis a mais, Nissan subiu 39%, Renault +31%, Peugeot +24%, Mitsubishi +23%, Honda e Jeep, cada uma com +20%. Na outra ponta do ranking, Land Rover caiu 13% e BMW cresceu apenas 1%.
Comparando-se oito meses de ’17 com ’16, Jeep e Nissan exibem salto exuberante, respectivamente de 59% e 27%, porém é graças a terem trazido o Compass e Kicks em segmentos onde antes não participavam. Chevrolet cresceu 14%, Ford +12%, Honda +8%, num mercado que expandiu 5,8%. Enfrentaram queda de vendas as marcas de luxo Audi, com -21%, BMW, -17% e Land Rover, -12%.
Onix (foto de abertura) bateu seu recorde mensal de vendas, foram 18.513 unidades, Hyundai HB20 teve 10.377 unidades emplacadas, Ka 7.631, Prisma 7.412 e Gol em 5º lugar, com bons 6.824. Renegade retoma o topo dentre os suves (em 10º no geral), com 4.576 unidades, seguido de perto por HR-V, Creta e Compass. A expansão desse segmento não parou. O Onix tampouco pisou no freio, suas vendas cresceram nos oito meses do ano em 26%. Outros compactos também ganharam maior fatia do bolo, Sandero com +33%, Ka com +22% e Gol +21%, mas o Renault está distante do Chevrolet e não dá sinais que irá se aproximar ou retirar-lhe o cetro de campeão, mesmo porque, agora dividirá o segmento de entrada com seu irmão, o Kwid. O novo Argo vem mostrando que veio bem solucionado para a disputar espaço com eles, como mostram as suas vendas logo de início. Já o novíssimo VW Polo, a ser lançado aqui poucos meses depois de sua versão europeia, deve tornar-se referência no segmento, porém terá um preço premium que o deixará fora dos maiores volumes dos compactos. Que os erros de estratégia e posicionamento de preços de seu antecessor, em 2002, não se repitam.
Nos comerciais leves, o Fiat Strada retomou a ponta, com 5.108 unidades, Toro em 2º, com 4.793, Saveiro em 3º, Hilux em 4º, com S10 novamente muito próxima. O segmento de comerciais leves expandiu-se somente 1,5% este ano, a Chevrolet S10 cresceu 23% e Amarok +10%, enquanto Hilux e Ranger caíram ambas 3%. VW acaba de anunciar deve haver um concorrente ao Fiat Toro em breve, o segmento de médias derivadas de automóveis promete.
Até mês que vem!
MAS