Calma. Este não é uma matéria para falar mal do amado besouro — ou escarabajo, vocho, käfer, beetle, cocinelle — pelo nosso colega Alexander Gromow e milhões de pessoas no mundo todo. Este artigo é uma grande reflexão sobre como ocorre a relação de muitas pessoas com a tecnologia.
Como assim, “motorista de Fusca”?
Eu era pequeno, coisa de final dos anos 1960 e início de 1970, e meu tio, um grande entusiasta e motorista profissional de mão cheia, sempre comentava sobre os “motoristas de fusca”. Era um termo jocoso, depreciativo, mas bastante realista. Para a época, nada mais comum no trânsito que fuscas e seus derivados, e a cada dia, mais e mais gente dirigindo esses carros.
Mas o que meu tio dizia em termos não muito elogiosos tinha um fundo de verdade. Muita gente naquela época dizia que realmente só sabia dirigir Fusca. Se dessem um Corcel para elas, elas não saberiam nem por onde começar a guiar. Diziam coisas como os controles estavam fora do lugar, que o espaço era diferente, que o carro por fora era diferente e eles tinham medo bater manobrando por desconhecimento…
Em contrapartida, meu tio dizia que todo carro tem volante, acelerador, freios, embreagem, alavanca de marchas e assim por diante. O carro pode ser bastante diferente na estética, mas os controles básicos são sempre os mesmos e o comportamento básico é o mesmo. Então, quem dirige pelos princípios básicos e não pelo apego de um design específico, dirige qualquer coisa.
Então, quando ele chamava alguém de “motorista de Fusca”, ele não estava generalizando como é tão comum hoje, até porque ele também dirigia muito Fusca, mas se referia a uma categoria específica de “motoristas de Fusca” e com boas razões para isso.
Meu tio talvez fosse injusto, exagerado ou até discriminatório em muitos dos seus comentários. Ele era um motorista que dirigia desde grandes carretas articuladas, como chofer dos carros de luxo dos donos da empresa a até mesmo os Fuscas de serviço da empresa, isso sem falar da velha Kombi com motor 1200 da família.
O tempo passou e essa conversa se apagou na consciência do meu tio, mas permaneceu dormente em mim por muitos anos.
Eis que vinte e tantos anos depois…
Posso dizer que além dos automóveis, tenho uma longa vivência com computadores, não só como usuário e entusiasta, mas como profissional e até como programador e projetista de hardware.
Ao longo desses anos, passei pelas mais diferentes e estranhas situações com usuários de computadores, até que um dia “a ficha caiu” e me vi em meio a um monte de “motoristas de Fusca” digitais.
Por um instante me vi na condição do meu tio. Após me tornar fluente em tantas linguagens de programação, aprendi que, lá no fundo, todas as linguagens possuem os mesmos mecanismos básicos e que existe uma maneira elementar comum a todas elas de se pensar no código do programa. Eu tinha a noção para a programação de computadores o que meu tio tinha de dirigir qualquer carro, e ambos estavam criticando quem ainda não tinha a menor noção disso.
Entretanto, havia ali um elemento a mais que me incomodava e que ia além da questão do talento. Tanto eu quanto meu tio nos esforçamos ao máximo para sermos melhores naquilo que fazíamos. Poderíamos estar longe dos melhores, mas de alguma coisa pelo menos aprendíamos.
Esses “motoristas de Fusca”, quando topam com uma dificuldade, querem a solução de mão beijada. Eles não querem se esforçar para aprender, mas sim algo dado mastigado para uso imediato, enquanto eu e meu tio somos da opinião que se deve ensinar a pescar e nunca dar o peixe.
Tudo para eles é difícil, tudo é complicado, tudo está além da sua compreensão e é obrigação que alguém, geralmente o “gênio” mais à mão, é quem tem a obrigação de explicar ou resolver de forma que eles não tenham que se esforçar.
Aí sim, essas pessoas incomodam. E muito.
A partir de então, comecei a perceber todo tipo de “motoristas de Fusca”, e até reconheço que me incluo em algumas destas categorias.
Quem é o tal “motorista de Fusca?”
Na forma como meu tio definiu na minha infância, “motorista de Fusca” é aquele motorista apegado a um único modelo de carro, incapaz de perceber que por trás dos diferentes modelos de veículos, o princípio de comandá-los e as respostas que oferecem são exatamente as mesmas.
Seguindo nosso exemplo, é claro que um Corcel é um carro diferente no Fusca, mas a diferença não é significativa ao ponto de impedir que alguém que só dirigiu Fusca a vida toda não possa dirigir um Corcel.
O importante para qualquer motorista é perceber as semelhanças, principalmente as funcionalidades que existem em comum. Se o botão de ligar os faróis tem um formato no Fusca e outro no Corcel, se é acionado puxando no Fusca e girado no Corcel, se está sobre o rádio no centro do painel no Fusca e do lado esquerdo no Corcel, nada disso é realmente importante.
O bom motorista sabe que o recurso existe, quer seja no Fusca, no Corcel ou em qualquer carro. E quando ele se apoia primeiro na funcionalidade básica e essencial, ele consegue dirigir qualquer veículo, após um curto período de adaptação ao novo modelo.
Já o “motorista de Fusca” é aquele apegado ao carro que ele dirige. É capaz que se oferecerem para ele outro “Fusca” com botão de farol em cor cinza ao invés do preto ele seja capaz de dizer que não sabe guiar aquele carro.
Quanto custa sentar no banco do motorista do Corcel e identificar onde está cada controle? 5 minutos? Pois são esses 5 minutos que os motoristas de Fusca não querem perder e é mais fácil sair criticando o Corcel porque é “difícil de dirigir”.
Quer matar um “motorista de Fusca”? Dê este Fusca para ele. Detalhe: mesmo com o volante do lado direito, o pedal do acelerador ainda é acionado pelo pé direito do motorista, mas a marcha é trocada com a mão esquerda.
A incongruência do motorista de fusca
A grande dificuldade do “motorista de Fusca” é que ele se sente confortável e seguro investindo na superficialidade. Ele tem um Fusca e sabe dirigi-lo (se bem ou mal é outra conversa), então para que complicar? Para que aprender a dirigir outro carro? Ele também se sente inseguro ou não está nem um pouco motivado a tentar opções mais complexas e profundas. Ele faz o mínimo e isso já basta para ele. O carro pode até oferecer recursos, mas ele não os explora. Ele tira do veículo um uso mínimo que o atende e isso basta. Aprender é muito difícil e dá uma preguiça…
Mas o motorista de Fusca tem o outro lado da moeda. Ele é superficialista, mas ele muitas vezes gosta de passar a imagem de que é um entendido no assunto.
Quantos de nós não tem um amigo que compra o celular mais caro na versão mais cara, tem aquele tremendo papo de pseudoespecialista para justificar que ele fez a compra inteligente, mas que no fundo só repete os materiais de propaganda divulgados na mídia? Hoje existem bons aparelhos na faixa dos R$ 1.500 que atendem quase todo mundo, mas o sujeito sempre vai inventar uma conversa para justificar a compra do aparelho que custa 4 ou 5 vezes mais.
Estes, quando contestados e caem em contradição, chegam a ficar furiosos. E a internet vem potencializando esse lado dos “motoristas de Fusca”. Eles são uma praga em qualquer grupo de discussão.
É um processo estranho. Ele quer parecer um entendido, mas ao invés de correr atrás de informação técnica de qualidade e de boa procedência, se agarra ainda mais na informação mais superficial, fácil de ser assimilada, mesmo que ela não diga absolutamente nada sobre nada.
Em 1998 alguns de vocês talvez se lembrem de um produto milagroso sendo vendido pela TV com comerciais intermináveis e com demonstrações a perder de vista, chamado Prolong. Era um aditivo importado que, conforme diziam, podia manter o carro funcionando sem óleo. Lembro-me bem disso, porque foi a razão da minha primeira mensagem na internet onde fiz explicações técnicas num grupo de automóveis.
O interessante deste caso é que muita gente defendia este produto com unhas e dentes. Não haviam testes, ensaios de laboratório ou qualquer coisa que abonasse o desempenho do produto, mas haviam dúzias de “especialistas” formados a partir apenas das informações da propaganda, e ainda assim estas pessoas eram tenazes na defesa das propriedades alegadas ao produto. E não adiantava querer argumentar e mostrar livros e coisas do tipo.
Profundidade no que havia sido dito não havia nenhuma, mas as pessoas apresentavam comportamento de que possuíam um conhecimento profundo.
Era a manifestação num ambiente diverso do “motorista de Fusca”.
Os “motoristas de compufuscas”
Quando a Microsoft lançou o Windows 8, uma das decisões mais banais da empresa se tornou motivo de revolta por toda internet. Ela decidiu que o botão “Iniciar” (“Start”) havia se tornado obsoleto, e o eliminou do novo sistema. O burburinho dos usuários revoltados foi tamanho, que trazer o botão “Iniciar” de volta ao sistema foi uma das razões para o lançamento de uma versão revisada (8.1) do sistema, algo raro na história da Microsoft. Foram realmente muito poucos que tentaram se adaptar à nova interface. A maioria simplesmente preferiu a cômoda posição de criticar a empresa.
E os mesmos “motoristas de Fusca” que faziam questão do botão “Iniciar” do Windows certamente usam smartphones com uma interface gráfica que não possui um botão “Iniciar”. Esta é a base da coerência do seu discurso.
O caso da Microsoft é uma boa amostra da força dos “motoristas de Fusca computacionais”, que na sua acomodação obrigam uma empresa a mudar uma decisão técnica só para não deixá-los insatisfeitos.
Esse mesmo comodismo pode ser visto nas críticas ao sistema operacional Linux justamente porque ele possui várias dezenas de interfaces gráficas diferentes, incluindo algumas com funcionalidades em 3D e janelas elásticas como gelatina.
Esses ‘motoristas de Fuscas digitais” defendem que o certo é a interface única, sem imaginação, sem personalidade, onde todos são absolutamente iguais e criticam justamente uma das coisas mais importantes do Linux, que é a liberdade de escolha que Windows e MacOS não oferecem.
Para estes “motoristas de infofuscas” e demais leitores, aqui vai uma informação importante:
Estas são fotos do sistema operacional gráfico pioneiro, o Xerox Spark, mostrando sua versão original de 1974 e uma mais evoluída de 1981.
Mesmo sendo pioneira, é possível ver que vários dos comandos básicos deste tipo de interface já estavam lá: janelas, botões, caixas de texto, caixas de desenhos, barras de rolagem, acionamento por mouse… Agora me digam que elementos básicos estão presentes na interface do moderníssimo Windows 10? Pois é. São os mesmos. Os mesmos que estão em qualquer interface dos computadores da Apple, do sistema Linux…
Defender que todos os computadores tenham a mesma interface gráfica para que não haja problemas de adaptação de usuários é o mesmo que defender que todos os carros da BMW, Mercedes, Ferrari, Ford e outras marcas tenham painel de Fusca pelas mesmas razões. É uma ideia completamente sem sentido.Por outro lado, se você domina o Windows tão bem quanto pensa, e baseia seu raciocínio nos elementos básicos de controle do ambiente, você usa qualquer sistema operacional gráfico.Não se engane. Ambientes gráficos vem sofrendo sim uma evolução ao longo dos anos na parte de interface, especialmente na parte de ergonomia, mas 99% do que vemos ser alterado é pura mudança estética, moda. E como toda moda, ela passa.
Neste quesito, quem usa Windows XP pode estar tão bem servido quanto quem usa Windows 10. Mas empresas como a Microsoft têm que mudar só para não parecer que continua o mesmo e com isso manter as vendas. Simplesmente isso.
A interface e o mecanismo
Tanto automóveis como computadores possuem uma característica em comum. Seus usuários utilizam uma interface para comandar a máquina, enquanto ela faz seu trabalho através do seu mecanismo. Esta característica permite aos usuários destas máquinas que as operem sem necessariamente ter conhecimento de como ela funciona em seus detalhes.É fato importante notar que todos os usuários operam as máquinas através das suas interfaces, mas são clientes efetivamente do mecanismo caixa-preta que operam.
Assim, embora o computador com interface gráfica tenha sido inventado na década de 1970 e aprimorado na década de 1980, ele pode ser facilmente operado por um usuário que aprendeu a mexer apenas recentemente.Da mesma forma, um motorista moderno pode dirigir um automóvel da década de 1930 sem muita dificuldade.A interface cria um tipo de relacionamento entre a máquina e o homem que a opera tanto de simplicidade como de independência da complexidade da máquina, mesmo que o tempo passe. Esta característica é muito importante, porque você não tem de retreinar as pessoas a operarem cada nova máquina que é lançada no mercado. Autoescola, por exemplo, você faz apenas uma vez.
Por outro lado, esta simplicidade é enganosa e é ela que cria os “motoristas de Fusca”, na medida que trás uma falsa sensação de domínio da máquina.
Abra qualquer fórum na internet sobre carros com preparação. Lá quase todos os participantes são “pilotos” enquanto os textos são pródigos em frases de efeito como “eu tenho braço, mas você é o maior bração…” ou “carro bom precisa ter treizqulimei de pressão”, mas nem uma vírgula falando sobre força centrípeta ou sobre ação e reação. Como alguém pode se considerar um “piloto” se não conhece o básico da física que nos foi apresentado pelo grande mestre Sir Issac Newton?
Conclusão: não só a internet, mas as ruas estão cheias de “motoristas de Fusca” querendo provar que são os “entendidos”, os “pilotos”, os “bons de braço” e assim por diante. E nós é que pagamos a conta dos rachas e outros absurdos e barbaridades que estes motoristas ineptos cometem.
Há também o comportamento contrário. A interface pode dar um controle que o usuário pode considerar como o suficiente e ele nunca irá além do básico. Pense naquele motorista pacato, que até tem medo de acelerar. Se dermos para ele um Porsche com motor de Fusca provavelmente ele nunca perceberá a diferença.
Esta é uma categoria de “motoristas de Fusca” especialmente comuns entre os usuários de computador. Ele se deslumbra com uma interface bonita, cheia de cores, formas e animações e especialmente uma interface que ele domina com muito pouco esforço.
O sistema operacional que roda por baixo, que é o que realmente todo usuário faz uso, pode ser muito fraco e ele não vai notar. Se colocar do lado deste computador um outro, com um sistema operacional parrudo e que tira proveito do potencial da máquina mas com uma interface mais crua, sem tantos refinamentos, mimos e frescuras, este usuário certamente vai falar muito mal dela.
A maldição de Steve Jobs
Steve Jobs certa vez disse que um programa de computador só estaria realmente pronto quando você o desse para uma criança e ela saísse usando com desenvoltura. As pessoas não deveriam aprender a usar um computador. O computador é que tem que se adaptar para que as pessoas os usem sem elas terem de aprender. Palavras de Steve Jobs.
Esta ideia ao mesmo tempo abriu os computadores para a grande massa de usuários, mas ao mesmo tempo impôs um padrão de infantilização desses mesmos usuários, ou em outras palavras, criou um paraíso digital para uma massa de usuários “motoristas de Fuscas digitais”.
A ideia de Jobs, revolucionária por um lado, oferece riscos importantes por outro.
Um bom exemplo nas próprias palavras de Jobs: que carro uma criança poderia sair usando diretamente, sem precisar de manual? Simples: um carro autônomo. Quem precisa aprender a dirigir se dispõe de um carro autônomo? Quem sentirá prazer ao dirigir se nunca aprendeu a dirigir? O carro fácil de usar, dentro do conceito de Jobs, é meramente uma ferramenta utilitária, sem gosto para usar.
Acredito que não seja necessário continuar com comentários nesta linha de raciocínio. Ainda assim, muitos ainda defendem ideias como as de Jobs como se fossem perfeitas, divinas, proféticas, sem efeitos colaterais indesejáveis. Porém a ideia de usar o poder do computador para simplificar a interação com o usuário ao mínimo oferece outros tipos de riscos.
A facilidade de uso sempre foi imperativa nos produtos da Apple, o que tem seu lado bom, mas também também criava regras como minimizar ao extremo funcionalidades e configurações, limitando o potencial do equipamento. Isso cria a falsa impressão de poder absoluto sobre a máquina por parte do usuário “motorista de Fusca maçã” e é uma das razões do deslumbramento dos usuários com os produtos da marca. Tire muitos usuários fiéis dos produtos da Apple e dê-lhes qualquer outra plataforma e verão como eles se comportam. E eles ainda acreditam que entendem alguma coisa de computadores.
Os auxiliares mágicos
Um recurso muito comum nos computadores para leigos são os programas de auxílio de configuração, os chamados “wizards”. O grande defeito dos “wizards” é que eles são meticulosamente estudados não para oferecer o melhor desempenho na função que realizam, mas serem capazes de operar sem problemas com qualquer configuração de hardware, de ambiente e de usuário que ele encontrar. Só que isso é conseguido geralmente às custas de eficiência.
As redes e processadores ficam mais lentos, os programas exigem mais memória, os sistemas de proteção como os firewalls ficam menos eficazes… Mas os usuários leigos acreditam fielmente que tem o melhor sistema de todos trabalhando para eles, quando na verdade possuem o mínimo. E o pior de tudo é que eles acreditam que dominam a máquina, quando é exatamente o contrário.
Um exemplo hoje comum: o roteador caseiro de internet . O seu roteador de internet é uma janela aberta da sua casa para o mundo digital, e assim como no mundo real, há todo tipo de riscos no mundo digital exterior que pode invadir a sua casa pelo seu roteador. Mas você rodou aquele programinha de inicialização do roteador, configurou login e senha com o provedor e sua internet está funcionando com todos seus computadores, tablets, smartphones, smartTV’s… E você acha que aquilo basta e que está perfeitamente seguro.
Não é bem assim. Uma boa proteção passa por ajustar recursos nas dezenas de páginas de configuração do seu roteador, algo que somente um especialista em redes pode conhecer. Então seu roteador pode até oferecer a facilidade para os “motoristas de Fuscas”, mas ele oferece recursos para uma proteção realmente efetiva.
A comparação com o roteador de internet que você tem é importante, porque muitos foram pegos de surpresa quando especialistas em segurança demonstraram ao vivo um ataque remoto a um carro conectado da FCA em um evento público de segurança de internet.
As pessoas executam os “wizards” que configuram todo dispositivo que parece rodar perfeitamente e acreditam que aquilo é tudo, quando não é. A segurança de um dispositivo conectado à internet, seja um roteador caseiro, seja um veículo conectado, é assunto para especialistas avançados em segurança digital e isso nunca mudará. Confiar no “wizard” é mera ilusão.
A soma do virtual com o físico
A questão é importante na medida em que o mundo virtual dos computadores está rapidamente se mesclando com o mundo físico dos automóveis. Carros, computadores e internet estão convergindo rapidamente, e este é um caminho sem volta. A facilidade de uso de Jobs migrará para os carros.
O carro autônomo será o ápice para os “motoristas de Fuscas” que se recusam a aprender a dirigir, mas até lá há muito que o sistema pode evoluir e já vem evoluindo, com resultados negativos.
Se o leitor lembrar que hoje já tem muita gente que não sabe estacionar o carro sem aqueles “wizards” que soltam bips que avisam a distância de obstáculos, digo que tem exemplo muito pior.
O exemplo disso é o ABS. Dizer que um carro com ABS é mais seguro é chover no molhado. Porém não é bem assim. O ABS é um dispositivo que reduz a distância de frenagem em caso de emergência. A forma correta de usá-lo é dirigindo exatamente da mesma forma como se dirigia um carro sem ABS. Em caso de uma frenagem de emergência, quem tem ABS ganha uma margem adicional na distância de parada, o que aumenta a segurança.
Mas o que dizem os “motoristas de Fusca”? “Carro com ABS freia melhor que sem ABS”. E em cima de um erro na percepção da realidade do ABS, o que o “motorista de Fusca” faz? Passa a dirigir mais próximo do carro da frente, porque o “ABS deixa”.
O que o “motorista de Fusca” não percebe é que quando ele anda mais próximo do carro da frente, ele absorveu a vantagem real oferecida pelo ABS e muitas vezes até extrapolou. E no exato instante que o ABS deixa de ser um dispositivo que aumenta a segurança para se tornar um dispositivo que aumenta o risco de acidente. O problema do ABS neste caso não é técnico, mas de comportamento ao volante.
E o número de “wizards” no automóvel, assim como o ABS, e que atendem por uma sopa de letrinhas não para de crescer. Um prato cheio para os “motoristas de fusca”.
Mudança de atitude
Hoje qualquer carro, mesmo os mais básicos, estão saindo com ABS, airbag (bolsa inflável) e computador de bordo, e este computador de bordo muitas vezes possui funções que interferem no funcionamento do veículo. Usar um automóvel moderno que possua tais recursos, sendo que o motorista não sabe como usá-los não é muito diferente de usar um carro de 20 ou 30 anos atrás. Sem saber como usar, ou a tecnologia perde seu valor, ou o humano passa a servir a tecnologia numa inversão de papéis.
A interface nunca deve ser o elemento de acomodação ou de intimidação.
São poucos os carros que podem rivalizar com o Maserati Boomerang de 1972 em termos de interface com o motorista:
O volante gira enquanto o miolo, recheado de instrumentos e interruptores, permanece fixo. É estranho de ver e estranho de usar, mas não deveria manter nenhum motorista afastado por isso, mas é o que se consegue com os “motoristas de Fusca”.
Esta atitude dos “motoristas de Fusca” é algo que precisa ser mudado, mas vivemos um mundo que privilegia e glorifica esse tipo de comportamento. Joga-se facilmente anos de aprendizado das sutilezas da nossa língua pátria em questão de segundos por usar emoticons no computador, num retorno aos tempos primordiais da escrita pictórica, e ainda muitos de nós são capazes de ir no cinema assistir um filme engraçado sobre eles.
Enquanto o mundo investe bilhões em inteligência artificial, investe-se também no emburrecimento natural da sociedade. Isto é muito perigoso.
Não importa a facilidade de uso. Todos tem de aprender ao menos um mínimo para usufruir ao máximo o que tem em mãos. Mas este aprendizado exige uma mudança atitude, do comodismo mofado para a curiosidade vivificante.
Isto é algo a ser pensado. E repensado.
AAD
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