Um dos carros verdadeiramente campeões de mercado é o Honda Fit. Se não tanto em quantidade vendida, em fidelidade do seus compradores certamente. Encontrar pessoas que estão em seu segundo ou terceiro Fit comprado em sequência é comum. Com mais de 15 anos no Brasil, tem uma legião de admiradores, que apreciam muito seu pequeno tamanho externo, grande espaço interno e uma incrível facilidade para dirigir.
No site da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), está incluído na categoria dos monocabs ou monovolumes, tendo vendido pouco mais de 17,4 mil unidades de janeiro a setembro de 2017, com 77% do segmento, Fiat Doblò em segundo lugar. Considero-o um hatchback com forma geral de monovolume, e novamente convoco o leitor ou leitora a observar como as divisões em categorias de carros são confusas e tênues na maioria das vezes.
Depois do primeiro modelo, que trouxe o assoalho quase plano para os passageiros do banco traseiro e um sistema de rebatimento de bancos de versatilidade sem igual, ficou claro que essas não eram características que poderiam ser mudadas, e o modelo atual os mantém.
Também notado facilmente desde o começo é a suspensão um pouco mais firme do que o agradável. Na maioria das vezes funciona muito bem, com estabilidade ótima, mas que deixa passar irregularidades do asfalto com facilidade, além de ser “seca” em valetas, lombadas e buracos com arestas, mesmo passando sobre eles com baixa velocidade. Não que seja algo de se escolher outro carro, mas chega a incomodar os mais sensíveis.
Mas o que mais chama atenção é o modo de dirigir o Fit, pela sua facilidade. Tem uma visibilidade impressionante para todos os lados. A direção é levíssima, bem como os pedais. O acelerador, inclusive, poderia ter uma mola de maior carga. Como está, quem não está acostumado a pisar com suavidade faz o carro dar um salto para frente a cada saída. Mas quem gosta de comandos muito leves — principalmente a direção — tem nele uma as melhores opções disponíveis.
Os espelhos retrovisores ajudam no trabalho tranquilo de dirigir o Fit. São enormes e bem-posicionados. Trocar de marcha só na versão básica, que tem câmbio manual. O EX do teste tinha câmbio CVT com simulação de 7 marchas, e funciona bem, com a possibilidade de utilizar a borboletas no volante para subir ou descer marchas. Subir quase nunca é necessário pois ele troca de marcha na hora certa, mas é prazeroso fazer a troca virtual por nossa vontade, não dos programas de computador. Já diminuir marcha manualmente é sempre bom e útil, como nas descidas quando se quer freio-motor ou se está dirigindo em ritmos mais forte num trecho sinuoso. Nesse uso, são excelentes, trabalhando bem rápido.
O modelo 2018 mudou algumas coisas importantes. Melhorias no painel de instrumentos, para-choques, farol e grade do radiador. Uma alteração importante e visível é o para-choque traseiro mais longo, afastando a porta de carga da extremidade do carro, para menor custo de reparo em pequenas batidas tão comuns em nosso trânsito caótico. No mercado cada vez mais concorrido, já é comum as marcas utilizarem os valores de reparos levantados pelo Cesvi-Brasil (Centro de Experimentação e Segurança Viária) para fazer propaganda de custo de reparação de batidas leves de seus modelos.
Já na dianteira a mudança é visual, acompanhando faróis de neblina e as duas fileiras de 4 LEDs na vertical de cada lado. Estas estão sempre ligadas, são luzes de rodagem diurna (DRL) para evitar levar multas quando se entra em rodovias. Os faróis e lanternas não têm acendimento automático, sempre bom para fazer o motorista não ficar muito relaxado, já que o carro todo leva a um dirigir tranquilo.
Os bancos não mudaram em sua composição estrutural. Tem apoios bons, tamanho correto e atrás, espaço em excesso, se é que isso existe. Poderia ter menos espaço para as pernas da maioria da população e ainda ser confortável, aumentando o porta-malas. Isso é facilmente percebido, bastando colocar o banco dianteiro todo para trás e sentar no traseiro. Com meu 1,80 metro de altura há sobra de espaço para as pernas, acomodando pessoas de mais de 1,90 m com facilidade. E o porta-malas poderia ser maior que os 363 litros atuais se o banco fosse colocado uns 30 ou 40 mm à frente.
Para versatilidade ampliada em relação a carros com bancos rebatíveis, o sistema do Fit é algo tão bem bolado que ficará difícil fazer algo melhor em um carro desse tamanho. O fato de se poder levantar o assento para trás e não haver o degrau onde se alojaria o tanque de combustível permite levar volumes altos na vertical, como malas grandes de viagem, por exemplo. Para apenas ampliar o porta-malas até 1.045 litros, rebate-se o encosto para a frente. Ele é dividido 60:40, como deveria ser obrigatório em todos os carros ou pelo menos seguido por todos os fabricantes.
Isso é possível pelo tanque de combustível estar à frente do espaço dos pés dos passageiros de trás, abaixo dos bancos dianteiros, quando a maioria dos outros carros o tem abaixo do banco traseiro. Sacada genial dos engenheiros de carroceria da Honda — teriam se inspirado no Jeep CJ-5? Agora imagine uma picape ou furgão fechado projetado a partir do Fit, com assoalho de carga mais baixo que os veículos desse tipo que já existem no mercado. O contraponto do tanque nessa posição é a capacidade pequena, apenas 45,3 litros.
Os encostos de cabeça dos bancos dianteiros tem um ângulo para frente muito acentuado e me incomodaram no primeiro dia de avaliação. No dia seguinte, resolvi retirá-los e montar ao contrário, com a inclinação para trás. Ficam ainda em posição não excessivamente afastada da cabeça, e não perdem a regulagem de altura. Dessa forma ficou muito mais confortável dirigir ou se acomodar no banco do passageiro. Se atendem às normas internas de validação da Honda para proteção de cabeça não sei, mas que o conforto melhorou muito, não resta dúvida.
No acabamento interno, agrada à maioria, com bons porta-objetos, todos de fácil acesso, embora nas portas eles sejam pequenos. Os bancos são confortáveis e há facilidade de se mexer dentro do carro, com entrada e saída fáceis. Tomadas de energia no console, uma circular, uma USB e uma Auxiliar, com portinholas indicadas com pintura em branco.
Boa solução é o porta-copos no lado esquerdo do painel bem abaixo da saída de ar: se a bebida for gelada vai durar mais tempo assim, mas há que se lembrar que ali é um ponto quase sempre exposto ao sol.
Tradicional em carros de origem japonesa, as aberturas de portinhola do tanque por cabo, cuja alavanca está muito bem localizada junto da de abertura do capô no lado esquerdo do painel, voltado para a visão do motorista, são antagônicas. Uma tem pintura branca para fácil visualização do ideograma, mas a do capô não. O porta-malas é travado e destravado junto com as portas e aberto por botão na tampa traseira, bem escondido na moldura que leva o emblema Honda.
Andando, carro liso. Com o CVT há quase nada de freio-motor em Drive, e um tempo de adaptação é requerido. Parece sempre que o carro está acelerando sozinho. As polias simulam sete marchas e isso ajuda a eliminar aquela sensação que o Josias Silveira sábia e humoristicamente definiu como “o motor vai e o carro fica”, ao se referir aos CVTs puros, sem as simulações de marchas. E como o Arnaldo Keller havia dito na avaliação do City, com mesmo motor e câmbio, essa pouca atuação de freio-motor faz não ser tão simples corrigir uma saída de frente apenas tirando o pé do acelerador, sendo também preciso um leve toque no freio, ou, se tiver sido percebido antes, reduzir marcha na borboleta esquerda.
A relação do CVT vai de 2,526:1 até 0,408:1, com relação de diferencial bem curta, 4,992:1, para compensar a relação mais longa do câmbio. A 120 km/h reais estabilizados gira a apenas 2.200 rpm, bom para manter o consumo baixo e silêncio a bordo.
Nos instrumentos, o básico necessário está presente, com velocímetro grande, conta-giros ótimo para entender um pouco melhor o CVT, temperatura do motor apenas por luz espia, mas que também mostra quando frio,e um computador de bordo mostrando distâncias e consumos. Ao lado do velocímetro, duas luzes curvas que mudam de cor conforme o consumo, de verde para verde azulado e depois azul, esta última sendo a que demonstra alto consumo, e a marcha-lenta estando assim categorizada. A lógica está correta e é educativa. Motor em marcha-lenta significa carro parado, e carros parados são consumidores de combustível sem produzir trabalho, um desperdício. Só por isso já se entende que o objetivo máximo das autoridades viárias deveria sempre ser promover a mobilidade, e não restringir as velocidades, que fazem o trabalho de carregar gente e carga demorado e ineficiente, além de ocupar espaço por mais tempo nas ruas.
O motor tem 115/116 cv e 15,2/15,3 m·kgf, é suave como de todo Honda, sobe de giro rápido e pode usar gasolina comum e/ou álcool. No uso pacato é bem silencioso, mas bem audível ao se pisar fundo, coisa que os clientes padrão do Fit pouco fazem, O consumo é bem variável, com álcool indo de 3,9 km/l em grandes congestionamentos até 14,0 km/l em estrada de limite 90 km/h andando tranquilo. Passa-se por números como 8 km/l em urbano livre, até 10,3 km/ em manhã de domingo cedo na cidade. Não avaliei o consumo com gasolina.
Para referência, o consumo oficial Inmetro/PBVE é 12,3/8,3 km/l na cidade e 14,1/9,9 km/l na estrada.
A Honda, como de (mau) hábito não informa desempenho.
O instrumento de tela central tem os habituais controles de som e pareamento de celular, leitura de arquivos alimentados pelas entradas USB e Aux e câmera de ré com três vistas diferentes selecionáveis, mais alta, mais baixa e grande angular para maior campo de visão. Mas não conta com navegador, um ponto polêmico.
É muito bem equipado, com VSA, o controle de tração e estabilidade da Honda, o assistente de saída em aclive, que complementa o creeping proporcionado pelo conversor de torque, que faz o carro andar sem acelerar quando não se está segurando no freio, além de ar-condiconado digital, luzes de LED nas lanternas traseiras, faróis de neblina e rodas de liga leve de desenho atraente.
O Fit é muito agradável à maioria, não empolgando quem gosta de dirigir com entusiasmo, mas tendo tudo que a maior parte dos consumidores precisa. Pelo que se apura em conversas com proprietários que compram Fits usados, só não vende mais zero-quilômetro devido ao preço, um pouco acima da média. Esse modelo EX, um degrau abaixo do topo de linha EXL, tem preço público sugerido R$ 75.600.
JJ
FICHA TÉCNICA HONDA FIT EX 2018 | |
MOTOR | |
N° e disposição dos cilindros | Quatro, em linha, transversal, flex |
Cilindrada (cm³) | 1.497 |
Diâmetro e curso (mm) | 73 x 89,4 |
Potência (cv/rpm, G/A) | 115 /116/6.000 |
Torque (m·kgf, G/A) | 15,2/15,3/4.800 |
Taxa de compressão (:1) | 11,4 |
Distribuição | 4 válvulas por cilindro, comando no cabeçote, corrente, variador i-VTEC de fase e levantamento conjugados |
Formação de mistura | Injeção no duto Honda PGM-FI |
TRANSMISSÃO | |
Tipo do câmbio | Automático CVT |
Conexão motor-transeixo | Conversor de torque |
Relações de marchas (:1) | Frente 2,526 a 0,408, ré 2,706 a 1,382 |
Espectro (:1) | 6,191 |
Relação de diferencial (:1) | 4,992 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, eletroassistida indexada à velocidade |
Voltas entre batentes | 3 |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 10,3 |
FREIOS | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/262 |
Traseiros (Ø mm) | Tambor/200 |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 6Jx16 |
Pneus | 185/55R16H |
Estepe | Temporário, roda de aço 4Tx15, pneu T135/80D15 |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em aço, monovolume, 4 portas, 5 lugares |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 3.998 |
Largura | 1.695 |
Altura | 1.535 |
Distância entre eixos | 2.530 |
Bitola dianteira/traseira | 1.482/1.472 |
Distância mínima do solo | 145,3 |
PESOS E CAPACIDADES | |
Peso em ordem de marcha (kg) | 1.101 |
Capacidade do porta-malas (L) | 363/1.045 com encosto banco traseiro rebatido |
Tanque de combustível (l) | 45,7 litros |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s, G/A) | n.d. |
Velocidade máxima (km/h, G/A) | n.d. |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL (INMETRO/PBEV) | |
Cidade (km/l, G/A) | 12,3/8,3 |
Estrada (km/l, G/A) | 14,1/l/9,9 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em D (km/h) | 54,8 |
Rotação a 120 km/h D (rpm) | 2.200 |