Holandês brilha. Inglês definha. Alemão respira.
A vitória de Max Verstappen, a corrida discreta de Lewis Hamilton e os dramas da Ferrari são os principais aspectos a considerar para uma análise fria do último fim de semana que a F-1 passou na Malásia. Os altos índices locais de umidade e temperatura tiveram efeitos bem diferentes em cada uma das três maiores equipes de uma temporada que entra no seu último quarto: os próximos GPs do Japão, Estados Unidos, México, Brasil e Abu Dhabi formam um cenário que tem tudo para, a julgar pelo que se viu em Sepang, sofrer reviravoltas esperadas.
Alguns autoentusiastas entenderam a atuação de Lewis Hamilton como uma demonstração de maturidade; chegaram até a mencionar que Ayrton Senna, seu ídolo, foi sua inspiração para tanto. Discordo dessa leitura: Senna jamais correu para chegar em segundo, e mesmo em situações onde o confronto direto justificava uma apresentação conservadora, não o fez. Exemplo claro disso foi sua vitória no GP de Mônaco de 1992.
“A única chance que eu tinha de derrotar o Mansell era estar o mais próximo dele para aproveitar algum erro ou problema mecânico”, declarou o brasileiro ao vencer uma corrida na qual assumiu a liderança da corrida quando furou um pneu do carro do inglês.
No caso de Hamilton e Sepang, a desistência de 2016, motivada por um motor em chamas, o fato do motor do seu carro estar no fim da vida útil e o estado de graça que envolveu o aniversariante do fim de semana, não permitiram maiores arroubos ao inglês. Exceto um ensaio de ataque nas últimas dez voltas da prova, ele jamais foi páreo para o holandês; quando isso aconteceu ele reagiu com autoridade para esfriar o ímpeto do atual líder do campeonato.
Finalmente na casa dos 20 anos, Max Verstappen adiou a festa de seu aniversário em um dia e festejou com uma daquelas vitórias que servem para colocar ordem na casa mas não chegam a cortar o mato do terreno. Seu companheiro de equipe Daniel Ricciardo tem praticamente o dobro de pontos (177 a 93), venceu uma prova e subiu oito vezes ao pódio; Max tem uma vitória, dois pódios e uma série de abandonos por motivos técnicos ou não que não ajudam a amenizar essa situação. Ele precisava da vitória conquistada e agora só lhe falta uma postura mais madura para consolidar toda a esperança que seu estilo arrojado despertou.
Não é o caso de dizer que o cavallino rampante subiu no telhado, mas as declarações mais recentes de Sergio Marchionne, o bam-bam-bam da FCA (e por tabela da Ferrari), deixaram claro que cabeças vão rolar no departamento de motores da Scuderia, afinal foi nesse departamento que ocorreram as falhas que impediram Sebastian Vettel de disputar a prova de classificação e Kimi Räikkönen de disputar o GP.
“É fato que temos que tivemos problemas com nossas unidades de potência porque temos uma equipe jovem no departamento de motores. Já tomamos as ações necessárias (para corrigir isso)”, declarou Marchionne em um evento realizado ontem em Rovereto, na Itália. Não se surpreenda se mudanças importantes acontecerem em breve sem que sejam comunicadas publicamente…
Na casa Red Bull o bom desempenho de Verstappen e Ricciardo deixou claro que a equipe comandada por Christian Horner e Adrian Newey sabe aproveitar muito bem o potencial do motor Renault V-6. Este fato serve de estímulo à equipe oficial da marca (ainda em fase de reconstrução) e de consolo à McLaren. Ainda com os motores Honda, ela viu seus dois pilotos participando do Q3 — o terceiro treino classificatório que determina as 10 primeiras posições no grid — e Stefan Vandoorne terminar em um sétimo lugar, algo que meses atrás era literalmente inviável. Por sua vez, a Toro Rosso vê em tons cada vez mais alegres o futuro: no ano que vem caberá a ela ter seus carros impulsionados pelo motor japonês.
Todo esse panorama acaba criando um novo cenário para a fase decisiva do campeonato deste ano, quando 125 pontos estão em jogo. Hamilton, Vettel e Verstappen são pilotos de estilo arrojado que poderão se envolver em disputas de alto risco, consequentemente influenciando diretamente a definição do campeão da temporada. Será que o inglês terá frieza suficiente para aproveitar a folga de 34 pontos que tem sobre o alemão? Dos três, o que tem menos a perder é Verstappen, e é ele quem tem o currículo mais marcado por acidentes e toques. Os demais três cavaleiros já tem papel bem definido: Ricciardo é quem tem a melhor relação cabeça fria-pé pesado; Räikkönen mostra-se cada vez mais instável e Bottas paga o pedágio de desenvolver partes do carro para 2018.
WG