O ano era 2004 e o mês, julho. Na época eu tinha apenas 16 anos e trabalhava como office boy. Após um longo período sem termos um carro, meu pai me deu a notícia de que teríamos um novo membro automobilístico na casa. Ele já vinha olhando carros há algum tempo e tinha comentado que buscava um Voyage (o quadrado, pois o G5 só sairia em 2008) para facilitar nossa vida.
Lembro-me perfeitamente do momento em que ele me ligou para contar que havia mudado de ideia, escolhendo outro carro. Até então eu já estava me acostumando com a ideia de termos um Voyage, carro que eu sempre achei legal, principalmente em sua versão Sport 1.8 e, portanto, fiquei decepcionado com a nova escolha.
Porém, essa decepção durou apenas poucos instantes, uma vez que nesta mesma conversa ele proferiu a mítica sigla “XR3”. O som dessas letras juntas ecoou na minha cabeça e, no mesmo instante, a pequena decepção se transformou em alegria, principalmente no momento em que ele me contou que o carro estava bastante inteiro, original e tinha poucas coisas a serem feitas. Recordo-me que fiquei extremamente empolgado ao saber que, naquele carro, especificamente, os pneus da frente eram mais largos, para dar mais tração ao AP 1.8S.
Chegado o dia de buscar o carro, quando vi mal pude acreditar. Um Escort XR3S 1.8 1991 na cor cinza Jaguar perolizado. No dia, as coisas que mais me impressionaram foram as rodas aro 14, que brilhavam muito, pois haviam sido recentemente diamantadas; o escapamento, que tinha um som grave muito legal, e o charmosíssimo teto solar. O carro era bastante esportivo e tinha um visual muito bacana, mesmo com seus 13 anos de idade. Sem contar que era o que Senna usava no fim dos anos 80, quando estava no Brasil.
O carro tinha algumas coisas por fazer, pois havia sido barato na época. Lembro que pagamos R$ 6.200,00. Entre os reparos necessários, havia o carburador (não estava abrindo o segundo estágio), a luz de funcionamento parcial do sistema de freio e alguns detalhes na lataria. Mas nada disso parecia grande problema pra mim na época, pois estava completamente apaixonado pelo carrinho.
Em pouco tempo, após meu pai muito relutar, eu tive minhas primeiras experiências ao volante de um carro, pois, na época em que ele havia tido outros carros (Fiat 147 e Passat L), eu ainda era muito pequeno. Lembro que as primeiras duas aulas foram somente de embreagem, em que aprendi a colocar o carro em movimento e a operá-la para ter o máximo de controle. Após isso, fiz algumas outras aulas de direção, propriamente ditas, com meu pai.
Foram momentos sensacionais, pois durante toda a minha infância eu imaginei como seria dirigir de verdade e, finalmente, aquele momento havia chegado. Para complementar o sentimento de alegria, tratava-se de um carro que me agradava tanto na aparência quanto no conforto e potência, o que, para mim, era mais que o suficiente na época.
Infelizmente, não tive a oportunidade de dirigir o carro habilitado, pois meus pais se separaram e, depois de algum tempo, meu pai vendeu o XR3 para comprar um Gol G4 prata. Fiquei extremamente chateado, pois o Gol era sem graça, não tinha o ronco legal do XR3, era 1,0 e ainda por cima tinha cor de carro de frota.
Recentemente, fiz uma pesquisa na internet e consegui descobrir que o dono atual do XR3 é o mesmo que o comprou do meu pai há 10 anos, o que me dá a esperança de conseguir recomprá-lo um dia. Enquanto não tenho capital para isso, resta-me olhar a sua foto e lembrar dos momentos legais que tive ao seu lado!
Conrado Pimenta
Belo Horizonte – MG