Para comemorar os 20 anos de produção do Civic no Brasil, a Honda promoveu nesta semana que termina um evento na Fazenda Boa Vista, em Porto Feliz, SP, onde foi colocado à disposição um modelo LX 1997, o primeiro produzido no país, e outro 2017, para avaliações estáticas e dinâmicas, promovendo um verdadeiro “revival” automobilístico.
A parte da fazenda ainda não loteada foi um excelente local para as avaliações veiculares, com aclives, declives, retas e curvas sinuosas com piso de asfalto de boa qualidade. E sem falar dos acessos com calçamento de pedras desencontradas que serviram para avaliação de conforto e ruído. Senti-me em um campo de provas, obviamente guardadas as devidas proporções.
Entrando um pouco na história, menos de dois anos depois de anunciar oficialmente seu plano de produzir automóveis no Brasil, a Honda inaugurou em outubro de 1997 a sua fábrica no município de Sumaré, interior de São Paulo, distante 120 quilômetros a noroeste da capital, com capacidade inicial instalada de 15 mil Civics/ano. A Honda já estava no Brasil desde 1971, importando e produzindo motocicletas em sua fábrica em Manaus, o que beneficiou o conhecimento dos costumes e desejos do povo brasileiro neste ramo tão competitivo de fabricação de automóveis.
E foi o primeiro Civic LX produzido em Sumaré em 1997, preservado como um ícone pela Honda, que foi oferecido para as avaliações. Imagine o leitor ou leitora dirigir um veículo praticamente zero-quilômetro com 20 anos de vida. A versão LX avaliada tinha motor 1,6-litro, comando de válvulas no cabeçote e 16 válvulas, de 106 cv, câmbio automático da própria Honda (Hondamatic, que não é epicicloidal), direção assistida hidráulica, volante com regulagem de altura, todos os vidros com acionamento elétrico, abertura do porta-malas e tampa do tanque de combustível com acionamento interno a cabo, suspensões independentes com braços duplos paralelos, bolsas infláveis para motorista e passageiro e barras anti-invasivas nas portas, relevante item de segurança. As barras nas portas chamaram-me a atenção, pois ainda hoje muitos veículos fabricados no Brasil ainda não as têm.
Com linhas clássicas, o Civic 1997 é um exemplo de veículo bem-manufaturado, passando a imagem de qualidade percebida tanto externa quanto internamente. A pintura, as folgas de carroceria, os materiais de acabamento, bancos, revestimentos, painel de instrumentos e controles, impressionam por serem bem-feitos. Tudo parece no lugar certo dando um ar de sofisticação e simplicidade ao mesmo tempo. Só estranhei o desenho das calotas tipo turbina, todas iguais, por isso ficando o esquerdo girando em sentido errado. O painel de instrumentos, com material de textura belíssima, me induz a sentir o toque com as mãos. É tão bonito e bem-feito que não me cansei de admirá-lo.
As avaliações dinâmicas mostraram um veículo equilibrado, seguro, confortável, com boa dirigibilidade e desempenho. Caixa automática de quatro marchas com trocas suaves e sistema que em descidas mantinha marcha mais reduzida para se obter o freio-motor. A direção tem pouca assistência, apresentando esforço algo alto, pelo padrões de hoje, em manobras de estacionamento. Em piso irregular (pedras desencontradas) ficou evidente o ajuste firme das suspensões, passando aspereza para o interior do veículo. Por falar em interior, o rádio AM/FM com toca-fitas cassete auto reverse me fez viajar ao passado.
Ponto de destaque para os freios sem ABS com excelente modulação e capacidade de desaceleração, não apresentando travamento prematuro das rodas mesmo em frenagens mais fortes. É o que eu sempre comento em minhas matérias, um típico bolo bem feito. Excelente posição de dirigir e bancos confortáveis, com bom apoio lateral. O apoio positivo para o pé esquerdo valorizou ainda mais o sentimento de veículo bem desenvolvido em termos de projeto e qualidade.
O Honda Civic hoje
É óbvio que em termos gerais o Civic atual é mais chamativo que o modelo anterior, embora em minha opinião, o estilo clássico tenha dado lugar a um estilo mais futurista que o necessário. Enfim, gosto não se discute. Certamente os mais jovens vão gostar mais do modelo 2017 do que do clássico 1997. Com desenho marcante, o teto em queda para trás do novo lhe dá aparência de um fastback. E fica a pergunta, será que o consumidor conservador de sedãs médios entendeu a proposta futurista da Honda?
O novo Civic Touring, 10ª geração do modelo que completa 20 anos de Brasil
O modelo Touring avaliado me pareceu ser um veículo completo em termos de acessórios e facilidades. O interior tem bom acabamento com bancos revestidos em couro e painel digital deixando uma impressão de valor agregado. Como diria o cantor e compositor Raul Seixas, “tanta coisa no menu que eu não sei o que comer”. Para pessoas mais altas, o espaço traseiro fica limítrofe para a folga entre a cabeça e o teto, porém de maneira geral, apresenta um sofisticado e confortável habitáculo.
A versão Touring avaliada tem motor 1,5-litro turbo somente a gasolina, injeção direta, com 173 cv, câmbio automático CVT com pré-seleção de sete marchas simuladas, freio de estacionamento elétrico com atuação automática nas paradas, partida sem chave, teto solar, controles de estabilidade e tração, sete bolsas infláveis, monitor de ponto cego somente do lado direito mostrando a imagem da estrada na tela central, bancos com regulagem elétrica, faróis totalmente a LED e sistema de áudio completo compatível com Android Auto e Apple Car Play.
Nas avaliações dinâmicas o veículo impressiona positivamente pela estabilidade direcional contando com a ajuda da direção eletroassistida de relação variável — mais lenta ao centro e mais rápida com maior ângulo de esterço. Os freios a disco nas quatro rodas são muito potentes, porém muito sensíveis, com pouca modulação no início do curso do pedal. O motor é bem elástico, garantindo muita potência já em baixas rotações com marcante sensação de desempenho . Segundo a Honda, o veiculo acelera de zero a 100 km/h em oito segundos.
Chama a atenção o conforto de rodagem em todas as situações, mostrando um bom compromisso dinâmico. O nível de ruído interno é muito baixo mostrando claramente o cuidado com a escolha dos materiais e do isolamento acústico. O câmbio CVT com simulação de sete marchas físicas dá conta do recado, com sensação parecida com as caixas automáticas epicíclicas, as convencionais.
Elogios à Honda pela maneira simpática de conduzir este evento, com simplicidade e eficiência, alcançando certamente o objetivo proposto, o da valorização da marca no Brasil.
CM