Discutir se o mercado deve ou não ditar as normas e pautar custos para tudo é assunto para páginas e mais páginas de texto. Pois é, caros leitores, não vou fazer essa maldade com vocês, mas convenhamos que em alguns casos discutir sobre isso é absolutamente inútil — caso dos seguros, por exemplo. Aí essa é a lei que mais se aplica, a única quiçá. Quanto mais se usa, mas se paga ou, na linguagem técnica, quanto maior a sinistralidade, maior os prêmios pagos. E aí faço uma ressalva: sempre achei irônico falar em “prêmio” algo que quem paga é quem é prejudicado. Mas, vá lá, essa é a palavra que se usa em português enquanto nos outros idiomas usa-se geralmente “prima”. E, parente por parente, prima tudo bem, não?
Recentemente alguns meios de comunicação publicaram uma notícia de que algumas seguradoras estariam se recusando a fazer ou renovar apólices de veículos com domicílio no Rio de Janeiro justamente por causa do elevado índice de furtos e roubos. Segundo diversos corretores, eles teriam sido informados sobre a nova política. Depois de alguma confusão, as seguradoras negaram isto e alegaram que tratava-se de um caso pontual de uma corretora que apresentava problemas pontuais mas que elas faziam, sim, seguros de veículos no Rio de Janeiro. É um caso de “veja bem”. Diversas empresas já não aceitam segurar cargas que transitam pela cidade do Rio de Janeiro pelo mesmíssimo motivo ou, quando o fazem, as apólices são consideravelmente mais caras. Muitas transportadoras se recusam a levar mercadorias pela metrópole ou, quando o fazem, cobram muitíssimo mais já prevendo os prejuízos.
A BNP Paribas Cardif foi uma das raríssimas que reconheceu o problema e alegou que a suspensão é temporária e que as vendas devem voltar assim que a situação da violência do estado melhorar. Sem dúvida é uma situação triste e que prejudica quem mora naquela cidade, mas a lógica das seguradoras não segue padrões benemerentes. E aí as leis do mercado são as preponderantes: quanto maior o risco, maior o custo. E não dá para negar que o risco no Rio é altíssimo.
Os afetados são todos, transportadoras e condutores de carros particulares. Apenas para ficar num exemplo, o número de roubos de veículos na região do Méier, bairro da Zona Norte do Rio, aumentou 66% em relação ao ano passado segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP). A equipe de reportagem do G1 fez cotações em seis seguradoras com um veículo ano 2011 e outro mais novo, ano 2016, e mostrou que os valores tiveram quase 200% de aumento em relação ao ano passado devido ao aumento da violência no local.
A pesquisa do G1 mostrou que o seguro de um carro popular de duas portas, com motor 1,0, fabricado no ano 2011 e modelo 2012, avaliado na tabela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) com valor de mercado de R$ 18.429, foi cotado entre R$ 2.443 e R$ 3.822 para endereço fixado no Méier. No ano passado, o seguro do mesmo veículo custava R$ 1.330.
Já o veículo quatro portas, com motor 1,3, fabricado em 2016, modelo 2017, avaliado pela tabela Fipe em R$ 39 mil, a cotação do seguro chegou a R$ 4.098,33. No ano anterior, ele fora cotado em R$ 1.603.
Mesmo motoristas de aplicativos como o Uber têm encontrado dificuldades em fazer seguros na cidade. A Ituran, empresa de monitoramento de veículos, faz cobertura de carros Uber em São Paulo, mas não no Rio — a empresa nega que imponha restrições geográficas, mas há registros de veículos que tiveram o serviço recusado, segundo alegam, por causa do CEP onde estão registrados.
No Rio de Janeiro registram-se 150 roubos de veículos por dia. Em agosto, o ISP do Rio de Janeiro divulgou que houve 59,5% de aumento no número de roubo de veículos na comparação de julho com o mesmo mês de 2016. Foram 4.953 roubos contra 3.105 do ano passado. Foram 1,8 mil roubos a mais, totalizando 4.953 registros. Quando a comparação é entre os sete primeiros meses de 2017 e 2016, o salto é de 42,9%.
A zona Sul do Rio também está nesse perrengue. Historicamente com registros mais baixos de roubos, no primeiro trimestre deste ano houve um aumento de 45,77% na incidência desse tipo de crime, notadamente nos bairros da Lagoa, Flamengo e Ipanema. Mas a Ilha do Governador, na zona Norte, também registrou grande aumento de roubos: 77,56% mais no primeiro trimestre quando comparado com o mesmo período do ano passado.
Há meses esse tipo de crime vem aumentando. Em junho, o roubo de veículos cresceu 37,6% quando comparado com junho de 2016, mas maio e abril já haviam registrado altas de 41,1% e 50,1%, respectivamente.
Claro que isto não é de agora. Em maio, o assunto já havia sido tema de preocupação para a Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), que divulgou que no primeiro trimestre de 2017 haviam sido roubados 100 veículos segurados por dia, o que representava um aumento de 16% ante os 84 veículos por dia do mesmo período de 2016. Segundo a Federação, 90% dos roubos haviam ocorrido na capital fluminense e na região metropolitana do Rio de Janeiro.
De acordo com a entidade, o Rio está entre os quatro piores resultados do País em termos de roubos de veículos nas capitais, junto com Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais — mas aí também estamos falando em números absolutos, o que é meio óbvio. No Nordeste, Pernambuco lidera os roubos de veículos.
As seguradoras há algum tempo adotam algumas medidas de controle dos prejuízos. A regulação dos preços é uma delas mas a regulação das subscrições é cada vez mais comum. Isto é, nada mais e nada menos do que negar o seguro para alguns bairros. Ou então colocar um valor tão alto que fica inviável fazer seguro do bem. Tudo isto, reconhecido pelo presidente da FenSeg, Júlio Rosa. Segundo a Federação, somente 30% da frota nacional têm seguro.
É claro que isso não acontece apenas no Rio. Comento isso pelo fato de que as seguradoras já se movimentam para tentar reduzir os prejuízos sem deixar de atender um importante mercado para elas, tanto do ponto de vista mercadológico quanto estratégico. Mas é claro que paga-se mais por isso. Aliás, sempre pagamos mais por tudo devido aos custos da violência, pois ao comprar um quilo de arroz que seja está embutido nele o custo maior do seguro e do frete devido à violência. Triste, muito triste, sem dúvida.
Mudando de assunto: terminou a temporada de Fórmula 1 e começa a temporada de síndrome de abstinência da Norinha. Serão quase quatro meses de espera. Paciência. Corrida chochinha, tanto que o mais empolgante foram as disputas entre Massa e Alonso e entre Stroll e Grosjean. Ou seja, chochinha. De interessante para mim foi ver pela primeira vez o circuito onde estive este ano de férias. Foi muito legal ver o hotel em que estive hospedada, reconhecer as curvas, ver a linda ilha de Yas… Mas preciso falar também de outra coisa aqui: o vereador Eduardo Suplicy acaba de perder sua CNH por excesso de multas. E emitidas por radares na cidade. Suprema ironia, a maioria por excesso de velocidade. Irônico mesmo, pois Suplicy foi o mais votado de São Paulo e é um ícone do PT (partido que sempre negou que houvesse indústria da multa na cidade). É considerado “boa praça”, pacato e, digamos, um tanto devagar em geral. Esta não é a primeira vez que Suplicy “perde” a CNH. Em 2001 isso já havia acontecido. Naquela época, Celso Pitta (do PPB) acabava de deixar o cargo ao perder as eleições para Marta Suplicy (então no PT).
NG