Seja sincero! Quando, após algumas semanas ou muitas você vai até seu veículo antigo em sua garagem, e a poeira, gotas de óleo no chão de seu carro tentam lhe dizer:
E aí, meu velho, preciso rodar um pouco ou de uma manutenção básica para veículos que rodam pouco! — seu carro tenta conversar com você.
Você remove cuidadosamente a capa, muita poeira que nela está, dobra-a e a coloca ao lado e seu veículo tenta lhe dizer:
Oi, amigão, preciso de uma mão extra de cera ou até mesmo um espelhamento profissional!
Ele sente você dando uma volta em torno dele, ele mostra os pneus com pressão baixa ou murchos. Você abre sua porta e escuta aquele ranger de falta de uma aplicação básica de WD40, entra e fecha a porta. Esquecido por algumas semanas, seu veículo fica ali se lembrando de que logo após sua compra ou restauro, você, como proprietário, não parava de mimá-lo, e agora ele está ali, esquecido.
Você puxa o afogador, coloca a chave sem muito facilidade na partida, sem manutenção do tambor, vira a chave e as luzes do painel acendem fracas. Girando a chave, escuta apenas estalos no motor de arranque, aquele que não passou pela revisão e agora vai deixá-lo na mão, não ligando o motor.
Vamos lá amigão, me faz uma manutenção! — é seu carro insistindo em conversar com você.
Bombadas fortes no pedal do acelerador, nova virada de chave, o motor sem sinal, e agora forte cheiro de gasolina, carburador encharcado pela boia presa por ter ficado seca e sem manutenção.
Esse seu garoto aqui precisa de uma manutenção especializada!!!
Dentro do seu carro, sua cápsula do tempo, o mundo para, porém a manutenção de seu veículo não! Você se perde em seus pensamentos, pois não seguiu ou criou guia/rotina de manutenção para seu velho amigo e por conta disso ele esta ali estático e imóvel.
E aí? Vamos dar uma voltinha até o nosso mecânico de confiança? — tenta ele lhe dizer agora.
Automaticamente você se lembra de que o serviço foi agendado, mas você não o levou até a oficina. A claridade não aumenta, pois seu velho amigo não conseguiu sair da garagem ou de sua vaga.
— Vamos lá, garotão! — você diz com um misto de irritação e desespero.
Que nada! Como ir, se estou sem manutenção básica? — ele retruca.
Você e seu veículo antigo agora devem aguardar a visita do mecânico ou da plataforma de resgate. Sua sensação de impotência é multiplicada e dividida com os observadores que nessa hora aparecem de todos os lados. Sente aquela sensação de ter um “carro velho” e não um “veículo antigo”, mais por sua própria culpa!
Sem sentir, você é conduzido em suas lembranças sobre a manutenção dele, de que deveria ter feito mas não fez. Deveria ter levado mas não levou; deveria ter mantido a manutenção em dia mas não manteve.
Curiosos cercam seu carro. Nesta hora todo mundo dá palpite. Todo mundo é mecânico gratuito!
— Probleminha simples, estou aguardando o mecânico, ele logo estará aqui. — diz você aos curiosos que o rodeiam.
De uma distância segura, você e seus amigos conversam, trocam medidas provisórias do que fariam para seu antigo rodar de novo, trocam palpites, mas não deixam de comentar “gambiaras” que só aparecem nestas horas. O tempo demora uma eternidade. Já é hora de irem embora e nem saíram do local.
Abraço do mecânico amigo, ele sorri. Comenta que terá que levar seu antigo para a oficina. Antes de sair, uma buzinadinha básica para se despedir de você. A plataforma saindo e atraindo as atenções dos observadores de plantão. Uma saída constrangedora com um toque de “vende este carro, ele nunca funciona” que se escuta sempre nestes momentos…
A plataforma inicia o caminho de ida à oficina, mantendo a velocidade típica de caminhão-plataforma, um desfile sem glamour. Outros veículos passam por ele sem o notar seu amigo sendo levado.
Sem medo, você diz para você mesmo, manterei a manutenção mecânica e elétrica em dia! Juro!
Novamente você olha a vaga vazia. Menos luminosidade, vê-se no fundo da garagem a capa dobrada sem seu conteúdo, sem seu velho amigo. Antes de ir embora, você coça a cabeça de leve com a mão, olha a capa mais uma vez, se despede e pensa tomara que logo ele esteja aqui de volta!
Importante é não deixar mais que isso se repita; a sensação de vazio é enorme dentro do peito e coração, a alegria só irá se renovar quando ele voltar.
Um abraço para você. Que seu auto antigo esteja sempre com a manutenção em dia, seja seu único veículo ou vários deles, porque a pane elétrica ou mecânica sempre lhe espera num passeio em sua garagem!
Mas, me diga uma coisa: seu auto antigo já conversou com você?
Marco Rebuli
Curitiba – PR