Na última reunião do ano da Anfavea com a imprensa, no dia 6 deste mês, notava-se certa contenção nos ânimos. O ano se iniciara com perspectivas de crescimento modesto, da ordem de 4% até este dezembro e os dois primeiros meses haviam sido desastrosos, com vendas acumuladas 6,4% inferiores a mesmo período de 2016. Na metade do ano, com vários sinais de retomada robustos, a Anfavea reviu as estimativas para um crescimento de 7,3%. As vendas até novembro somam 9,8% superiores a 2016 e devemos fechar o ano com dois dígitos de crescimento.
Creio que o que puxou o otimismo para cima foi a venda de caminhões. Último a reagir, há dois meses notou-se o aquecimento de vendas já atingia todo o segmento. Em novembro registrou-se licenciamento de 5.472 veículos, até então a média mensal de emplacamentos mal superava 4 mil unidades. A safra recorde deste ano deu a sua contribuição impulsionando especificamente os caminhões pesados.
Segundo o presidente da Anfavea, Antônio Megale, já temos vários sinais positivos e em novembro registrou-se a melhor média diária do ano, superando 10 mil unidades. Na verdade, superou-se também novembro de 2015. Foram 204.205 autoveículos, 197.647 leves.
O ritmo de emplacamentos segue aquecido e permite projetar crescimento semelhante em 2018, novamente superior a 10% sobre este ano, há estimativas que apontam para +15%. Porém contamos com certa estabilidade política e ela parece longe de acontecer. A reforma da Previdência deve mesmo ficar para votação para o primeiro trimestre e todos ainda apostando seja aprovada a idade mínima. O comportamento do parlamento hoje não permite a este editor alinhar-se a essas apostas, por maior que seja minha torcida. Sem a aprovação da reforma em 2018 haveria um freio na recuperação e nos ânimos do consumidor. Um desastre evitável. Que Deus ilumine nossas casas legislativas.
Da apresentação da Anfavea apanhei um slide com gráficos que julgo melhor reflete o desempenho do setor no ano. Até abril, nota-se uma retração sobre 2016 no ritmo de emplacamentos e a partir de maio veio a reversão.
RANKING DO MÊS E DO ANO
Citroën e Mercedes foram as marcas a que mais cresceram em novembro, ambas com um salto de 25%, seguidas da Nissan, com +19%, Peugeot, com 13% e VW com 8%, esta graças ao lançamento de seu mais novo compacto global, o Polo (foto). Na outra ponta da tabela, temos Land Rover, com -22%, Renault com -17%, Audi e Mitsubishi, com -16%. Em novembro, registrou-se licenciamento de automóveis e comerciais leves 1% superior a outubro.
O modelo mais vendido do mês foi o Onix, completando dois anos de liderança absoluta e aumentando a distância de seus rivais. Na soma dos onze meses, o pequeno Chevrolet cresceu 27%, enquanto o segmento de compactos, cresceu 12% e o mercado total, 10%. Neste ano o Onix recebeu a vinda de dois novos concorrentes de peso, o Fiat Argo e VW Polo e mesmo assim não parou de crescer. Nota-se que a estratégia da GM em substituir os descontinuados Celta e Classic por um Onix de entrada, o Joy, foi mais que acertada. Hoje ele responde por cerca de 40% das vendas totais do modelo.
O Ford Ka parece ter tomado o lugar do HB20 na segunda posição, com 9.067 unidades licenciadas, seguido do coreano, com 8.527, Gol, com 6.290, Prisma em 5º, com 6.014 e Corolla com 5.537. Argo já figura em 8º, com vendas evoluindo para 5.000/mês, na direção das expectativas da marca.
Jeep Compass, um suve médio, lidera o segmento, a despeito de seu preço ser 20-25% superior aos compactos, Creta tomou o segundo posto do HR-V, com 4.164 unidades, seguido de perto pelo Kicks nacional.
O Fiat Strada consolidou-se na ponta, com 5.295 unidades emplacadas, seguido pela Toro, com 3.950, Saveiro, com 3.612, Hilux, com 3.112. Amarok manteve-se em 10º lugar no ranking e o lançamento de sua versão V-6 TDI deve esquentar as vendas do modelo e do segmento, uma motorização bem superior a seus rivais e preço no mesmo patamar das versões de topo da Hilux, S10 e Ranger, seguramente vai balançar a cabeça dos consumidores.
A picape Nissan Frontier, apesar de ótimo produto, não decolou. Não sabemos se a rede se encontra preparada para disputar compradores de S10, Ranger, Hilux, Amarok e L200, ou se há limitação de volumes por conta do acordo bilateral com o México, onde é atualmente produzida. A Frontier, quando veio ao Brasil, há cerca de 16 anos, balançou o setor.
Este mês tivemos o início das vendas do VW Polo, que AE testou e gostou, tanto do !,6 MSI quanto do 200 TSI 1-litro. Ainda falta testar o 1,0 MPI, ainda não disponibilizado pela VW. O mais novo compacto VW faz frente ao Onix, HB20 e Argo em uma gama variada de modelos e versões e teve estreia muito positiva. Nota-se também que o Polo parece melhor posicionado e deve ser um substituto natural do Fox, sem roubar vendas do Gol. Essa tarefa é das mais difíceis de acertar pela turma de marketing e temos de esperar mais meses para entender o comportamento do comprador.
A autofagia, quando um modelo rouba vendas de outro de mesmo fabricante tem acontecido no Brasil com alguma frequência. O Mobi fez as vendas do Uno despencarem, o Kwid também aparenta fazer mesmo estrago com o Sandero, este que até pouco tempo atrás figurava em 3º ou 4º no ranking de mais vendidos e em novembro ficou em 15º. Na hora de planejar lançamento de novos produtos em mesmo segmento e pequena distância de preços, seguramente os times se depararam com essa possibilidade de autofagia e devem ter tomado medidas de evitá-la. Mas a cabeça do consumidor segue sendo um desafio e seus modos e decisões nem sempre previsíveis.
Tenho visto comentários que o HB20 cansou e cedeu espaço ao Ka, porém a visão deste colunista é diferente. A Hyundai Brasil tem capacidade produtiva de 180-190 mil unidades anuais, antes do Creta ela ficava perto desse patamar com somente o HB20 e HB20S e vendas mensais na casa das 16 a 17 mil unidades, veio a crise e ela seguiu operando em 3 turnos, o Creta foi acomodado na mesma linha de montagem e o fabricante teve de abrir mão de vendas de seus compactos, mas o ritmo de emplacamentos desses três modelos somados também vem girando em torno desse patamar.
Seria o melhor problema do mundo a administrar, em plena crise, com seus concorrentes demitindo metalúrgicos, a Hyundai podia dar-se ao luxo de escolher quais compradores iria abrir mão, evidentemente o Creta, um produto de preço superior a 80 mil reais é bem mais lucrativo que um HB20, cuja faixa de preços começa pouco acima de 40 mil.
A Honda encontrava-se em situação similar, lançou o WR-V no meio da crise e manteve a sua fábrica de Sumaré operando em três turnos. Porém a marca japonesa tem a fábrica de Itirapina pronta pra rodar e deve fazer uso da mesma em breve.
Com recuperação do setor apontando para 10% este ano e 10-15% em 2018, a Hyundai deve rever seu plano de investimentos e capacidade produtiva, sob risco de ver seus concorrentes ocupando um espaço que ela estará impossibilitada de disputar.
Boas festas e ótimo 2018!
MAS