Em 2014, a Porsche foi informada do paradeiro do primeiro Porsche 911 fabricado, e mesmo com muitas peças faltando, adquiriu o carro por cerca de 100 mil euros (R$ 391 mil em conversão direta), levando-o para as instalações das oficinas da Porsche Classic, junto ao museu da marca em Zuffenhausen, bairro de Stuttgart.
Três anos depois, o carro está restaurado à condição de novo, quando foi primeiro mostrado no Salão de Frankfurt de 1963. A identificação foi fácil, pois se trata do chassis 300057, corretamente documentado e arquivado.
No ano de 1964 foram fabricados 235 unidades do 911, com início em 14 de setembro daquele ano. Os primeiros 82 carros tinham o nome 901, mudado em seguida para 911 quando a Peugeot informou à Porsche sobre o registro, na França, da designação de seus carros com o número zero no meio de outros números.Como a Porsche tinha interesse óbvio no mercado francês, achou melhor não discutir, e renomeou seu novo carro como 911; assim foi mostrado no Salão de Frankfurt no ano seguinte, 1967. Mesmo assim, alguns carros saíram da fábrica como 901.
Como dizia o jornalista e teatrólogo pernambucano radicado no Rio de Janeiro, Nélson Rodrigues, que “é preciso sorte na vida para tudo, até para comer um picolé”, em 1967 foi instituído o número de telefone nacional para emergência nos Estados Unidos — 911 — o nome de modelo do novo Porsche, divulgando-o ampla e gratuitamente no mercado mais importante, entre todos, para a fabricante alemã.
Quis o destino, 37 anos depois, mas desta vez tragicamente, ajudar novamente o 911: o ataque terrorista às torres gêmeas em Nova York e ao Pentágono foi no dia 11 de setembro de 2001, que em inglês, abreviadamente, escreve-se 9-11.
O carro foi encontrado em uma fazenda desativada no estado alemão de Brandenburg, onde os especialistas da Porsche para inspecionaram o carro. Com a plaqueta de identificação em boas condições, e a marca estampada com o número 300057 em uma parte do carro, estava constatada a autenticidade.
Muito deteriorado, para-lamas dianteiros faltando, para-choques perdidos, freios e motor travados e muita ferrugem em pontos estruturais, como nas áreas de fixação das suspensões, o carro foi totalmente desmontado e se iniciou a restauração. Dentro havia apenas o painel de instrumentos inteiro e partes dos bancos, o resto eram resquícios ou estava decomposto. Um item curioso é a capa da alavanca de marchas, feita em couro nos 901 e instalada de modo particular apenas nesses primeiros carros. A peça estava ainda em boas condições.
Debaixo da estrutura do banco do motorista estavam dois pedaços de tubos quadrados que intrigaram os restauradores. Após algum tempo de pesquisa, descobriram que era um item opcional que podia ser pedido se o comprador quisesse ter o banco instalado mais alto.
As peças de carroceria foram doadas por outro carro, este de 1965, mas idênticas ao do 1964. Todo o trabalho de refazer o que foi preciso levou 12 meses, apenas na carroceria.
No trabalho feito no motor, os pistões estavam travados dentro dos cilindros, e com aplicação de desengripante e calor, finalmente foram removidos. Os cabeçotes foram restaurados, mas virabrequim e comandos de válvulas (um por cabeçote) precisaram ser trocados por outros fornecidos pela própria fábrica. Foram 1.200 horas de trabalho no motor — um 6-cilindros 2-litros de 1.991 cm³, 90 x 66 mm, 130 cv a 6.100 rpm e 17,8 m·kgf a 4.200 rpm, com limitador no distribuidor a 7.100 rpm, e dois carburadores Solex de três corpos produzidos especialmente para o 911; velocidade máxima 210 km/h.
A pintura foi feita conforme os processos atuais, para evitar corrosão em um carro tão importante, e manteve-se a cor original, vermelho Signal código 6407. Os vidros que estavam no carro são os originais, e foram mantidos, e os chicotes elétricos, refeitos mantendo a aparência da época.
O forro de teto teve que ser fabricado de novo, utilizando-se material com furos de forma quadrada, que foram usados por pouco tempo, sendo trocados por furos em formato de diamante. A Porsche, porém, ainda tinha o rolo com a forma de furos quadrados para passar sobre o material sintético e refazer conforme o original — uma ferramenta guardada desde a década de 1960!
Foi fácil encontrar os pneus da medida original 165HR15, uma vez que, ao contrário do que se vê aqui, na Europa as fabricantes de pneus habitualmente dispõem de medidas e tipo de pneus antigos, como o Pirelli Cinturato CF-67.
O carro está pronto, agora disponível para eventos fora da empresa, e está sob responsabilidade do Museu Porsche.