Me deu vontade de discorrer sobre alguns Ford brasileiros que se tornaram raridades devido à sua pífia produção e/ou ineditismo. Não me preocupei com a ordem cronológica do lançamento dos produtos e sim com a sequência das lembranças que me vieram à mente.
Corcel II JPS
Em 1979 a Ford homenageou a equipe Lotus John Player Special com o lançamento do Corcel II JPS, em edição limitada e somente sob encomenda.
Os veículos Fórmula 1 da equipe Lotus-John Player Special eram equipados com motores Ford-Cosworth DFV V-8 de 3 litros, com 480 cv de potência a 10.500 rpm. Por mais de 20 anos os motores Ford-Cosworth brilharam na Fórmula 1. A bem da verdade a agregação do nome Ford ao motor foi apenas estratégia comercial, uma vez que a Ford apenas financiou o motor para a Cosworth Engineering de Mike Costin e Keith Duckworth — no que a fabricante americana tem todo o mérito e merece aplausos da comunidade automobilística. O Corcel II 1,6 JPS era todo preto e dourado, com o nome “John Player Special” nas laterais das portas. Não sei quantos foram encomendados, creio que 50 unidades, no máximo.
Corcel II série Campeões
Na mesma linha do Corcel JPS, a Ford decidiu homenagear o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 de 1983 e a equipe Lotus-JPS.
A Ford homenageou a equipe inglesa no GP do Brasil de 1983, lançando versão especial do Corcel II LDO, batizada de Campeões. Com motor 1,6 a álcool e carburação diferenciada para combinar com o comando de válvulas de maior ângulo de cruzamento de válvulas, era produzido somente na cor preta com frisos e rodas douradas lembrando o visual da JPS. Havia também um pacote diferenciado de equipamentos com bancos dianteiros reclináveis com apoio de cabeça, relógio eletrônico digital, câmbio de cinco marchas, conta-giros, cintos de três pontos retráteis, espelho retrovisor nos dois lados e volante de direção com quatro raios .
Corcel II Hobby
Em março de 1980 era lançado o Corcel II Hobby, com detalhes joviais e esportivos, principalmente o interior e bancos. Os cromados de frisos e dos para-choques foram eliminados dando um ar espartano ao modelo. O volante e as rodas do Corcel GT também foram para o Hobby. Uma graça o estofamento dos bancos, mais joviais.
Corcel Bino
Em 1969, Luiz Antônio Greco, gerente de competições da Willys e depois Ford, adquiriu a revenda Ford Sandaco e como um novo negócio passou a customizar o recém-lançado Ford Corcel, batizando-o de Bino. Foi uma homenagem a Christian “Bino” Heins, a quem sucedera na equipe Willys com a morte do piloto na 24 Horas de Le Mans de 1963. Com um vasto conjunto de componentes e acessórios, que incluía a personalização do interior, do exterior e de seu motor, era comercializado sob encomenda prévia no veículo zero-quilômetro.
Os equipamentos incluíam o painel de instrumentos e console em compósito de fibra de vidro, na cor preta, com detalhes em madeira jacarandá da Bahia; velocímetro com escala até 200 km/h, conta-giros até 8.000 rpm, marcadores analógicos de combustível, temperatura da água, pressão do óleo, temperatura do óleo e relógio. Pomo da alavanca de câmbio mais marcante, console do teto em alumínio também com detalhes em Jacarandá, com luz de cortesia e leitura; tomada de ar no capô, volante esportivo F-1 com acabamento em couro ou madeira, rodas esportivas de liga leve, bancos reclináveis, faróis auxiliares de longo alcance, teto revestido em vinil, entre outros.
Para o coração do veiculo era reservado o aumento da cilindrada de 1.289 para 1.450 cm³, cabeçote e dutos de admissão e escapamento ajustados e polidos, novo comando de válvulas, carburador Weber 40 de corpo duplo, tampa de válvulas em alumínio com aletas, cárter também em alumínio com aletas e maior capacidade de óleo, e conjunto de escapamento Kadron com dupla saída. Muitas outras versões do Corcel Bino foram oferecidas ao longo dos anos, dando uma apimentada na história do Ford Corcel, sendo atualmente raros em suas configurações originais, disputados por colecionadores da marca.
Escort XR3 Pace Car
Com a relevante divulgação do GP do Brasil de F-1 em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, a Ford conseguiu incluir o recém-lançado Escort XR3 como o carro-madrinha da prova e aproveitou a ocasião para promover a serie especial, Pace Car. Na cor branco Diamante com faixas laterais em dois tons de azul com a inscrição “Pace Car Fórmula 1 Brasil”, logotipo “Fórmula 1” na tampa traseira e adesivo “Ford Motorsport” no topo do para-brisa, o Escort XR3 ficou bem chamativo.
Além da pintura e identificações externas, as principais diferenças em relação ao XR3 de série ficavam nos vidros em tom bronze, para-choques na cor preta e rodas pintadas na cor da carroceria, assim como a grade dianteira. No interior, o painel com fundo branco e os ponteiros do velocímetro, conta-giros, marcador de combustível e temperatura na cor laranja. Além do veículo da prova, foram manufaturados mais 350 veículos, disponibilizados nas revendas Ford e obviamente virou uma raridade nos dias de hoje.
Corcel II Van
No início da década de 1980 apareceu o Ford Corcel II Van, derivado da Belina, sem o banco traseiro, janelas traseiras obturadas por chapa de aço e com estrado de madeira no assoalho traseiro. Um furgão, em outra palavras. Não vendeu quase nada e foi logo descontinuado.
A versão foi pensada para utilização por hospitais, entregas urbanas e órgãos da prefeitura, principalmente a paulistana. Na realidade, os produtos Fiat, concorrentes, venderam muito mais, principalmente o Fiorino. Não conheço nenhum colecionador que tenha se interessado em restaurar o modelo; quem sabe até exista algum.
Escort XR3 75 Special Edition
Em 1994, para comemorar seus 75 anos de operação no Brasil, a Ford lançou uma versão do Escort XR3 conversível batizado “75 Special Edition”, com plaquinhas localizadas nos para-lamas dianteiros identificando o modelo.
Mecanicamente idêntico ao XR3 de série, se diferenciava pela pintura em duas tonalidades, preta na parte superior, dourado bem claro, na inferior. Era equipado com alguns luxos, como, por exemplo, CD-Player com equalizador digital e módulo amplificador, bancos Recaro com ajuste de altura e da região lombar, retrovisores com acionamento elétrico, capota elétrica e volante de direção com ajuste em distância. As rodas com desenho “turbo”, não simétricas esquerdas e direitas, foi uma falha. Mas o fato é que a maioria dos veículos que usam este desenho de roda não as fazem simétricas por questão de custo de ferramental, que se multiplicaria por dois.
A raridade vem do fato de terem sido produzidas somente175 unidades do modelo e que foram distribuídas para as 75 concessionárias Ford na época, incluindo mais 100 unidades extras devido ao sucesso alcançado.
Corcel Conversível
Nunca existiu Corcel conversível feito pela Ford. O fato é que nas décadas de 1970 e 1980 houve uma enxurrada de modelos preparados principalmente por grandes concessionárias de São Paulo na tentativa de criar nichos de mercado não atendidos pelos fabricantes. Podemos dizer que esse período foi muito fértil em personalizações, no qual várias empresas como Dacon, Souza Ramos, Sonnervig, e Cia. Santo Amaro de Automóveis, fizeram muitas transformações. Pode-se também incluir neste conjunto de empresas a Envemo, fabricante de veículos especiais. O Corcel conversível mais significativo foi feito pela Sonnervig e testado pela revista Quatro Rodas, com o jornalista Claudio Carsughi fazendo elogios à beleza do veículo e críticas quanto à sua dinâmica de movimentação/vibração em torção da carroceria.
Entre outras versões feitas no mercado paralelo destaco o Del Rey idealizado pela concessionária Cia. Santo Amaro de Automóveis, onde o mesmo jornalista Claudio Carsughi exemplifica a falta de rigidez da carroceria do conversível, comparando-o a uma caixa de sapatos sem a tampa.
Como curiosidade, veja o projeto genuíno Ford-Willys, feito em seu departamento de Estilo do Produto em 1969 e que infelizmente nunca saiu do papel. O esboço do Corcel conversível é de autoria do genial desenhista Paulo Roberto, da Ford-Willys, e que mantenho com carinho em meu acervo da história do automóvel no Brasil. A foto de abertura da matéria é assinada pelo Paulinho.
Belina 4×4
A perua Belina em versão fora de estrada com tração nas quatro rodas foi um projeto que não deu certo, criando inúmeras reclamações de campo para a Ford. O principal detalhe que prejudicava o desempenho e a durabilidade do veículo foi a falta de diferencial central para equalizar as velocidades dos eixos em curvas. O consumidor se esquecia ou não seguia a recomendação da Ford de que o sistema somente deveria ser acionado em linha reta, em piso de baixa aderência e velocidade máxima de 60 km/h.
Com a tração 4×4 acionada permanentemente, por esquecimento, o sistema se deteriorava rapidamente, criando problemas ao consumidor. Somente dois anos após seu lançamento, foi descontinuada, chegando apenas a 600 unidades produzidas.
Ford Escort XR3 Fórmula
O XR3 Fórmula foi uma série especial em 1992 que contava com os inovadores amortecedores Cofap eletrônicos, com controle de carga, normal para conforto e especial para condução rápida. O sistema contava com uma tecla no painel para selecionar o modo operacional. Esteticamente ele se diferenciava dos demais XR3 por duas faixas laterais em vermelho e laranja e pelas rodas de liga leve com acabamento usinado, sem pintura. Disponível somente em duas opções de cores, o vermelho Munique e o azul Denver, foram produzidas apenas 754 unidades. A raridade do modelo está na dificuldade em manter a sua configuração original com os amortecedores eletrônicos, que infelizmente não existem mais para reposição.
Encerro a matéria com homenagem ao leitor e à leitora que prestigiou as minhas matérias e as demais do AE, com comentários que nos ajudaram à nossa desejada melhoria contínua.
Feliz 2018!
CM