É preciso falar de números, tanto sobre os que não são positivos quanto àqueles que exaltam as qualidades do Citroën Aircross 1,6 Auto Shine, que encerrou sua segunda semana comigo gerando alguns sentimentos contraditórios.
Primeiro ao números. Para começar cito a pobre quantidade de quilômetros que rodei com o Aircross neste período, apenas 456. Gostaria de ter tido mais tempo esta semana (na verdade menos problemas pessoais) para me dedicar a rodar mais com o Citroën. Não deu, mas me consola o fato de ser este carro, como disse na semana passada, um velho conhecido meu, que se diferencia dos antepassados por conta do novo câmbio de seis marchas Aisin e consequente ajuste do motor para ele.
Outro número? Sim, e este muito positivo, surpreendente até, é a marca de 17,2 km/l de gasolina obtidos num trecho de exatos 136 km dos quais apenas 30 foram de rodovia e os restantes feitos em via expressa. Em uma madrugada insone resolvi “recuperar terreno” (leia-se, fazer quilômetros), percorrendo um trajeto de 80% de vias planas e rápidas, com limites de velocidade variando de 60 a 90 km/h e os restantes 20% em rodovia em velocidade de 90 a 120 km/h. Nesta condição, livre de congestionamentos e respeitando rigorosamente os limites de velocidade, arranquei do Aircross aquela que acredito será sua melhor marca de consumo comigo.
Mais números? Os 15,3 km/l, consumo que obtive no dia seguinte, para fazer uma espécie de tira-teima em trecho menor mas com características semelhantes. Julgo ainda excelente o resultado e o consumo maior se deu, certamente, por não ter usado o botão ECO (que permite ao câmbio de seis marchas praticar trocas a rotações mais baixas e assim manter a rotação do motor em níveis mínimos). Se não houver aclives no trajeto e o pé direito não pesar demais, as trocas do novo câmbio Aisin com o botão ECO acionado serão feitas sempre entre 1.500-2.000 rpm. Ou seja, em poucos metros já estará espetada a 5ª ou 6ª marcha, o que favorece consumos menores.
Mencionei o uso do botão ECO e a evidente vantagem que ele proporciona em uso urbano. Todavia, em topografia acidentada a troca a baixos regimes torna-se contraproducente. Nas transições dos declives para aclives o câmbio, em geral, subestima a necessidade real e acaba optando por uma relação alta demais, por exemplo uma quarta marcha quando o ideal seria a 2ª. Portanto, no sobe e desce, melhor não usar ECO ou… partir para o meu recurso favorito, trazer a alavanca do câmbio para a esquerda e agir manualmente, selecionando a marcha ideal, que é indicada no mostrador digital do painel.
E da maneira que me agrada: subir marcha para frente/reduzir para trás — mesma lógica das botoeiras dos elevadores ou do controles remotos dos televisores…
Só que entre usar o botão ECO, situado na base da alavanca do câmbio, e agir manualmente na alavanca (as borboletas no volante que existiam nos Aircross automáticos anteriores foram eliminadas) há a opção normal e a “S”, Sport, que age de maneira oposta à ECO. Em vez de passar marchas no mais baixo regime possível o botão “S” faz o que se espera quando a necessidade é tirar do motor de 1,6 litro seu melhor rendimento, realizando as trocas em rotação elevada.
Nestas duas primeiras semanas o alvo foi ver o quanto contribuiu o novo câmbio para a economia do Aircross — aspecto justamente criticado na versão anterior com câmbio automático de quatro marchas — e portanto só apertei o botão “S” para saber se funcionava, (e, sim, aparece um minúsculo “S” indicado no painel digital enquanto quando ECO é acionado a indicação é maior, em verde, no corpo do conta-giros).
Na semana que vem, quando o plano é viajar com o Aircross, a rodovia dará chance para desfrutar da vantagem do melhor desempenho em ultrapassagens proporcionado pela opção “S”do câmbio.
Mais números: 8.314 mil Aircross foram vendidos em 2017 no Brasil, o que coloca este Citroën na 47ª posição entre os 50 carros mais vendidos do ano. Justo ou injusto? Não é segredo para ninguém que a marca francesa ainda paga seus pecados do passado, no qual a qualidade de seus produtos não encontrava respaldo nos serviços prestados pela sua rede. Neste Teste de 30 dias do AE não cabe a avaliação de serviços e nem mesmo das políticas de pós-venda de cada marca — consta que no passado as revendas Citroën não eram receptivas a usados da própria marca, um paradoxo.
Hoje o cenário é outro ao menos no que diz respeito aos serviços pós-venda e no meu modo de entender, após rodar duas semanas com este Aircross de câmbio novo, na lista dos 50 mais vendidos há alguns modelos à frente deste Citroën que não oferecem qualidades que sobram no Aircross, e que merecem ser lembradas.
Número 1 (sim, os números…) é o quanto é agradável dirigi-lo, coisa que vem da boa ergonomia, da direção macia e suspensão bem ajustada. Número 2, o conforto acústico: o Aircross é excepcionalmente bem insonorizado, mal se ouve o motor, as portas fecham fazendo barulho de porta de geladeira por conta das borrachas de vedação duplas. Número 3, o razoável espaço interno associado ao agradável ambiente, onde o desenho discreto é destaque. Número 4, a novidade, ele, o câmbio Aisin, que colocou o Aircross em um um patamar tecnológico atualizado e, principalmente, deu-lhe a economia de combustível que não estava ao alcance dos antecessores.
Para terminar, mais um número: Zero. Esta é a nota que merece a opção de pendurar o estepe do lado de fora da tampa do porta-malas. Fui ao supermercado com o Aircross e apesar de comprovar a boa capacidade do compartimento de bagagem, a operação para deslocar o conjunto roda-pneu e seu suporte definitivamente não me desce. E para completar, na operação a capa da roda bateu na pilastra, obrigando a mover o carro para que pudesse abrir a tampa. Se a opção de tirar o estepe do interior ainda comportasse em aumento do espaço de bagagem, vá lá, mas não é esse o caso. A opção visa atender uma moda (besta) que fere aspectos de funcionalidade e praticidade que me são tão caros.
Para a semana número 3 a é fundamental colocar o Aircross na rodovia uma vez que suas qualidades (e pontos a rever) no uso urbano já foram devidamente exploradas. À estrada, portanto…
RA
Leia o relatório da 1ª semana.
Citroën Aircross 1,6 Auto Shine
Dias: 14
Quilometragem total: 756 km
Distância na cidade: 726 km (96%)
Distância na estrada: 30 km (4%)
Consumo médio: 7,6 km/l (gasolina)
Melhor média: 17,2 km/l (gasolina)
Pior média: 5,8 km/l (gasolina)
Média horária: 20 km/h
Tempo ao volante: 37h48minutos
FICHA TÉCNICA NOVO CITROËN AIRCROSS 1,6 AUTO SHINE 2018 | |
MOTOR | |
Denominação do motor | 120 VTi Flex Start |
Tpo de motor | Otto, arrefecido a líquido, flex |
Material do bloco/cabeçote | Ferro fundido/alumínio |
Nº de cilindros/disposição/posição | Quatro/em linha/transversal |
Diâmetro x curso (mm) | 78,5 x 82 |
Cilindrada (cm³) | 1.587 |
Taxa de compressão (:1) | 12,5 |
Nº de com. de válvulas/localização | Dois, no cabeçote; fase variável no de admissão |
Acionamento dos comando de válvulas | Correia dentada |
Nº de válvulas por cilindro | Quatro |
Potência máxima (cv/rpm) (G/A) | 115/118/5.750 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) (G/A) | 16,1/4.000 // 16,1/4.750 |
Formação de mistura | Injeção no duto |
SISTEMA ELÉTRICO | |
Tensão/alternador (V/A) | 12/55 |
TRANSMISSÃO | |
Tipo | Transeixo dianteiro automático Aisin de 6 marchas + ré, tração dianteira |
Relações das marchas (:1) | 1ª 4,044; 2ª 2,371; 3ª 1,556; 4ª 1,159; 5ª 0,852; 6ª 0,672; ré 2,455 |
Relação do diferencial (:1) | 4,066 |
Relação do par de saída (:1) | 1,104 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular transversal, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora integrada ao eixo |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência elétrica indexada à velocidade |
Diâmetro do volante de direção (mm) | 375 |
Diâmetro mínimo de curva | n.d. |
FREIOS | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado, 266 |
Traseiros (Ø mm) | Tambor, 229 |
Operação | Servoassistência a vácuo, ABS, EBD e assistência à frenagem de emergência |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 6Jx16 |
Pneus | 205/60R16H (Pirelli Scorpion ATR) |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em ação, crossover, 4 portas, 5 lugares |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4.307 |
Largura sem espelhos | 1.767 |
Altura | 1.742 |
Entre-eixos | 2.542 |
CAPACIDADES E PESOS | |
Compartimento de bagagem (L) | 403 (1.500 com banco traseiro rebatido) |
Tanque de combustível (L) | 55 |
Peso em ordem de marcha (kg) | 1.328 |
Carga útil (kg) | 400 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s) | n.d. |
Velocidade máxima (km/h) | n.d. |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBVE | |
Cidade (km/l) (G/A) | n.d. |
Estrada (km/l) (G/A) | n.d. |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 6ª (km/h) | 39,6 |
Rotação a 120 km/h em 6ª (rpm) | 3.000 |
INFORMAÇÕES ADICIONAIS | |
Intervalo de revisões/troca de óleo | 1 ano ou 10.000 km |
Garantia | Três anos |