Confesso que um dos motivos de pegar a Honda Biz 110i para teste é que tenho uma Biz há mais de dez anos e estava curioso para sentir a evolução dessa moto, ou motoneta, ou Cub, como queiram chamá-la. Outro é que ela comemora 20 anos de fabricação no Brasil – foi lançada em 1998 – e esse sucesso merece ser lembrado.
A minha, comprei de raiva. Minha filha maior, sem me contar — pois sabia que eu não a achava preparada para pilotar moto na cidade de São Paulo e só o permitia na fazenda — a comprara de um amigo e a escondera na casa de minha mãe. Mancomunadas as duas, neta e avó, conseguiram por uma semana me fazer de tonto. Até que descobri. Fui lá bravo, peguei a “motoca” — assim a chamo, motoca —, toquei-a para casa, e bastaram alguns quarteirões para aquela brabeza toda passar e dar lugar a uma nova paixãozinha. “Que motinha gostosa!”, falei dentro do capacete. Aí dei uma esticadinha no caminho, resolvi ir à padaria tomar um espresso, onde aproveitei e coloquei uns pães no bauzinho (porta-objetos é seu nome oficial), fui até uma livraria ali perto, passeei mais um pouco e fui chegar em casa depois de um tempão, e calminho.
Então comprei-a de minha filha e mandei a Biz para a casa de praia, para evitar que as meninas me dessem um drible e saíssem com ela nessa cidade imprópria para motociclistas inexperientes. Ela já era, como disse, usada, e bem usada, já com quase 40.000 km. Dei-lhe uma revisão geral — coisa que faço uma vez ao ano, numa simples mas boa oficina — e essa motoca é que nem revólver Colt, não nega fumo nunca.
Mesmo ficando parada por meses, se não pegar na primeira pedalada, pega na segunda. A carburador ainda, raramente é necessário acionar o afogador, mesmo em época de frio. Ralou, pegou. Não gasta um pingo de óleo e sua manutenção é barata. E aquele diminuto tanquinho de gasolina leva um tempão para esvaziar. E ela gasta tão pouco combustível que acho covardia ficar fiscalizando a coitada. Menos que isso não dá, e basta. E quantos bons passeios ela nos proporcionou, sendo os mais lindos nos dias em que acordei de madrugada e saí sem destino vendo o dia amanhecendo de praia em praia, exatamente como fiz com esta Biz 110i de teste.
O motor mudou. É outro motor, e bem melhor, bem mais potente, silencioso e suave. A minha tem 6,43 cv a 7.000 rpm. Esta tem 8,33 cv a 7.500 rpm. A minha tem 0,71 m·kgf a 5.500 rpm. Esta, 0,89 m·kgf à mesma rotação. Parecem pequenas diferenças, porém, em números redondos são incrementos de 30% na potência e 25% no torque, o que é bem significativo.
O novo motor mudou a moto. O que a minha faz com esforço, esta tira de letra. Uma subida de serra, íngreme como a de Boiçucança a Maresias — praias do Litoral Norte paulista —, que a minha sobe usando 2ª e 3ª marchas, esta sobe usando 3ª e 4ª. Se com a minha tenho certo dó de seu “sacrifício” para encarar essa subida, com esta não se nota motivos para tanto, já que sobe alegre e lampeira.
Ela pesa 97 kg, peso a seco, o câmbio tem 4 marchas, o tanque de combustível (só gasolina, felizmente) leva 5,1 litros, o pneu dianteiro é 60/100-17M e o traseiro é 80/100-14M. O tambor do freio dianteiro é de 130 mm de diâmetro e o traseiro, 110 mm. O consumo é baixo, estimo entre 40 e 50 km/l. São duas cores a escolher, vermelha ou branca.
Agora a alimentação é por injeção eletrônica PGM-FI, o que contribui para maior suavidade do motor, maior economia de combustível, menos emissões e outras vantagens. Ao adotarem-na erraram numa só coisa, que considero como defeito, porém de fácil correção: o acelerador ficou leve demais. Isso não é bom, pois a manopla do acelerador também serve de apoio. Então, em situações onde o terreno irregular faz com que o corpo oscile, acaba-se por alterar a aceleração sem que se deseje. Para evitar isso é preciso maior atenção e enrijecer o braço. Uma mola mais forte resolveria, só isso, e a pilotagem ficaria mais confortável.
Outro defeito é a falta da útil tecla de chave-geral. Outra coisa é não ter pedal de partida. A partida é elétrica e, já que a Biz não tem manete de embreagem, que é acionada pelo pedal de câmbio, caso a bateria arreie haverá dificuldade em fazê-la pegar “no tranco”, coisa bastante comum em motos pequenas, principalmente quando ficam mais velhinhas e surradas — destino comum para as que servem nos confins deste grande Brasil, longe da assistência técnica.
O selim é grande e de espuma macia. Os pedais de apoio para o garupa agora estão fixados ao quadro da moto e não mais na balança da roda traseira. O porta-objetos sob o selim agora se abre pressionando a chave de encontro ao miolo. Prático. Nesse porta-objetos, maior que o meu, há uma tomada de energia, algo que hoje não pode faltar em veículo algum, tanto que dizem que em breve os cavalos nascerão com uma dessas.
Não tem ajuste de pré-carga das molas traseiras, porém, testei-a também com passageiro na garupa, e pesado, e não senti necessidade de endurecer as molas. Tudo bem. Os retrovisores são convexos, e bons.
Os freios, a tambor, são combinados. O manete direito continua freando só o freio dianteiro, mas o freio do pedal direito agora também aciona o freio dianteiro, na proporção de 70% traseiro e 30% dianteiro. Muito útil para “pilotos” inexperientes, que acham que é um perigo danado frear com o dianteiro, dizendo que “a moto capota!”, “escorrega a frente!” ou outra besteira qualquer. O certo é frear os dois ao mesmo tempo e a dosagem vai da sensibilidade do piloto para não deixar que nenhum dos dois trave as rodas. Quem não sabe fazer isso que não ande de moto, assim como quem não sabe pilotar avião que não pilote avião. Continuei freando os dois, manete e pedal, só quando pretendia freadas mais fortes.
Para trecho urbano o desempenho da Biz 110i agora dá e sobra, mesmo levando garupa. Já para a estrada ela não é recomendável, pois além de pouca potência ela não tem a estabilidade necessária para, com segurança, manter a velocidade compatível com o tráfego por maiores períodos. Peguei estrada e a velocidade de cruzeiro, confortável para ela e para mim, é algo em torno de 80 km/h ou pouco mais que isso. É pouco. Existe a Biz 125i, mais potente, porém em termos de ciclística é exatamente a mesma coisa. Tem melhores freios, pois o dianteiro é a disco, freios também combinados, mas uma CG 125, por exemplo, para isso é bem superior em todos os aspectos.
A Honda Biz evoluiu, e muito. Quem já pilotou a antiga, e gostou, ficará encantado com a suavidade e maior desempenho da nova. Quem gostaria de ter algo parecido com um scooter, mas não o tem porque não gosta de câmbio CVT nem de rodas pequenas demais para encarar nosso piso, vai, ao menos, ficar bastante pensativo depois de pilotar a nova Biz 110i. E quem quer/precisa de uma motinha bonita, confortável, confiável e econômica — e que comprovadamente aguenta o tranco —, verá que ela tem tudo para suprir essas e outras necessidades.
Bom, depois dessa escapada que dei com a nova, espero que a minha enciumada velhinha não me venha com represálias e continue sendo a fiel companheira de sempre.
Preço da Biz 110i: R$ 7.590; Biz 125i, R$ 9,390,00.
AK
FICHA TÉCNICA HONDA BIZ 110i | |
MOTOR | |
Descrição | Monocilindro, 4 tempos, comando de válvulas no cabeçote (OHC), duas válvulas por cilindro, arrefecido a ar dinâmico |
Cilindrada | 109,1 cm³ |
Diâmetro e curso (mm) | 50 x 55,6 |
Taxa de compressão (:1) | 9,3 |
Potência máxima (cv/rpm) | 8,33/ 7.250 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) | 0,89/5.500 |
Combustível | Gasolina |
Formação de mistura | Injeção eletrônica PGM-FI |
TRANSMISSÃO | |
Embreagem | Multidisco em banho de óleo, automática |
Câmbio | 4 marchas |
SUSPENSÃO | |
Dianteira (curso, mm) | Garfo telescópico/100 |
Traseira (curso, mm) | Braço oscilante, duas molas e amortecedores concêntricos/86 mm |
FREIOS | |
Dianteiro (Ø mm) | Tambor/130 |
Traseiro (Ø mm) | Tambor/110, combinado com freio dianteiro |
PNEUS | |
Pneu dianteiro | 60/10017M |
Pneu traseiro | 80/10014M |
QUADRO | |
Tipo | Monobloco |
CAPACIDADES | |
Tanque de combustível (L) | 5,1 |
PESO | |
A seco (kg) | 97 |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 1.894 |
Largura sem espelhos | 707 |
Altura | 1.085 |
Distância entre eixos | 2.645 |
Altura do assento | 753 |
Distância mínima do solo | 131 |