Dos números positivos da economia, diariamente divulgados, parecem seguir animando os consumidores às compras e isso tem se refletido também no mercado automobilístico.
Com mais recursos liberados para crédito, inadimplência em baixa, o ano começou num ritmo bastante diferente de janeiro de ‘17.
Ao todo venderam-se 181.266 veículos novos, sendo 175.857 automóveis e comerciais leves, uma alta de 23% sobre o mesmo mês do ano passado. Um número animador e que sugere uma recuperação robusta para o ano, porém o presidente da Anfavea,Antônio Megale, tratou de desfazer enganos ou ilusões, disse na reunião mensal da entidade com a imprensa, no último dia 6, que a base de comparação estava muito baixa e que isso não permitia comparação para projeções. Verdade é que janeiro de ‘17 havia sido desastroso e fevereiro também, o mercado passou a se recuperar a partir de abril, quando houve a inflexão na curva.
O primeiro mês do ano começou bem, com patamar de vendas diárias de 8.000 veículos novos e a média esperada para o ano segue sendo de 9.800. Portanto segue havendo um caminho a se percorrer.
Um fato que passou desapercebido e merece destaque é a recuperação das vendas no varejo, que representaram cerca de dois terços do total faturado, superando a média de ‘17, que registrara menos de 60%. Coincide também o início de maior restrição ao acesso ao programa PcD, que esta coluna vinha alertando havia atingido níveis de exagero. Ainda cedo para confirmar se os 66% de vendas no varejo vieram para ficar, mais um bom sinal.
Megale também destacou em seu discurso que a entidade espera aprovação das reformas na previdência, que é e segue sendo um dos pilares do programa de recuperação da economia para este ano. Lamentavelmente o pior parlamento de nossa história tem feito jus à essa qualificação e, ao invés de capitalizar votos por escolherem as reformas, optam pela miopia em crer que boicotando a mesma ou mesmo votando contra, irão ao encontro aos seus eleitores no final do ano. Assim, enquanto escrevo esta coluna de um aeroporto gelado do hemisfério norte, não há segurança de que essa reforma passa este mês, nem no ano. Uma bomba fiscal para o próximo presidente que assumir a cadeira nas eleições de ‘18.
A inflação tem registrado baixas históricas, fechou ‘17 com menos de 3,0%, o Banco Central definiu a taxa Selic de 6,75% como a mais baixa de todos os tempos, mesmo assim não podemos confiar que teremos um ciclo de recuperação longo nem muito menos exuberante, dada nossa penúria fiscal e incertezas políticas. Os consumidores podem esperar sim uma baixa nas taxas de juros nos financiamentos de carros novos, enquanto a volta das contratações no mercado de trabalho e PIB de +3,0% para o ano fazem a sua parte.
O mercado reagiu bem à confirmação da condenação do ex-presidente Lula, por corrupção e lavagem de dinheiro, pelo TRF-4 de Porto Alegre. Querem reação mais positiva que bolsa subindo e dólar caindo? Mesmo assim, assistimos seus caros advogados pateticamente confrontando à justiça e instituições enquanto buscam garantir sua elegibilidade ao cargo de mandatário máximo da nação e livrá-lo de uma prisão quase certa. Nem um nem outro estão assegurados, pois não podemos contar nem com uma coesão do STF. O brasileiro merecia um melhor início de ano.
RANKING DO MÊS
Esta coluna vinha avaliando a possibilidade de mudar suas análises de desempenho de vendas das marcas e modelos de comparações de entre meses subsequentes para meses entre anos subsequentes, i.e., ao invés de janeiro de ‘18 contra dezembro de ‘17, por exemplo, para janeiro de ‘18 vs mesmo mês de ‘17. Em tempos de estabilidade, como a que vem se confirmando, essa visão deixa efeitos sazonais de lado e mostra melhor resultados de estratégias de vendas dos principais contendores. Como janeiro e fevereiro do ano passado foram ruins, dar-me-ei a liberdade de apresentar as duas comparações neste primeiro bimestre e depois migrar para o novo modelo dali em diante. Espero os leitores apreciem a mudança.
Na avaliação de desempenho de marcas, consideraremos apenas aquelas de volumes de vendas superiores a dez mil/ano.
Vendas em janeiro foram 14% inferiores a dezembro, que é tradicionalmente o mais forte do ano, mesmo assim, a VW cresceu 3% e tomou a segunda posição da Fiat. Mais uma vez. Com relação ao mesmo mês do ano passado, como já dito acima, os licenciamentos foram 23% superiores e a VW deu um salto de 45%, quase duas vezes a expansão de mercado. Em seguida veio a BMW, com +31%, Mercedes, com +27% e Nissan com +26%. Do outro lado da tabela, a Citroën foi a única marca que apresentou desempenho negativo, com -6%.
Onix (foto de abertura) segue líder porém vem sentindo os efeitos da entrada dos novos concorrentes, Polo e Argo se situaram entre os dez mais vendidos, o Polo ocupou um bom 4º lugar, com 6.632 emplacamentos. O compacto Chevrolet, líder há três anos, chegou a superar 25% de participação nos melhores momentos e em janeiro ela reduziu-se a 22%. Uma liderança forte e distante do segundo lugar em vendas, com mais que o dobro de emplacamentos, desta vez o Ka, Onix não se vê ameaças à liderança.
O Gol parece ter sido beneficiado pelo lançamento do irmão mais chique e também subiu no ranking e a VW chegou a um total de participação de 24% nos compactos, somando-se as vendas de up!, Gol, Fox e Polo, um ano atrás estava com 19%. Aliás o fenômeno que ocorreu entre Gol e Polo, de um puxar as vendas do outro, parece se observa o inverso na Renault, ao invés do Kwid estar somando vendas à marca francesa, ele vem levando compradores do Sandero. Em jan’17 a marca francesa teve 7,1% de participação dos compactos, com somente o modelo Sandero e no mês passado ela teve 7,3% com Sandero e Kwid. Lidar com lógicas de produtos complementares e clientes sempre foi complexo e longe de ser uma questão de somar. A Renault também enfrenta desafios parecidos com Captur e Duster.
Entre os comerciais leves os Fiat Strada e Toro seguem absolutos, detendo 37% do segmento, com respectivamente 5.372 e 3.893 unidades, seguidas da Saveiro, Hilux e S10. Oroch vem aos poucos recuperando volume de vendas, pode ser fruto de nova versão mais despojada, voltada ao trabalho.
A Strada, lidera o segmento há bastante tempo, vem de um projeto de mais de 22 anos e, apesar das inovações como cabine dupla e terceira porta lançadas ao longo dos anos, requer renovação.
Já a Toro, consolidada como vice líder e em seu terceiro ano no mercado, representa o oposto, produto novo e inovador, junto com a Oroch praticamente inauguraram o segmento de médias monobloco e nele seguem sozinhas, por enquanto. As duas oferecem bom espaço interno e caçamba razoável e dirigibilidade de automóvel. Esse acerto de estratégias da marca italiana lhe assegurou a vice-liderança geral de automóveis e comerciais leves, porém quando observamos o desempenho da Fiat no segmento de somente automóveis, nota-se contínua queda de participação.
A marca alemã também vinha perdendo terreno, para se ter uma ideias as duas tiveram queda de quase dois terços de volume de vendas, entre ‘15 e ‘17, enquanto o mercado se reduzira a pouco mais da metade. Ambos entenderam que o consumidor dera sua resposta à não renovação de produtos e tiveram de reagir. Fiat lançou o Mobi, Argo e agora o Cronos e espera reverter essa queda com eles. Talvez consiga. A VW tem planos mais ambiciosos e mais produtos no forno, como um suve do porte do Renegade, picape do tamanho da Toro e outros produtos a serem importados. Polo encontrou o sucesso e Virtua também deve fazê-lo, os dois com fila de espera. Esta coluna crê improvável que tanto a Fiat quanto a VW recuperem a participação que detinham três anos atrás, mas elas também deixaram claro não terem essa preocupação e sim, focar em produtos competitivos e isso vem fazendo bem, o consumidor será beneficiado.
Até mês que vem.
MAS