Errada essa história de dizer que os homens não gostam de ir às compras. Que eles não gostam de shopping. Não os homens apaixonados por carros. Eles gostam, e muito. Só que o “nosso shopping” é um pouco diferente. Com produtos diferentes. Corredores diferentes. Vendedores diferentes.
Estava eu andando pela cidade vizinha, Mogi Guaçu (SP), e decidi que iria pegar um pouco de estrada, pois havia trocado as velas e os cabos do Celta, abastecido com aquela gasolina feita para limpar o motor e ainda, para aumentar essa limpeza, colocado aquele aditivo de grife. Ou seja, vamos colocar um pouco de quilometragem no “Azeitona”, como é o nome carinhoso dele.
Ok, a desculpa para pegar estrada eu já tenho. Mas, e o destino? Lembrei do meu amigo precisando de uma peça para o seu Uno 1,6 1990 (estão vendo, pessoal dos comentários do outro texto, não esqueço das botinhas), e que em um ferro-velho que costumo ir caçar algumas peças, tinha um em estoque. Perfeito, vamos lá. Depois de rodar 30 quilômetros, chegamos ao destino.
Lembra quando eu falei que o nosso shopping é diferente? Então, o nosso é focado em carros. Carros que, por vários motivos, tiveram a sua trajetória encerrada, mas que permanecem vivos, dando a oportunidade de outros modelos continuarem pelo mundo afora, com as suas peças.
E em vez de corredores cheios de araras com eletrônicos, eletrodomésticos, roupas, brinquedos, temos carros, carros e mais carros. E não como nos estacionamentos dos mercados por aí, onde só vemos as cores prata, cinza, branco e preto. Quando muito, um vermelho. Nesses lugares vemos todos os tipos de cores e modelos, principalmente carros da década de 80, 90, e do começo dos anos 2000.
Esse lugar que fui, especificamente, é um ferro-velho moderno. Carros vindo de leilões do Detran, com muitas peças já retiradas e separadas. Portas para um canto, motores em outro. Mas no pátio, ainda se encontram muitos carros “inteiros”. Desde Caravan da década de 80, até Citroën Xsara. Muitos Fusca, Corcel, Fiat em geral, a linha de VW quadrados juntos aos carros de rico da década de 1990, logo após a abertura das importações, como Ford Taurus e Alfa 164.
Após boas voltas pelo pátio, se enfiando entre os carros, fuçando dentro, para ver se encontro algo que me interesse, já que o citado Uno acima já tinha ido embora (uma pena), encontrei um velho conhecido.
Esse nobre senhor já foi estrela de vídeo mais famoso do meu canal no Youtube: um Chevrolet Opala Standard da década de 70. Modelo que já é raro de se achar nos ferros-velhos paulistas, que se torna muito mais raro quando olhei em seu interior a primeira vez que o vi e reparei no câmbio automático com o motor 4-cilindros. E em bom estado. Uma pena já ter sido baixado no sistema do Detran, como acontece com todos os carros leiloados pelo órgão. Uma boa carroceria para quem tiver interesse em montar para as provas de Arrancada, ou Old Stock, por exemplo.
E como comentamos no começo do texto, esses carros servem para salvar outros carros, lembrei que para mim, uma das peças interessava, resolvi fazer uma proposta pela grade. Após uma negociação, uma das partes mais gostosas da caçada, veio comigo embora. Essa foto que você vê dele no texto, ele não estava “desdentado” ainda.
Feito isso, peguei a estrada de volta para Mogi Mirim, com um pensamento na cabeça. Os homens também gostam de compras, é só ter o produto certo para se comprar. Às vezes, ainda compramos mais. Quem sabe se um dia não vamos precisar daquela peça?
Lucas de Biazzi Neves
São Paulo – SP