Associação com fábrica japonesa foca na vitória em Le Mans
Piloto indiscutivelmente rápido e duas vezes campeão mundial de F-1 (2005/6), Fernando Alonso há tempos não sobe num pódio. Sua tentativa mais recente de sucesso foi na 500 Milhas de Indianapolis de 2017: a bordo de um McLaren-Honda, liderou a clássica prova e deixou sua marca no icônico quadrilátero de Indiana. Disposto a repetir o feito de Graham Hill, que venceu o Mundial de F-1 (1962/1968), s 500 Milhas de Indy (1966) e a 24 Horas de Le Mans (1972), o espanhol das Astúrias foi confirmado como um dos pilotos da Toyota para a temporada 2018/19 do WEC, o Campeonato Mundial de Resistência. O programa merece atenção digna de chefe de estado por parte do fabricante, que procura antecipar a etapa de Fuji para evitar a coincidência de datas com o GP dos EUA e capitalizar ainda mais o investimento.
A incorporação de Alonso ao time Toyota Gazoo Racing era esperada, mas em dimensões mais reduzidas, algo na linha disputar Le Mans nos dias 7 e 8 de julho, e, talvez, no ano que vem. Quem acompanha a carreira do espanhol lembra que em 2014 ele deu a largada do clássico de Le Sarthe vestindo um elegante blazer com o distintivo da Ferrari. O projeto com os italianos foi entendido como um exercício de relações públicas de Maranello e uma demonstração dos desejos do espanhol, mas não passou disso quando foi anunciado que a partir de 2016 o piloto voltaria para a McLaren. A proposta atual é mais consistente e envolve interesses mais amplos.
A categoria “Endurance” (Resistência para os puristas da língua portuguesa), teve seus dias de glória nas décadas de 1960/1970, quando Alfa Romeo, Chaparral, Ferrari, Ford, Lola, Matra e Porsche — e um número significativo de pequenos construtores —, enchiam grids com carros atraentes e pilotos famosos. O crescimento da F-1 dentro de um modelo de trabalho delineado por Bernie Ecclestone cuidou de sufocar a modalidade e garantir seus interesses econômicos junto a patrocinadores e promotores. O resultado foi que, pouco a pouco, uma ou outra marca, como a Audi e a Peugeot, dominou o cenário que agora se repete de forma semelhante. Revigorar essa opção de desenvolvimento tecnológico e lazer é o norte do ACO, o Automobile Club de l’Ouest, a massa cinzenta que organiza as 24 Horas de Le Mans e trabalha em prol do Mundial de Resistência.
Como todo grande projeto, o plano atual é de médio prazo: para arrumar a casa que hoje tem apenas a Toyota e a Ginetta na categoria principal (LMP1), busca-se um equilíbrio que proporcione possibilidades de vitória aos LMP2 e facilite a integração com o universo da IMSA norte-americana. Fernando Alonso, nome consagrado, é o jamón ibérico dessa happy hour: chamá-lo de cereja desse bolo é outorgar um conceito muito açucarado para as pretensões do ACO, FIA e da própria Toyota. Um dia após a confirmação do asturiano como piloto do carro TS050 Hybrid de número 8, ao lado de Kazuki Nakajima e Sébastien Buemi, os organizadores da etapa de Fuji anunciaram sua intenção de antecipar a prova em uma semana. Tudo para contornar a coincidência de datas com o GP dos Estados Unidos e permitir a presença do bicampeão mundial de F-1. Se a mudança for aprovada pela FIA, algo necessário, surgiria um novo problema: no dia 14 de outubro é a etapa de Road Atlanta do calendário da IMSA, onde vários pilotos do WEC também participam.
A incorporação de Alonso ao mundo do WEC começou com sua participação na 24 Horas de Daytona, disputada no último fim de semana e vencida por Christian Fittipaldi pela terceira vez (2004/2014/2018). Fernando disputou a prova compartindo um Ligier JS P217 com o inglês Lando Norris — piloto-reserva da McLaren este ano — e o americano Phil Hanson. Problemas com os freios e acelerador impediram que ele conseguisse um resultado melhor que o 38o. na classificação geral.
Essa participação foi uma forma de contornar a ausência da Toyota na cena IMSA e, ao contrário da opinião de seus críticos, está longe de ser uma alfinetada na Honda: essa marca não tem um programa de Endurance e nem a necessidade da concorrente em vencer Le Mans, conquista que lhe escapou diversas vezes, algumas de forma dramática. Em 2016 Kazuki Nakajima iniciava a penúltima volta na liderança da prova quando uma pane do turbocompressor forçou seu abandono da corrida. Por tudo isso e, principalmente, pela ânsia de repetir o feito de Graham Hill, o único piloto do mundo a vencer o Mundial de F-1, a 500 Milhas de Indianapolis e a 24 Horas de Le Mans, Alonso encara o desafio proposto pela Toyota:
“Le Mans é uma prova que eu sempre acompanhei com atenção e sempre quis participar. As corridas de longa duração são uma especialidade muito diferente do mundo dos monopostos e um desafio dos mais interessantes”.
Akio Toyoda, presidente mundial da Toyota e fanático por automobilismo, segue apoiando o programa de competições da marca e encara a chegada de Alonso “como uma oportunidade para crescer ainda mais. Ele e a Toyota Gazoo Racing farão o melhor possível para derrotar a concorrência”. Hisatake Murata, líder da equipe, destaca que a temporada 2018/2019 é uma oportunidade única “por ter duas edições de Le Mans”. Sobre a incorporação do espanhol, Murata explicou que “apesar de novato nessa categoria ele traz a eficiência e a experiência adquirida ao longo de tantos anos como um dos grandes nomes do esporte”.
WG