O que vou lhes contar hoje não tem nada a ver com autoentusiasmo, mas com o comportamento humano.
Estava na Alemanha, pleno inverno, aquele domingo em que até ficar no hotel assistindo televisão não fazia o tempo passar. O hotel em que habitualmente eu me hospedava era o Holiday Inn na cidade de Ingolstadt, sede da Audi.
Depois do almoço vou à janela do meu apartamento e vejo uma cena pelo menos curiosa e que depois se transformou em uma cena de um delito — sem gravidade, mas ao mesmo tempo sem moral.
Eu tinha acabado de fotografar uma nevasca que cobrira toda a área do estacionamento do hotel, para mim uma cena muito rara e ao mesmo tempo bonita. Sempre gostei de fotografia.
Da janela do apartamento vejo uma pessoa caminhando no pátio do hotel, aparentemente seguindo na direção do seu carro, portando um guarda-chuva e uma maleta — não, nada a ver com a mala de dinheiro que você já deve estar imaginando (foto de abertura).
Achei interessantes as marcas, as pegadas do sapato do homem que haviam ficado marcadas na neve. Ele só podia estar seguindo em direção ao seu carro.
Aprendi com os alemães que antes de você dirigir um carro que ficou coberto de neve ou simplesmente gelo, você precisa pegar um rodinho, também chamado de raspador de gelo, e tirar a neve ou gelo do para-brisa do carro, vidros laterais e traseiro também, para ter visibilidade em todas as direções.
Infelizmente aquela pessoa, que eu não sabia quem era, não fez nada disso. Provavelmente estava com frio — por favor, não diga que era um brasileiro — entrou no seu carro e deu marcha à ré para sair da vaga.
Resultado da falta de visibilidade, bateu no carro estacionado nas vagas opostas e, conforme mostra a foto, a porta está aberta, ele desceu, olhou a caca que fez e foi embora.
Tudo registrado, mas eu não sou polícia e era apenas um hóspede. Mesmo assim, por curiosidade, desci para ver o que havia acontecido. O carro atingido estava com a lanterna traseira direita quebrada.
Na recepção, o proprietário do carro avariado conversava com os funcionários e estes tentavam identificar quem teria sido o causador daquele dano.
Na época as máquinas fotográficas não eram digitais, assim eu só viria a saber com precisão o que havia registrado depois de mandar revelar o filme de 36 poses. Mas mesmo que tivesse as fotos à mão na hora, como hoje com as câmeras digitais, eu não teria me metido na conversa para ajudar na investigação. Afinal, é uma questão de consciência e, se ele não a tinha, o que eu poderia fazer? Além disso, foi dano material apenas e o conserto da lanterna seria coberto pelo seguro.
Por isso, fiquei quietinho no meu canto e fui tomar um café para esquentar.
Pelo menos uma coisa ficou patente: pessoas de má índole e desonestas existem aqui, lá e no mundo afora.
RB