Na coletiva da Anfavea de dezembro último pudemos ver que a entidade guardava boas expectativas para 2018 e lançou projeções de aumento nos licenciamentos de automóveis e comerciais leves em 11,3%. Crescimento anual de dois dígitos é pouco comum em mercados consolidados e estáveis. No caso brasileiro, em que as vendas de 2016 ficaram quase à metade de 2014, nós do setor estamos frequentemente revisando contas para quando teremos de volta o patamar de 4 milhões de veículos/ano, se é que teremos.
Hoje, diz-se esse ano será 2023, nessa hipótese e partindo dos volumes atuais, seriam necessários seis anos sucessivos de crescimento de dois dígitos de 10-11%; 2023 também é o ano em que vários economistas projetam o PIB per capita tenha retornado aos níveis de 2013. Enquanto um professor da UnB deu-se ao luxo de lançar uma matéria do “golpe” (o impeachment da presidente Rousseff) para lecionar ilações e visões distorcidas dos fatos e realidade política, bem que outras universidades mais sérias poderiam lançar grupos de estudos para estimular seus alunos a terem uma ampla compreensão do estrago total na economia dos 13 anos e meio de PT. Há setores ainda se arrastando.
Dezembro tampouco foi um mês de grandes números e serviu a este colunista de alerta para o que seguiria depois. O setor de bens de consumo não duráveis, eletroeletrônicos, linha branca, móveis, etc., mantém projeção de 6-7% de crescimento para 2018, pouco mais conservadora que a da Anfavea. Para eles os primeiros dois meses estiveram dentro das expectativas.
No último dia 6, o presidente da Anfavea,Antônio Megale, apresentou os resultados do bimestre, um crescimento de quase 20% sobre mesmo período de 2017 — já falamos disso aqui, a base é muito baixa para comparação. Temos sim um significativo aumento nas exportações. O mercado doméstico segue estável, licenciamentos diários ficaram na casa das 8.200 unidades, um patamar inferior à média dos meses abril-novembro de 2017 (8.900).
Ao todo, venderam-se 156.905 veículos, sendo 151.994 automóveis e comerciais leves, 18,6% superior a mesmo período do ano passado. Foram 4.040 caminhões: o setor de pesados teve uma esfriada no ritmo, sem dúvida.
O Brasil de 2018 deve ter crescimento do PIB entre 2,5 e 3,0%, há queda da inadimplência, reduções nas taxas de juros, na taxa Selic, que atingiu recorde histórico de baixa e diversos setores de atividade econômica se recuperando. A se manterem inalteradas as projeções da Anfavea, de até o final do ano as vendas de leves atingirem 2,42 milhões, o ritmo diário médio de emplacamentos precisa atingir cerca de 9.900 veículos e manter-se nesse patamar ao menos até novembro. Algumas coisas boas ainda por acontecer.
RANKING DO MÊS E DO BIMESTRE
Em fevereiro destacaram-se a Renault, com crescimento de 31% sobre mesmo mês de 2017, seguida da VW, com +29%, Hyundai, com +20%. Do outro lado da tabela figuram a Fiat, com – 8% e Citroën, com – 5%. No bimestre, VW e Renault seguem puxando as vendas, com respectivamente +37% e +27%, seguida da GM, com +21%. O licenciamento total de leves no período cresceu 19%.
O fabricante alemão colhe resultados de uma ofensiva de novos produtos e vendas agressivas, nota-se melhor desempenho de vendas em vários de seus modelos. O Polo, por exemplo, figurou em 4º lugar no ranking, repetindo a sua posição de janeiro.
Onix segue líder do mercado, em fevereiro foram licenciadas 12.797 unidades, suas vendas cresceram 11% no bimestre e seus competidores mais próximos, Ka e HB20 cresceram menos. Em segundo lugar, ficou o HB20, com 7.364, Ka, com 6.570, Polo 4.942 e Kwid, 4.506.
Numa análise mais a fundo, nota-se os modelos já consolidados tiveram um desempenho de vendas no bimestre modesto. Quem vem ocupando espaço maior no segmento compacto foram Fiat Argo e VW Polo, ambos competem diretamente com o Onix em uma boa gama de versões. Nos suves, Kicks e Compass também ganharam participação.
Pode ser que as melhores condições da economia tenham permitido aos fabricantes em cortar vendas diretas aproveitando das melhores margens do varejo. Tanto Renault como a Honda nitidamente redirecionaram mais vendas aos revendedores, ao passo que as marcas Peugeot e Citroën tiveram de recorrer ao canal direto para sustentar volumes. Ambas estão sem novidades nem novos produtos. Pode ser que o Citroën Cactus venha para dar ânimos à marca.
Strada e Toro seguem encabeçando a lista das picapes mais vendidas, com respectivamente 4.137 e 3.052 unidades, seguidas da Saveiro, com 2.957, Hilux, com 2.152 e S10, com 2.014. Destaque para a Amarok, que com 104% de aumento de emplacamentos no bimestre tomou o 6º lugar da também argentina Ford Ranger. O V-6 diesel na opção de topo deve seguir atraindo novos consumidores e mexendo no mercado de médias a diesel. Aguarda-se as novidades da Mercedes Classe X e Renault Alaskan.
O segmento de comerciais leves teve expansão menor que o de automóveis de passageiros, 15% contra 19% e aumento de participação das vendas diretas.
Em 2018 os desafios permanecem. Até mês que vem!
MAS
(fim)