Maior fabricante de caminhões no Brasil — e consequentemente escrituradora dos maiores prejuízos durante o inesquecível governo (sic) Dilma —, Mercedes apostou no futuro, aplicou R$ 770 M para um salto de qualidade, implantando os processos Indústria 4.0 em São Bernardo do Campo, SP, e na fábrica de cabines em Juiz de Fora, MG.
Indústria 4.0 é novo patamar de evolução, marcado pelo diálogo entre máquinas. Reduzindo intervenção de mão de obra, empregando carrinhos comandados eletronicamente para levar peças à linha de montagem. Sem papéis, todas as operações coordenadas por computadores, tablets e celulares, sistema envolvendo vendas, caminhão ao ser montado é individualizado, atendendo especificações do comprador. Processo envolve parte física, com implantação de linhas elétricas subterrâneas para fazer os carrinhos receber, transportar e entregar as peças nas mãos dos operários, mudança de equipamentos visando menor esforço físico e ganho de tempo, treinamento de fornecedores e colaboradores. Na prática o ganho de produtividade inicial é de 15% em tempo e espaço, aspecto crítico para a Mercedes, nascida numa fazenda e hoje cercada de casas, vilas e bairros vedando sua expansão.
A hiperconectividade — também chamada com intimidade de Dataparafuso por monitorar todas as partes e sua aplicação — eleva padrão de qualidade, pois ao acompanhar cada operação durante a construção, eventuais falhas são corrigidas na hora e local, e o ganho da qualidade dispensa a inspeção e os testes ao final da linha de produção. Outro item, reduz estoques a 48 horas, liberando espaços industriais.
Primeiro passo, o Indústria 4.0 será estendido aos outros setores da fábrica — a Mercedes não é montadora, mas fábrica verdadeira, produzindo os órgãos vitais de seus caminhões, motores, câmbios, eixos, chassis. Como o sistema sabe quais os passos para agregar os órgãos mecânicos, equipamentos e acessórios para atender à encomenda dos clientes, a linha de montagem pode receber todos os modelos de caminhões, reduzindo a área necessária à produção.
O sistema é uma revolução industrial e sua implantação pela Mercedes motivará todas as outras marcas e montadoras à atualização.
Honda importa novo CR-V
Dos importados de maior sucesso, o Honda CR-V volta ao país, trazido dos EUA, quinta geração do bem sucedido SUV — tem tração nas quatro rodas engatável automaticamente sob demanda — e mecânica liderada pelo motor L-4, 1,5 litro, 16v, 190 cv, poderosos 24,5 m·kgf de torque; dianteiro, transversal, câmbio CVT por polias variáveis, 7 marchas.
Nem parece utilizar a plataforma do Civic, ao oferecer enorme espaço aos passageiros, mantendo uma das características marcantes de seus veículos utilitários, a grande capacidade interna de combinar arranjos e criar espaços para levar objetos compridos. É veículo eminentemente familiar, apesar de não ser lento. Conectividade incrementada.
Honda Brasil maneja doce problema: sua capacidade produtiva está plena, e empresa espera crescimento do mercado para justificar a operação da fábrica inaugurada e fechada em Itirapina, SP. Enquanto não puder dar salto de vendas, utilizará de expedientes como fazer importações para manter atratividade aos salões dos revendedores, como o faz com os importados Accord e, agora, o CR-V. Carro completo, sem opções, R$ 179.900, o mais caro da marca.
FCA informa: sai Ketter, entra Filosa
FCA indicou troca de comando para as operações na América Latina. Sai Stefan Ketter, engenheiro, brasileiro, apesar do nome, e assume Antonio Filosa, engenheiro, 44, italiano.
O engenheiro Ketter ganhou rótulo no Brasil: antipático competente. Fez ótimo serviço na FCA: implantou a marca Jeep; construiu fábrica em meio a canavial pernambucano; geriu o desenvolvimento dos três veículos nela produzidos, os Jeeps Renegade e Compass, e o Fiat Toro, os dois últimos líderes de venda em seu segmento. Acima disto, não divulgado, mudou o conceito de qualidade produtiva dos Fiat. Seus novos produtos, Argo e Cronos, estão mais para produtos alemães.
Tanta competência não fez amigos – ao contrário, anúncio de sua saída, motivou muitos drinques na noite de sexta, churrascos no sábado.
O eng. Ketter mudou toda a diretoria, resumiu quadros, aumentou a carga de serviços sobre os remanescentes, incrementou as avaliações tecnológicas em detrimento das humanas; meteu-se até nos programas de lançamento de produtos, e ofereceu aos concorrentes uma conclusão prática ao inovar à apresentação do Mobi: digital media influencers, gente escrevendo em blogs sem ser jornalista ou especializado em automóveis, em detrimento da imprensa especializada. Retorno pífio desta mídia.
Competente, volta à sua posição de vice-presidente mundial de Manufatura.
Nada a ver
Engenheiro pelo Instituto Politécnico de Milão e Gestor pela mineira Fundação Dom Cabral, Antonio Filosa é napolitano, com larga e ascendente carreira na marca: foi o gestor da fábrica Fiat em Betim, MG, recordista ocidental ao produzir 3.300 carros/dia sob o mesmo teto; e pinçado a frequentar logística, compras, fornecedores, marketing, gestão de produtos, presidente da Fiat Argentina.
Dele espera-se olhar ameno: para a fábrica de Betim, desprezada na gestão Ketter; para as relações com os colaboradores, também descompromissadas; com a imprensa especializada, vista pelo antecessor como elefantes a caminho do desaparecimento.
Tem característica positiva ao meio: gosta de dirigir, e de automóveis novos e antigos. Para lembrar, a Fiat apenas se descolou do fim da fila do mercado quando teve mandatário apreciador de produto. Gostar de automóveis conduzindo fábrica de automóveis é fator fundamental ao êxito.
Volkswagen faz 65 anos de Brasil
Situação invulgar, crescimento sustentado, recuperando 2º lugar em vendas, querendo voltar à liderança, Volkswagen comemorou 65 anos no Brasil. Não considerou como data base o início da montagem dos produtos da marca pela representante Brasmotor, mas de sua presença direta com pequena operação artesanal de montar sedãs e Kombis em primária linha à rua do Manifesto, bairro do Ipiranga, São Paulo. Após, construção da fábrica em São Bernardo do Campo, SP; Taubaté, SP; fábrica de motores em São Carlos, todas em São Paulo, e beiradas de Curitiba, PP, comemora muitas histórias e a fabricação de 23 milhões de unidades — representadas pelo mais novo de seus produtos, o Virtus. Curiosamente não apresentou série especial para marcar a data.
Roda-a-Roda
Ex-careta – Medo de extinguir-se pelo engessamento de suas propostas e envelhecimento de sua clientela, luxuosa americana Cadillac se reinventou com veículos, competições, engenharia.
Poderosa – Última novidade, motor V-8, 4,0 litros, dois turbos e aproximados 550 cv de potência. Tudo novo, bloco em alumínio, diâmetro x curso 86 mm x 90,2 mm, seis mancais fixos, 9,8:1 de compressão, exigência de gasolina superior. Emprega os dutos de escapamento correndo pelo berço do V, solução antiga, assim como os turbos, solução Mercedes.
Independência – Coisas da GM, é motor exclusivo para a divisão. Chevrolet continuará com V-8 de geração anterior. Engenho equipará o cupê CT6 V-Sport, e ante a poderosa cavalaria, Cadillac adotou o axioma de Pirelli: Potência não é nada sem controle, aplicando tração nas 4 rodas para dirigibilidade.
Mais uma – Fábrica da Volvo em Ghent, Bélgica, iniciou produzir automóveis Lynk&Co, nova marca de volume da Zhejlang Geely. As três empresas pertencem à holding chinesa proprietária da Volvo. Ideia é criar nova marca com cara europeia — e não chinesa.
Fila anda – Com ou sem as regras do Rota 2030, o nunca terminado projeto do governo federal regrando as indústrias automobilística e autopartista, e o contraponto de redução de tributos relativamente ao ganho em tecnologia, BMW resolveu colocar o SAV BMW X3 em montagem em sua fábrica em Araquari, SC.
Investimento – Quer presença no segmento de maior crescimento. A linha X representa 60% da montagem catarinense. Duas versões: motor L-4, 2 litros, turbo, e 252 cv; L-6, 3 litros, 360 cv. R$ 310.000.
Tiguan – Muito bom, porém mal explorado pela VW, reaparece no mercado em versão nova e opções de duas distâncias entre eixos, para cinco e sete passageiros; motores 1,4 e 2 litros, turbo com injeção de combustível. Câmbio automático, 6 marchas, tração em duas e quatro rodas. Preços não ajustados, mas aposte entre R$ 110 mil e R$ 140 mil. Vem do México.
Sinal – No projeto da marca em ter cinco SUVs no mercado-sul americano, exibiu o conceito do Projeto Tarek, também chamado Tharu. Em fugaz apresentação na China foi apresentado como Concept Powerful SUV. Motor L-4, 1,4 litro, TSI,
Mais – Será produzido na Argentina em 2020, sobre a jeitosa plataforma MQB em versão maior ante as utilizadas no Brasil para Polo e Virtus, base para o T-Cross, próximo produto da VW no Brasil.
Toro 2019 – Líder no segmento, picape Toro antecipou linha com carimbo do próximo ano. Agregou versões equipamentos como o desembaçador do vidro traseiro em todas, implementou acessórios.
O que – Das novidades, Endurance 1,8 litro, Flex, caixa automática de 6 marchas e Volcano 2,4, Flex, automática, 9 marchas.
Preços entre R$ 91 mil para Endurance 1,8 Flex AT6 e R$ 143 mil a Volcano diesel, automática, 4×4.
De volta – Effa, antes encomendadora de veículos montados na China, assumiu feição industrial: monta em Manaus quatro modelos de picapes, cabines simples e dupla, motores 1,0, 53 cv, e 1,3, 78 cv, transportando entre carga e passageiros 940 kg. Preços entre R$ 40 mil e R$ 57 mil. Não indicou qual o fornecedor das peças e conjuntos.
Ecologia – Fábrica Jeep em Pernambuco é a primeira Aterro Zero. Na prática, material sobrante da produção é reciclado, sem danos ao meio ambiente. Agrupa resíduos próprios e do parque de fornecedores em seu entorno.
Pesquisa – Atividade da empresa aproveita os retalhos das chapas estampadas para gerar peças menores, e transforma isopor em canetas e capas para CDs. Segredo da gestão do lixo é evitar produzi-lo. No período reciclou 1.500 toneladas de papelão – 300 mil árvores deixaram de ser cortadas.
Cultura – Cinco anos após fechar o Walter P. Chrysler Museum em Auburn Hills, Michigan, perto de Detroit, Chrysler resolveu transformar o prédio onde construía o agora descontinuado Viper em local para 85 exemplares de sua coleção de 400 veículos históricos. Será espaço de convivência e bem-estar.
O futuro chegou. De novo
Em 1953 a Mercedes acatou a sugestão de um representante tornado sócio numa operação brasileira, e decidiu por instalar-se industrialmente no país. Adquiriu uma fazendinha em São Bernardo do Campo (foto acima), local de agropecuária e cerâmicas onde, nas vizinhanças, haviam duas esforçadas iniciativas privadas, operando há alguns anos. Uma, pioneira no local, a Brasmotor montava produtos Chrysler e Volkswagen. Outra, a Varam Motores, iniciou montar Nash — marca dos EUA —, depois Fiat.
Decisão importante, sem saber avalizaria os planos de implantação da indústria automobilística no Brasil, a iniciar-se ainda naquele 1953, e com projeto tocado pelo governo JK a partir de 1956. O fato de a Mercedes, marca internacionalmente sólida, história imbricada com a do automóvel, diferia das outras operações, de origem americana, mas em marcha-lenta. Quando o Brasil montou Road Shows internacionais para expor ideias, facilidades, e atrair as marcas ao Brasil, a Mercedes era uma das grandes, sólidas, e havia chegado ao país nas beiradas do novo ciclo, ao contrário das outras — exceto a incógnita e confusa Willys-Overland, que viria a liderar o mercado e desaparecer em uma década. A Mercedes-Benz foi a grande referencia para o projeto brasileiro de mobilidade.
A implantação do sistema Indústria 4.0, de hiperconectividade, uso intensivo de dados, arquivos em nuvem, responsável por ganhos de produtividade, evolução profissional da mão de obra, racionalidade, exibe, novamente, o pioneirismo e o aval da Mercedes ao futuro. Implantando o sistema exigirá ser seguida pelos fornecedores e concorrentes. Em indústria automobilística brasileira a Mercedes serviu de avalista para implantação, e motivadora à ida ao futuro. Onde já chegou.
RN