Em tempos de selfies e superexposições em redes sociais eu ando sempre na contramão. Não que seja tímida propriamente dito — só não gosto de “eu me amo” nem de dizer “vejam como sou linda/feliz/amada, etc., etc., etc.”. Por isso acabo usando poucos recursos de celular e mesmo algumas coisas de computador. Sou mestre em Word, por exemplo, mas não me peçam para transitar naquela faixa entre o Photoshop e as interfaces com o Facebook, por exemplo.
Dito isto, uso relativamente pouco a câmera do meu celular. Em viagens prefiro a fotográfica, que tem muitos mais recursos, mas sim, eventualmente, uso a do espertofone. E como acabei de voltar de férias estive organizando as fotos e me deparei com algumas que tiro com bastante frequência: de estacionamentos. Sim, costumo fotografar o lugar onde deixo minha viatura, especialmente quando paro em locais muito amplos, como supermercados, aeroportos, etc. Se estiver acompanhada, então, sempre faço isso, pois a chance de me distrair entre estacionar e voltar é de quase 100%.
Para piorar, tem lugares que designam os andares de maneira pouco clara. O supermercado Extra Itaim, em São Paulo, repete a numeração entre os andares sem sequer identificá-los. Assim, se você para na vaga de A com 4 no andar que tem entrada pela João Cachoeira pode encontrar uma vaga exatamente igual no andar com entrada pela rua Leopoldo Couto de Magalhães. Genial, não? E não há indicação como G1, por exemplo. Já fui vítima disso e descobri essa fantástica ideia depois de passar mais de 20 minutos procurando o carro no corredor e na fileira certos, mas no andar errado. Aí refiz mentalmente meu caminho ao chegar, um par de horas antes, e, bazinga! percebi que estava no andar errado. O pior é que havia fotografado o local do estacionamento e, para meu azar, a vaga era igual à do outro andar — ou seja, momentos de pânico até descobrir que havia outro andar com a mesmíssima numeração.
Atualmente tem aplicativos de celular que “lembram” ao usuário onde parou mas, sinceramente, não quero baixar nada mais no meu espertofone. Embora a memória dele seja realmente generosa, já tenho coisas demais e acho que apenas a foto é suficiente para isso. Tenho vários aplicativos que uso com muita frequência e não necessariamente ligados a carro. O Flightstats é excelente para acompanhar o status de voo quando vou viajar ou espero alguém. O Shazam me tira do sufoco quando estou ouvindo uma música no rádio ou num lugar público e quero saber como se chama e não lembro. E por aí vai. Por isso acho que um apenas para lembrar onde estacionei não seria assim tão prático — mas não descarto testar. Quem sabe… O Google Maps tem essa função, assim como o Google Now (Assistant), o Waze. Mas acho que me acomodei com a câmera.
Em épocas pré-celular inteligente e pré- internet já passei muito susto. Lembro quando viemos morar no Brasil uma vez que fomos com minha mãe na feira UD, no parque Anhembi. Era um programa muito frequente para ver o que havia de mais moderno para a casa em termos de utilidades domésticas — daí o nome. Minha mãe parou o carro naquele latifúndio que era o estacionamento do Anhembi e entramos. Horas depois, ao sair, ninguém lembrava onde havíamos deixado o super hiper mega raro Fusca branco. É claro que estou sendo irônica, pois acredito que no final dos anos 1970 devia ser um dos modelos e das cores mais vendidas… só dava Fusca branco naquele mar de carros. Chamamos um segurança que, quando respondemos a cor e o modelo do carro, disse apenas: Boa sorte! E foi embora. Eu não tenho certeza de quanto tempo levamos para achar o dito-cujo, mas minha mãe garante que foi bastante.
Pior foi minha tia — na verdade, tia do meu marido. Ela ia com muita frequência ao shopping Iguatemi, que era quase o quintal da casa dela. Um dia, junto com minha prima, estacionou e entrou para fazer compras. Ao sair, foi decidida até o lugar onde (achou que) havia parado o carro e… nada dele! Ela insistiu com minha prima que também lembrava que era algo assim como, saindo do elevador, à direita, ao lado de uma coluna. Bom. Dá a volta para um lado, para o outro e nada. Quanto ao andar, as duas tinham certeza absoluta que era aquele mesmo. Já achando que havia sido vítima de furto, chamou um segurança que, pacientemente, começou a perguntar os dados do carro para sair para procurar o carro, de moto. Eis que minha prima percebe que ele estava paradinho à direita, ao lado de uma coluna, ao lado… do outro elevador. Elas acharam que estavam pagando o maior mico, mas o segurança foi gentil e disse que isso era muito comum. Pessoalmente, tenho certeza de que sim. Um dia ainda hei de entrevistar alguns guardas de estacionamentos grandes, pois tenho certeza de que tem muitas histórias desse tipo.
Um dos meus sobrinhos, o Rodrigo, é muito, mas muito desligado. Quando digo muito desligado, acreditem em mim. Sou louca pelos meus sobrinhos e não há tia no mundo mais coruja do que eu, mas reconheço que ele é totalmente fora da caixinha. Um dia saiu de carro e deixou o possante com um manobrista. Na hora de buscar o veículo, claro, havia perdido o canhoto do estacionamento. Chegou lá e explicou que não achava o papel, mas que seria capaz de descrever o carro e pediu que fossem buscá-lo. Meio desconfiado, o manobrista primeiro foi dar uma olhada, mas voltou tempo depois sem encontrar o veículo.
O Rodrigo disse que não era possível, que ele tinha certeza absoluta que havia deixado o carro ali. O manobrista, cheio de bom senso, pediu então o documento do carro para poder procurar e confirmar que ele fosse o proprietário e, assim, entregá-lo sem correr riscos. Mas o documento estava no porta-luvas — sim, já falei para ele nunca, jamais, fazer isso. Ele descreveu o carro, disse que o documento estaria no porta-luvas, em nome da mãe, que se chama assim, assim e assado. A essas alturas do campeonato vários manobristas procuravam o tal carro e meu sobrinho, que é um mar de tranquilidade como toda pessoa desligada, estava ficando nervoso pensando como ia explicar para a mãe que havia perdido o carro. E ninguém achava. Sorte dele que ninguém pensou em chamar a polícia, pois os manobristas, além de irritados com a perda de tempo, começavam a desconfiar que se tratasse de uma tentativa de furto.
Mas depois de sei lá quanto tempo, o desligadinho lembrou que não havia ido com o carro da mãe, mas sim do irmão. Logo, o carro não era do modelo X, mas sim do Y, nem da cor W, mas sim Z, se o encontrassem, o nome no documento não seria Fulana e sim Sicrano… e por aí vai. No caso dele, não tem aplicativo que dê jeito — até porque já perdeu celular também, além de passaporte e outras coisinhas assim, digamos, pouco necessárias…
Mudando de assunto: este é totalmente outro assunto e sequer ligado diretamente a carros. Mas como sempre menciono a total falta de bom senso de algumas pessoas e os atentados às estatísticas e aos números, não me aguentei. Recentemente encontrei esta pérola no supermercado. Sempre digo que Matemática é algo que parece uma ciência oculta para certas pessoas e que o ensino está péssimo no Brasil, mas que uma empresa de grande porte deixe passar isto, é revoltante. Como podem as bactérias serem reduzidas em 151%? Será que se eu usar esta escova de dentes estarei totalmente imunizada e ainda terei “crédito” de imunização para as próximas? Tem conta de ida que não funciona na volta.
NG