Mundial de Resistência anunciado por três temporadas em São Paulo
A categoria “Endurance” tem boas disputas, carros interessantes, pilotos brasileiros disputando vitórias e muitos admiradores no País. Quando seu promotor, Gérard Neveu, anunciou nesta quinta-feira (22) que fechou contrato com uma empresa paulista para garantir a presença do Brasil em três temporadas do Campeonato Mundial de Resistência (WEC, na sigla em inglês), não faltaram expressões de alívio e sorrisos de comemoração. A julgar pelas declarações do dirigente francês, a volta dos protótipos e GTs se encaixa perfeitamente num cenário que assegure a sobrevivência de Interlagos, local das três provas que acontecerão anualmente, até, pelo menos, 2022. Tão rápido como uma volta que garanta a pole position, o anúncio gerou a sensação de que o WEC volta, Dória vai e Interlagos fica…
Senão, vejamos: o prefeito João Dória já declarou várias vezes que o comprador do complexo Interlagos terá que respeitar contratos vigentes antes de lançar mão do terreno para construir espigões, shoppings e o que mais lhe aprouver. Uma reflexão mais tranquila sobre o que se falou na coletiva de imprensa para o lançamento da prova leva a uma conclusão sensata e bastante palatável onde interesses de três setores se encaixam perfeitamente. O alcaide paulistano foi eleito com a plataforma de privatizar o complexo Interlagos com a prerrogativa de respeitar contratos vigentes.
Ainda que João Dória Jr. não tenha respeitado o contrato firmado com seus eleitores, o de cumprir seu mandato como prefeito, o fato de deixar o cargo sem que o autódromo paulistano tenha se transformado em um canteiro de obras deixa de ser uma falha sua caso um contrato entre em vigor e impeça a negociata. É sabido que o GP do Brasil de F-1 está garantido até 2020; a chegada do WEC estenderia esse prazo até 2022/2023. A terceira parte deste raciocínio diz respeito ao lado econômico da empreitada. Apesar do acordo selado, não foi anunciado quem está financiando o empreendimento: a categoria movimenta bem menos dinheiro que a F-1 e bem mais que a F-E, a categoria de carros elétricos; é sabido que o balneário uruguaio de Punta del Este investiu cerca de US$ 20 milhões para, há poucos dias, realizar uma etapa da modalidade em suas ruas.
Posto que a N.Dududch Motorsports, empresa que se apresenta como a promotora da competição, é especializada em promover eventos e, de acordo com Patrícia Negrini, uma de suas executivas, presta serviços para várias empresas associadas ao Lide (grupo empresarial criado e consolidado por João Dória Jr) é lícito enxergar congruência de interesses entre as partes envolvidas. Ela mesmo admitiu que os dois se comunicam frequentemente por telefone. Nada que desabone o empreendimento ou a agência promotora; muito pelo contrário, sobram motivos para justificar a realização das três competições, a primeira prevista para acontecer em dezembro de 2019 ou janeiro de 2020. O evento é interessante, tem brasileiros como Bruno Senna (embaixador do WEC para o Brasil) entre seus nomes mais importantes, a categoria está em fase de reestruturação e crescimento, o mercado brasileiro é interessante para equipes e fabricantes envolvidos na categoria, os fãs locais apreciam corridas longas e a firma paulistana tem um bom currículo no mercado.
Neveu: “Interlagos é um templo”
Promotor bem sucedido a ponto de manter a categoria em atividade apesar de toda a pressão sofrida por Bernie Ecclestone durante muitos anos, o francês Gérard Neveu é tão otimista quanto realista. Questionado sobre o risco de anunciar um evento na passagem de 2019/2020 em um circuito que está jurado de morte por políticos como João Dória e Milton Leite (DEM), o líder da Câmara Municipal, Neveu destacou a importância do Autódromo José Carlos Pace no contexto internacional:
“Interlagos é um templo mundial do esporte a motor. Cite seu nome e a reação é a mesma de quando você menciona Le Mans, Monza, Spa e alguns outros. Pronuncie “Interlagos” e todo mundo saberá do que você está falando e de onde fica essa pista. Sobre a possibilidade de a administração do autódromo trocar de mãos, isso já aconteceu em vários circuitos, como Silverstone, por exemplo, e continuamos realizando corrida lá. De qualquer forma, o meu contato não é com a prefeitura, mas com um promotor local…”
O representante da SPTuris presente da reunião, João Amaral, declarou que independente do que acontecer com Interlagos seu foco é colaboração e integração e que busca as melhores oportunidades para São Paulo. A SPTuris é uma empresa de economia mista controlada pelo governo municipal e Amaral lembrou que a Secretaria de Desestatização é quem cuida da possível venda do autódromo. Interessante notar a sinergia que existe entre duas autarquias controladas pela mesma prefeitura…
“CEO” da empresa que leva seu sobrenome, Nicolas Duduch declarou que quer trazer “uma experiência completa para os fãs do esporte a motor”. Durante a apresentação ele e seus colaboradores diretos mostraram que a interatividade será uma parte importante do evento que, sem dúvida, atende a um mercado bastante carente de eventos do tipo. Ingressos a preços reduzidos e que facilitem a presença de famílias, eventos paralelos, provas preliminares como um evento da Porsche Cup e shows de música compõem o arsenal para lotar as arquibancadas.
Detalhe importante é que, desta vez, a participação de Emerson Fittipaldi está totalmente afastada: responsável pelas três últimas edições (2012/13/14) da prova ”Seis Horas de Interlagos”, o bicampeão mundial deixou débitos junto a fornecedores de produtos e serviços. Ainda que esses fatos não tenham qualquer relação com o promotor atual ou com a FIA-WEC, o espectro das dívidas ainda está vivo para quem amargou o prejuízo.
WG