Um carro pode sim começar com um esboço, uma pequena ideia com caráter e lógica.
Normalmente este será um dos vários desenhos que tentam interpretar a visão do designer conforme o briefing recebido do Designer-chefe.
Neste caso o chefe quer um carro esportivo de luxo, com motor central-dianteiro, tração integral, e somente dois lugares mais espaço para seus tacos de golfe.
Para iniciar a interpretação deste desenho e transformá-lo em informação real para iniciar um projeto, o design vai precisar uma posição de manequim e linhas básicas da plataforma do carro.
Sem isso os desenhos em perspectiva não valem para nada, pois de um sketch não se retira nenhuma medida utilizável para a construção do modelo.
Então, mãos à obra!
LV
PONTO ‘H’
O posicionamento do ponto H e’ um dos fatores mais importantes no projeto.
Quanto mais baixo for o ponto H mais esportivo o carro será, porém também o mais desconfortável para acesso e saída do veiculo.
Em países como o nosso, onde encontramos diariamente um terreno off-road, mesmo estando dentro da cidade, devidos aos desníveis, lombadas, buracos e defeitos de asfalto, isto quando a via é pavimentada, os SUVs fazem o maior sucesso, principalmente pelo “feeling” dos passageiros e motorista.
Mais alto, melhor visão do caminho, bom acesso ao veículo, e ótima posição de trabalho, são as características de um ponto H alto.
Já em nosso projeto, queremos um carro esportivo de luxo, portanto nosso ponto H tem que ser mais baixo que o normal (sedãs, hatchbacks, fastbacks), porém não pode ser extremo a ponto de obrigar um velho senhor milionário “pagar mico” em frente ao restaurante do momento na hora de sair do carro.
O manequim tem duas posições importantes, uma a distância do assoalho e outra, do solo, esta variável.
Com o manequim posicionado já podemos calcular a altura final do automóvel, (O) assim como posicionar a “elipse de olhos” onde estarão concentrados todos olhos de pessoas de 1,50 a 1,85 m e, portanto, definir os ângulos de visão dianteiro (B) e também calcular os ângulos de retrovisão.
Também, a posição do volante e a área ideal para o “Cluster de instrumentos” já pode ser definida, e todos ângulos de conforto (costas, pernas e pés e braços), assim como posição dos pedais.
POSIÇÃO DO DESENHO DE CONSTRUÇÃO E PLATAFORMA
A posição correta para se iniciar um desenho de construção como este é a vista lateral, mostrada do lado do motorista, portanto com a frente para o lado esquerdo.
Esta posição é’ padrão para desenhos de engenharia , Package e no Design, nos “Tape Drawings”, que vamos construir juntos.
No desenho acima você tem a representação de um desenho de Package típico de inicio de projeto, mas já o suficiente para os designers iniciarem suas linhas de superfícies.
Tudo que tem no carro pode ser medido no espaço. Para isso temos que definir um ponto zero que na maioria dos projetos está na direção do centro do eixo dianteiro e centro do veiculo.
A partir do ponto ZERO, contamos em milímetros, para cima e para baixo, para frente e para trás e para dentro e para fora, ou seja nas três dimensões: X,Y,Z.
Os grandes conjuntos estão lá representados: powertrain, que consiste do motor, todos seus principais agregados, caixa de câmbio, transmissão, sistema de escapamento, etc.
Da parte não mecânica um esboço do painel de instrumentos que já define o encontro do para-brisa com capô, espaço de bagagem e eventual espaço atrás do motorista e passageiro traseiro.
Mas não são só estas as limitações do desenho. Existem os famigerados “HARD POINTS”, inimigos número 1 dos designers.
HARD POINTS OU PONTOS CRITICOS
Estes são apenas alguns dos principais Hard Points que temos que respeitar:
• Nova legislação de proteção para pedestres na região do para-choque
• Área de arrefecimento do motor
• Balanço dianteiro
• Posicionamento e iluminação eterna
• Proteção de pedestres na frente e capô
• Visibilidade dianteira e limites de inclinação do para-brisa
• Retrovisão externa
• Retrovisão interna
• Altura da linha dos vidros laterais
• Visão e alcance confortável a todos comandos e ícones para todos manequins
• Itens de segurança passiva e ativa dentro da cabine
• Espaços sem colisão ou desconforto para braços, costas, pernas
• Ventilação da cabine
• Altura máxima
• Volume e acesso ao compartimento de bagagens
• Espaço para roda-reserva
• Proteção e vigília traseira, sensores, etc
• Posicionamento da iluminação traseira
• Conformidade com as normas e legislações de iluminação externa
• Forma aerodinâmica ideal, que veremos separadamente
LINHA ZERO
Aí surgem as primeiras linhas que vão definir o contorno lateral do modelo. Somente com este contorno você já pode analisar vários aspectos do futuro modelo:
• Do ponto de vista estético você já pode avaliar o “equilíbrio” das massas, a fluidez do desenho e o equilíbrio e direção das linhas
• Fica bem evidente o problema da PROPORÇÃO (se é boa ou má), que é um dos elementos mais importantes para um bom design
• Você já pode comparar as proporções com os concorrentes e antever pontos forte e fracos
E’ claro que existe uma certa flexibilidade na própria linha zero e através desta você pode mudar vários pontos de caráter do carro. Milímetros para cima ou para baixo mudam completamente o desenho.
Quando olhamos o perfil de um Porsche vemos linhas simples, porém as poucas curvas são estudadas por meses para atingir o ponto de “State of art”, onde a LUZ percorre a superfície sem nenhum acidente e de maneira fluida.
LV
TODOS OS DESENHOS SÃO PURAMENTE ILUSTRATIVOS E NÃO TÊM MÉRITO CONSTRUTIVO.