O Brasil todo acompanhou o desenvolver do movimento de paralisação dos caminhoneiros. Todos sabem também aquilo foi um locaute e nocaute, pois deixou o governo de joelhos, concedendo praticamente todas as exigências apresentadas pelos líderes dos locautes. Passados alguns dias, começaram os balanços dos estragos e também daquilo que não iria acontecer.
Por uns momentos, vi-me em 1986 e os bois no pasto do Sarney. Tabelas de fretes, de preços de óleo diesel, enfim, um Brasil pesadelo que havia sido deixado para trás. Ou o imaginávamos distante. Tabelar forçadamente a produção, preços, fretes, faz parte do imaginário ignorante de história de alguns políticos que despontam candidatos na corrida presidencial e assombram os mercados, investidores e sociedade. O Brasil que quer ir pra frente tem uma persistente classe política que quer regredir.
O balanço apresentado pela Anfavea no último dia 7, como esperado, confirmou a produção e vendas de autoveículos foram atingidos em diferentes proporções de fabricante a fabricante. Com uma semana a menos de transporte de componentes e de veículos prontos, o estrago até que não pareceu tão grande. Mas foi.
Ao todo venderam-se 201.897 veículos, dezesseis mil a menos que em abril e com um dia útil a mais. Foram 195.291 leves e 6.606 comerciais pesados. A média diária de emplacamentos de leves ficou em 8.877, queda de 11% sobre o mês anterior. Um leve recuo na participação das vendas diretas, de 43% para 41% não chega a significar uma tendência ou mudança no quadro.
O setor automobilístico vinha garantindo aumento da atividade industrial e parece seguirá a sua recuperação, a despeito da turbulência política nos meses que antecedem o pleito majoritário de outubro.
Outro ponto que venho abordando aqui com frequência é o do programa PcD, modalidade de renúncia fiscal embutida na venda de veículos novos com características específicas a pessoas com algumas deficiências motoras ou não, amparadas em certificados médicos mambembes. A Fenabrave os computa junto com as vendas diretas e como este programa segue em contínua expansão, as estimativas específicas para o PcD ficam camufladas, uma verdadeira distorção dupla. Para termos uma ideia, em maio, 74% das vendas do suve preferido do PcD, o Renegade, foram para vendas diretas; no mesmo mês do ano anterior esse percentual já era elevados 50%. Esse modelo da Jeep vendeu menos no varejo (-10%) nos cinco meses deste ano do que em ’17, mas suas vendas totais se expandiram em 20% (17.803), que é superior ao aumento médio do mercado de automóveis, em 16%.
O Nissan Kicks saltou de 17% para 45% suas vendas diretas na comparação de maio contra maio. É outro dos queridinhos do PcD. Os suves compactos são os preferidos das pessoas com algum tipo de defeito declarado, mas o programa vai bem em todos modelos que podem ser vendidos por até R$ 70mil com caixa automática. Aí, com os impostos zerados ele é faturado entre 53 e 54 mil reais ao novo e feliz proprietário, que os reequipa nos concessionários, rodas de alumínio, multimídia, couro, sensores, enfim.
As vendas no varejo expandiram-se bons 13% no ano, adicione-se as vendas vitaminadas pela renúncia fiscal e o total salta a 16%. Em números, foram 569.988 licenciamentos no varejo em cinco meses (503.557 no ano passado) e 362.185 de vendas diretas (298.713 em ’17). Para cada automóvel a mais, vendido normalmente na rede, houve outro nas vendas diretas, ou com renúncia fiscal. Precisa dizer mais?
Esta coluna defende que a Fenabrave apresente esses números com maior transparência. Já está na hora.
RANKING DO MÊS E DE CINCO MESES
O primeiro quadrimestre apresentava números de crescimento de até 40% sobre mesmos meses do ano anterior. Nessa bagunça toda, 2,5% de evolução sobre maio de ’17 para automóveis e comerciais leves teve destaques da Nissan, com 45% a mais de emplacamentos, Jeep, com 35% e VW com 21%. Na outra ponta, Citroën, com -27%, seguida da Honda, com -16% e Renault e Toyota, ambas com -7%.
No acumulado até maio, Nissan segue destacando-se, com crescimento de 38%, seguida da VW, com +35%, Renault, com +27% e Jeep, +23%, num mercado que se expandiu 16%. Importante salientar que tanto a Hyundai (+8%), quanto a Honda (+3%) enfrentam limites de capacidade produtiva. Com o início de atividades da fábrica Honda de Itirapina (SP) e a anunciada transferência de produção de Sumaré para lá, espera-se essa limitação seja mitigada. A ver.
O líder de vendas segue na frente e sem ameaças, Onix voltou a vender bem, 15.015 unidades, seguido do HB20, com 8.513, Ka, 7.639, Gol, Polo. Compass em 6º com 5.559 unidades lidera as vendas totais de suves. Renegade em 10º, põe a marca Jeep com dois modelos no ranking dos 10 mais vendidos, um feito e tanto. O sedã Virtus parece haver esnobado o locaute dos transportes e subiu mais posições, para 12º lugar, com 4.271 unidades licenciadas.
Nos primeiros cinco meses, alguns modelos tradicionais destacaram-se, crescendo mais que o mercado. São o Tracker (+195%) e Kicks (+79%), este desde que passou a ser nacional liberou-se das amarras do acordo de cotas Brasil-México), Versa (+42%), Ka+ (+37%), e EcoSport (+21%, a renovação lhe fez bem). O mercado gosta de lançamentos e esses resultados em modelos já veteranos indicam boas mexidas em políticas comerciais que impactaram nos consumidores.
Nos comerciais leves, a Strada lidera com folga, 5.581 unidades, seguida de sua irmã maior, a Toro, com 4.983, Saveiro em 3º, S10 em 4º, com 3.020 licenciamentos. No acumulado do ano, a pequena Fiat expandiu suas vendas em 35%. As argentinas Amarok e Ranger vêm tomando maior espaço nas médias, a VW cresceu 88% e a Ford 22%, num segmento que se expandiu em 19%.
Este mês tivemos a apresentação e lançamento do novo Toyota Yaris (foto de abertura), hatchback e sedã, para brigar com os compactos premium da VW, Fiat e Honda, na faixa de preço de 50-80 mil reais. Eram projetos elaborados antes da crise se abater no setor e agora colhem os frutos da recuperação. Vem mais renovação aí.
Até mês que vem.
MAS