Greve é um direito dos trabalhadores, ninguém tem dúvida disso. Mas há greves e greves, e essa dos caminhoneiros não era para ser, mas acabou se revestindo da irresponsabilidade por força dos bloqueios diversos. De ruas e estradas à saída de refinarias de petróleo e à entrada de caminhões nos portos, como o de Santos.
Mais grave, com adesão de parte da população não diretamente envolvida na problemática do preço do diesel, mas muito provavelmente insuflada por agentes políticos.
Como mostrado numa reportagem televisiva, manifestantes impedindo que carros fosse abastecidos num posto. Isso é claramente um atitude política e não cabe aqui falar em ato dirigido por algum partido político, mas que sem dúvida foi.
Mais do que a greve em si, os bloqueios foram responsáveis pelo caos que se instaurou no país inteiro, como cansamos ver nos telejornais nesses dias. Um veículo teve o tanque furado para o furto de combustível.
As forças policiais e de segurança demoraram a agir para desbloquear as estradas, algo a lamentar nesse episódio. Nesses momentos firmeza é imprescindível, e ela não veio logo.
O prejuízo disso tudo foi avaliado em R$ 10 bilhões, mas deve ter sido maior. Indústrias,inclusive a automobilística, pararam completamente sua atividade, produtores agrícolas não puderam escoar sua produção, milhões de pessoas ficaram sem transporte para ir ao trabalho ou atender compromissos de toda ordem. Milhões de motoristas perderam longas horas nas longas filas nos postos.
Serviços de atendimento urgente como o Samu ficaram drasticamente reduzidos por falta de combustível, o mesmo com o patrulhamento tático móvel e tantos outros serviços públicos.
O transporte aéreo sofreu pesadamente sem o essencial querosene de aviação, prejudicando a vida do país, dos milhões de brasileiros que precisam se deslocar num país de 8,5 milhões de quilômetros quadrados. Aviões pousavam e não podiam ser reabastecidos, um cenário surreal e típico de guerra.
Centros de abastecimento de produtos hortifrutigranjeiros deixaram de cumprir sua função dada a parca chegada de caminhões. Eventos de toda ordem tiveram que ser cancelados, a exemplo do bienal Brazil Classics Show, em Araxá, MG, marcado para começar anteontem (5ª feira 31).
Restaurantes tiveram de reduzir o cardápio ao não terem os estoques de alimentos para preparar os pratos; farmácias ficaram sem remédios para muitos essenciais; hospitais de repente não tinham os medicamentos e materiais indispensáveis ao atendimento e tratamento, com nos informou um médico chefe de pediatria de um grande hospital em São Paulo, em que nem adrenalina tinham para reanimação. Até oxigênio falou nos hospitais.
Greves têm o amparo da lei, mas seu lado moral é discutível. Elas são em grande parte chantageadoras, como, por exemplo, aeroviários fazerem greve nos dias imediatamente anteriores ao Natal, impedindo que se viaje num período tão importante para as famílias, altamente frustrante.
Esses últimos dez dias foram mesmo de terror para a nação. As cabeças que a idealizaram são de maus brasileiros, e as dos que aderiram bloqueando ruas e estradas, de inimigos do Brasil. Como se tivessem declarado guerra ao próprio país.
Que fique a lição para quem está no governo, hoje e futuramente. Na próxima vez que tentarem parar o país, que deem a resposta imediata. Tais atitudes têm que ser interrompidas mal comecem.
AE/BS