Temporada se aproxima da metade em clima de mudanças e incertezas
O que aparentava ser uma corrida modorrenta em uma paleta de cores que reforçava o rumo do Campeonato Mundial de Fórmula 1 terminou em uma obra cubista e interpretações dignas do trabalho de Dali ou Picasso.
Único piloto da Red Bull a terminar a prova, o holandês Max Verstappen subiu para quinto na classificação entre os pilotos, onde Sebastian Vettel reassumiu a ponta, agora com um ponto de vantagem sobre Lewis Hamilton.
O abandono dos dois carros da Mercedes, algo inédito há 33 corridas, e de Daniel Ricciardo, abriu a possibilidade para que equipes como a Haas, Force India e Sauber brilhassem e terminassem com seus dois carros entre os primeiros, combinação improvável em uma corrida normal de série.
Tudo por causa do forte calor, o responsável por exigir mais de motores e dos pneus, que tiveram desgaste imprevisto, algo que aumentou a expectativa para a corrida do próximo fim de semana, o GP da Grã-Bretanha, em Silverstone. A etapa inglesa será uma excelente oportunidade para desvendar o verdadeiro compromisso entre resistência e confiabilidade de carros e seus “calçados” redondos.
Duas desistências da Mercedes em uma única prova é um fato raro e a última vez que isso aconteceu, no GP da Espanha de 2016, foi por imprudência dos pilotos e não por problemas como falta de pressão hidráulica no sistema de direção do carro de Valtteri Bottas ou uma queda na pressão de combustível no monoposto de Lewis Hamilton. Tais falhas podem ser encaradas como a constatação que tudo criado pelo ser humano é passível de falha ou que os últimos melhoramentos aplicados no trem de força dos carros alemães exigiram mais do que o previsto no conjunto mecânico. Vale destacar que a aerodinâmica dos painéis laterais e seus dutos interiores dos carros alemães foi alterada para captar ar de camadas superiores, mais distantes do piso e, portanto, mais frias em relação ao elemento captado mais próximo do asfalto.
Ainda na área dos motores, dois abandonos que atestam a complexidade do equipamento e o estágio crítico de desenvolvimento: Daniel Ricciardo foi obrigado a abandonar quando uma rachadura no sistema de escapamento provocou o superaquecimento que afetou o funcionamento da caixa de câmbio. Já Nico Hulkenberg retirou-se da prova em grande estilo quando o turbo do seu carro estourou ainda na fase inicial da prova. Numa atitude filosófica ao final da prova o diretor da Renault Sport F1, Cyril Abiteboul declarou:
“Precisamos nos manter focados. Haverá muitas oportunidades para se recuperar dos resultados deste fim de semana desde que a gente reaja apropriadamente”.
Há pouco tempo para uma reação marcante acontecer em Silverstone não só para os fabricantes de motores como também para o fornecedor de pneus. Mudanças mecânicas demandam muito tempo de estudos, análises, fabricação e comprovação de resultados, enquanto os pneus para Silverstone foram definidos há dois meses Entre os fatores que levam a esta conclusão estão o traçado de alta velocidade, o novo asfalto do antigo aeródromo e a possibilidade do verão inglês dar as caras na tarde do dia 8 de julho.
Por ser uma pista rápida e com curvas longas, a pista do condado de Northamptonshire impõe altos índices de desgaste nos pneus: de acordo com a Pirelli, em uma escala de 1 para o mais suave e 5 para o mais forte, as cargas laterais (“lateral” na arte acima) chegam a 5 g em alguns trechos e o desgaste (“tyre stress”) são considerados nível 5, a carga aerodinâmica (“down force”) e a aderência (“asphalt grip”), melhorada graças ao reasfaltamento completo realizado recentemente) estão em nível 4 e a abrasividade do piso (“asphalt abrasion”) é considerada nível 3.
Por tudo isso aparece pela primeira vez na temporada o composto duro, identificado pela cor “azul gelo”. Quem se se lembra das últimas corridas na pista inglesa certamente tem vivas na memória as imagens de pneus despedaçando na segunda metade da corrida, que terá 52 voltas pelo traçado de 5.891 metros. O recorde atual da pista, 1’30”621, foi estabelecido em 2017 por Lewis Hamilton, sempre um favorito quando corre em casa. Após o GP as equipes Haas, Red Bull e Williams voltam a trabalhar no circuito na terça e quarta-feira para testar pneus com especificações que poderão ser adotadas em 2019.
Nesses dois dias a conversa nos boxes deverá ir bem além dos pneus do ano que vem: as últimas reações e declarações no paddock indicam que o mercado de pilotos poderá sofrer menos mudanças do que era esperado, o que gera reflexões. Seria realmente a melhor opção de Daniel Ricciardo continuar na Red Bull em função no renascimento de Max Verstappen no campeonato? Kimi Räikkönen deixará Charles Leclerc esperando mais um ano para defender a Ferrari?
O que acontecerá com a McLaren e Fernando Alonso? O espanhol, que conseguiu um surpreendente oitavo lugar na Áustria usando uma asa dianteira do carro de 2017, ainda não decidiu o que quer da vida, o que aumenta as chances de grandes mudanças na McLaren para 2019.
O resultado e todas as informações oficias sobre o GP da Áustria você encontra aqui.
WG
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