Peça-chave na vitória de Hamilton na Hungria, Bottas causou pânico no final da prova.
Não foram apenas as erráticas manobras de Valtteri Bottas que geraram comentários durante o GP da Hungria, prova vencida por Lewis Hamilton. Durante as 70 voltas da prova o finlandês atuou desde a largada para defender os interesses de companheiro de equipe e dela própria a tal ponto que Toto Wolff, o todo-poderoso chefeda equipe alemã, escorregou ao classificar o trabalho de Bottas como o de um verdadeiro guarda-costas, ato falho remediado mais tarde. Nas últimas voltas da prova Bottas colidiu com os carros de Sebastian Vettel e Daniel Ricciardo e voltou para casa com dois pontos de penalização em sua carteira. Tal qual a batalha do inglês contra o alemão Sebastian Vettel, a disputa com a Ferrari pelos pontos no campeonato e os dólares necessários para sobreviver — aqui envolvendo outras equipes — compõem o rescaldo do fim de semana. Para além dos Flechas de Prata e dos carros vermelhos da Scuderia, Renault e Red Bull se envolveram em nova rusga por conta do abandono de Max Verstappen.
Hoje (terça, 31) e amanhã todas as equipes que disputam a temporada, exceto a Haas, realizam dois dias de testes no traçado magiar. Na agenda, oportunidade para testar novos pilotos e faturar importantes recursos financeiros, além de avaliar uma ou outra novidade para esta e a próxima temporadas. Após esses dois dias de testes a F-1 volta à ativa no dia 24 de agosto, no GP da Bélgica, no lendário traçado de Spa-Francorchamps. É provável que até lá novos contratos tenham sido definidos e, espera-se, a Force India tenha encontrado um novo proprietário: na véspera do GP húngaro Sérgio Pérez, um dos pilotos da equipe de Vijay Mallya, impetrou um pedido de “administração judicial” contra a escuderia. Nas redes sociais o mexicano alegou que tomou essa atitude para proteger os funcionários da equipe: “Minha intenção foi permitir que a equipe siga funcionando sob controle de um administrador designado pela justiça inglesa e, dessa forma, preserve o emprego dos 400 colaboradores.”
Dito isso, não causa a menor surpresa o fato da Force India ter escalado Nicholas Latifi e Nikita Mazepin para pilotar seus carros hoje e amanhã, respectivamente: ambos já demonstraram capacidade de conseguir grandes apoiadores (ainda que a equipe Trident tenha acusado Latifi de não cumprir suas obrigações financeiras), mas nenhum dos demonstrou ter qualidades de campeão. As dívidas da equipe são da ordem de algumas dezenas de milhões de dólares: apenas com a Mercedes é de US$ 10,5 milhões. A marca admite, veladamente, a possibilidade de adquirir indiretamente a Force India ou apoiar um comprador legítimo para torna-la uma equipe B, ferramenta importante para auxiliar no desenvolvimento de motores e formação de novos pilotos.
Tal proposta revela o esquema altamente profissional do projeto de F-1 dos alemães: além de investir na Force India, Toto Wolff também negocia o fornecimento do conjunto suspensão traseira-transeixo com a equipe inglesa, uma forma sensata de rentabilizar o capital investido em pesquisa e desenvolvimento. Ainda no quesito fluxo de caixa, os inúmeros acidentes de Romain Grosjean na primeira fase da temporada ajudaram a Haas a abrir mão dos treinos de Budapeste, optando por dar descanso ao seu pessoal de pista e dar a famosa freada de arrumação na esperança de melhorar a quinta posição entre os Construtores, sete pontos à frente da McLaren, que tem 52.
Já no campo da Renault a situação não é tão calma: uma nova desistência no campo da Red Bull, que utiliza os motores franceses com desenvolvimento paralelo, irritou Christian Horner e Max Verstappen, respectivamente chefe e piloto equipe austríaca. Ao ouvir que Horner acusou a Renault de cobrar por um equipamento de primeira linha e entregar algo não correspondente, o executivo maior da Renault Sport, Cyril Abiteboul, retrucou lembrando que Daniel Ricciardo, com carro semelhante ao do holandês, fez uma excelente prova e terminou em quarto lugar.
Na raiz dessa discórdia está o divórcio entre ambas: em 2019 a Red Bull usará motores Honda e terá status de equipe oficial. Será um recomeço para a casa do touro vermelho enquanto a marca francesa pouco a pouco se consolida como a quarta força na categoria e começa a movimentar o mercado de pilotos. Abiteboul não esconde que negocia a possível contratação de Estebán Ocón, protegido da Mercedes mas que poderia ser liberado sem maiores problemas, entenda-se através de um acordo interessante, abrindo possibilidades para que Greg Russell, outro nome apoiado pela marca alemã, assuma o lugar do franco-catalão.
No cenário composto pelo resultado da Hungria e mercado de pilotos, o papel de Daniel Ricciardo segue indefinido. Apesar de várias indicações de que ele e a Red Bull já teriam se acertado, o novo contrato segue sem assinaturas e paira no ar um quê de insatisfação do australiano com o tratamento que recebe da Red Bull, onde Helmut Marko mal consegue disfarçar sua preferência pelo pupilo Max Verstappen. Na categoria desde 2011 e e desde 2012 nas equipes da Red Bull, Ricciardo começa a sentir sintomas de um piloto que podia estar perto de ter sido um dos grandes de sua época, mas que nunca teve uma chance real de disputar o título mundial.
Ricciardo testa hoje pela equipe Red Bull, que amanhã terá seu piloto de simulador, Jake Dennis, em ação. Outros pilotos que treinam hoje são Antonio Giovinazzi (Ferrari), Nico Hulkenberg (Renault), Nicholas Latifi (Force India), Oliver Rowland (Williams), Marcus Ericsson (Sauber) e Lando Norris, que estará em ação pela McLaren nos dois dias assim como George Russell (Mercedes) e Sean Galael (Toro Rosso). Amanhã entram na pista Artem Makelov (Renault), Kimi Räikkönen (Ferrari), Nikita Mazepin (Force India), Robert Kubica (Williams) e Antonio Giovinazzi (Sauber).
O resultado completo do GP da Hungria e a atual situação dos Campeonatos Mundiais de Pilotos e Construtores você encontra clicando aqui.
WG