Recentemente vi um levantamento que diz que o brasileiro olha, em média, 30 vezes por dia o Facebook. Pessoalmente tenho dias em que olho várias vezes e outros nos quais estou tão braba com as besteiras que vejo que passo horas a fio sem ler nada — e ainda assim, quando checo, me arrependo. Enfim, tenho meus dias.
Tenho uma rede relativamente pequena de “amigos”, justamente porque só aceito aqueles que realmente conheço e não faço a menor questão de expandir meu pequeno grupo. Mas entre meus contatos estão muitos colegas de profissão — a maioria, aliás. Jornalista é um bicho curioso por natureza. A gente não resiste a ver notícias.
De uma forma geral, a maioria não espalha bobagens nem notícias falsas. No entanto, tem um grupinho (facção talvez defina melhor) que não se cansa de postar qualquer coisa que atenda a sua ideologia, ainda que não faça o menor sentido. Geralmente resisto à tentação de me meter e de apontar as incoerências e talvez em breve bloqueie alguns por puro cansaço. Começo a achar que meu tempo é muito precioso para que seja perdido nesse mar de feiquinius ou simplesmente mentiras.
Mas de vez em quando aparecem coisas engraçadas, daquele grupo que não posta coisas sem verificar. Especificamente esta foi publicada com a observação de que sua origem e fidedignidade é incerta. Eu já acho que é trolagem de alguém, mas não deixa de ser divertidinha mas, pior ainda, acredito que haja um fundo de verdade.
Foi um vídeo teria sido feito por alguém na linha “O Brasil que eu quero”, com aquela vinheta de algo se esfarelando — como o nosso país! Como tantos outros, tem uma reivindicação bem individualista. É uma mulher que, preocupada com os seguidos atropelamentos de cachorros na cidade onde mora, pede que sejam colocadas lombadas na ferrovia que cruza o povoado. Sim, caros leitores, vocês leram certo. Lombada em ferrovia! Fico imaginando uma lombada na linha férrea da foto de abertura…
Sem querer desrespeitar ninguém nem fazer pouco caso da falta de cultura de alguém, reservo-me (pow! a ênclise da semana) o direito de achar que tudo isto seja apenas uma brincadeira. Mas se no caso desta moça pode ter sido brincadeira ou mesmo ingenuidade, como sempre temos políticos que parecem brincar com a sociedade e nos fazer de idiotas.
Em março de 2016 o deputado paraibano Zé Paulo de Santa (PCdoB) propôs, sim, a colocação de lombadas eletrônicas em ferrovias de João Pessoa. Virou piada nas redes sociais, claro. Ele fez isso depois de um acidente entre um ônibus e um trem mas, caros leitores, vejam bem: ele propôs limitar a velocidade do trem — portanto, do veículo que tem prioridade. Não do ônibus. Do trem. Deu para entender?
O absurdo é quase interminável. “A solução é haver redutor de velocidade para trem. Não há para outros veículos? Por que não para outros veículos? Por que não em uma linha férrea?” E segue: “Para os carros existem as lombadas eletrônicas e quando não obedecem chega a multa na residência”. Leitores, não sei se rio do ridículo ou choro pelo mesmo motivo.
Infelizmente, é cada vez mais comum encontrar pessoas que acham que lombada é um elixir que resolve desde unha encravada até câncer. No trânsito, então, é um Deus ex machina — aquele personagem que aparecia dos céus nas tragédias gregas quando a história já havia se enroscado tanto que não havia mais como desfazer as confusões. O deus com sua máquina (nave), miraculosamente arrumava tudo como uma fada mágica. E assim seguia a peça.
Não tenho o hábito de acompanhar novelas de televisão, mas dos poucos capítulos que vi, vejo que fazem uso de artifícios desse tipo. Aliás, lembro de um recurso hilário usado num novelão americano chamado “Dinastia”, dos anos 1980. Os roteiristas estavam tão perdidos com a enorme quantidade de personagens que haviam sido colocados para tentar melhorar a audiência e aumentar as histórias paralelas que se esqueceram de alguns. E dá-lhe uma tonelada de pessoas que ninguém mais se lembrava quem eram nem onde tinham ido parar. Tanto que ressurgiram personagens que haviam morrido.
Bem, recurso bem Deus ex machina: inventaram um casamento na Moldávia. Imaginem, caros leitores, o que seria a Moldávia em 1985, pré-queda do muro de Berlim… Enfim. Lá vai todo o elenco para a Moldávia onde ocorre um massacre digno do Casamento Vermelho de Game of Thrones. Terroristas resolvem dar um golpe de estado no país e atiram em boa parte do elenco em plena igreja. Não me perguntem por que tantos personagens que não tinham nada a ver entre si iriam para a Moldávia nem de quem teria sido a ideia de descobrir um destino tão, digamos, turístico. Pronto. Deram tempo para os roteiristas arrumarem as histórias antes do começo da temporada seguinte — que, no entanto, continuou com muitos absurdos.
Pois é. Às vezes tenho vontade de organizar um casamento na Moldávia e enviar para lá certas pessoas, incluindo alguns políticos… Mas deixa pra lá. Sempre tento combater esses pensamentos sombrios que às vezes me acometem.
O problema com todos estes condicionamentos e com as soluções milagrosas é que não funcionam. Digo isto com tranquilidade, pois acredito que no Brasil estamos dirigindo cada vez pior devido a alguns condicionamentos. Se a velocidade máxima é 90 km/h, tem gente que anda a 70 km/h na pista da esquerda e acha que está certo apenas porque se acostumou a circular por essa pista. Aliás, tem gente que não dá passagem de jeito nenhum — e tem os que dão depois que você fica atrás durante quilômetros ou pede passagem e voltam para a esquerda apenas para que o próximo motorista tenha de fazer tudo isso de novo.
Se não há sinal ou se ele está quebrado, poucos motoristas sabem de quem é a preferência num cruzamento. Se não há radar, poucos motoristas sabem qual é a velocidade da via — embora como disse recentemente, acho que minha teoria está sendo bombardeada. Hoje ao ver um radar muitos motoristas freiam, independentemente de qual seja a velocidade máxima e de qual seja a velocidade em que estão trafegando. Parece que as normas de trânsito precisam ser marteladas a cada quarteirão sob pena de multa, se não, as pessoas nem sabem o que são.
Lembro quando foi publicado o Código de Trânsito Brasileiro. Vi na televisão uma motorista parada e multada por um policial rodoviário por trafegar pela esquerda — quando não tinha ninguém mais nas outras duas faixas. Ela argumentou que não sabia “dessa nova lei” e ainda reclamou que o “novo” código “deveria ter sido melhor divulgado”. Hã?
Recentemente vi num noticiário uma longa reportagem sobre a falta de sinalização nas estradas. Até aí, parece-me pertinente a pauta. Só que não. O repórter reclamava que num trecho da Rodovia Dutra não havia nenhuma nova placa com a velocidade máxima em, sei lá, coisa de 3 quilômetros desde a última que indicava isso. Ora, no caminho em questão não havia nenhuma estrada, não havia como “entrar” na rodovia de lugar nenhum (sequer um posto de gasolina havia e, de fato, a pista estava segregada) nem havia alteração da velocidade. Para que então colocar nova placa? Novamente, é como se o motorista não soubesse qual é a velocidade máxima da via se não for lembrado a cada 500 metros.
Este ano dirigi muito na Finlândia, como já comentei. Lá se não há uma entrada na rodovia, babau, nada de nova placa mesmo que a anterior esteja a 20 quilômetros. Notei o mesmo na Turquia e no Azerbaijão — portanto, um mix de países de diversos graus de desenvolvimento econômico e social e mesmo de culturas totalmente diferentes entre si. Vale o bom senso. Se nada muda, nada muda. Mas no Brasil fazemos tudo da forma mais complicada. E, ainda, quanto a colocar lombada em ferrovia: com o certo aumento dos tombamentos que decorrerão disso talvez até o número de morte de bichos aumente. O de seres humanos feridos, certamente. Isso sem falar no atentado ao bom senso, irremediavelmente atingido de morte.
Mudando de assunto: Pena que este ano não temos nenhum brasileiro na Fórmula 1, mas vários se destacam em outras categorias. Daria para escrever um tratado sobre o assunto, mas não vou fazer isso. Apenas registro que sempre me chama a atenção a quantidade de finlandeses que há em todas as categorias automobilísticas. Na Fórmula 1 e especialmente nos ralis — nomes como Vatanen, Mikkola, Salonen, Kankkunen, Hakkinen, Makinen, Gronholm, Räikkönen, Rosberg são de campeões. E nem menciono participantes ilustres, com boas pontuações como Bottas, Salo, Kovalainen ou Latvala e Hirvonen. Na GP3 neste momento, de um total de 24 pilotos, 2 são finlandeses (Kari e Laksonnen). Isso para um país de apenas 5,5 milhões de habitantes.
NG