Não, prometo que não vou fazer lista de final de ano. Nem pedidos para o Papai Noel. Mas, recentemente, ao responder aos leitores Guh e Rene Rodrigues mencionei que quando assistia ao seriado Miami Vice o fazia por motivos que pouco tinham a ver com o objetivo do programa: a fotografia quase totalmente em tons pastel, as músicas (muitas vezes com cantoras convidadas que faziam alguma ponta como atrizes) e o lindo Ferrari Testarossa branco do personagem do Don Johnson (ao lado). E não é que acabei fazendo quase uma listinha de carros de seriados que me marcaram?. Mas não é lista de “Os 10 melhores carros de seriados” – embora pareça. Só porque estou aqui escrevendo que não é, é que não é, tá? Também não chegarei a 10 veículos. E não vou falar nos carros de filmes nem nos veículos sob medida ou “inventados”, tipo Batmóvel.
O seriado Miami Vice marcou época com cinco temporadas nos anos 1980 especialmente por alguns dos motivos que me atraíam, mas é claro que visto atualmente tinha falhas horrorosas. OK, que Miami era menor do que é atualmente, mas quanto tempo um policial poderia permanecer infiltrado entre traficantes? Certamente não todos os anos do personagem. Mas, deixa para lá. Divertia-me com o cuidado que ele tinha com o carro, que havia sido “negociado” com a polícia para justamente compor o perfil de traficante bem-sucedido, já que um policial não poderia ter um carro desses. O personagem Sonny Crockett/Burnett (policial/traficante) sofria horrores quando tinha que colocar em risco seu possante ao perseguir alguém pelas ruas de Miami.
Mas nos primeiros anos, Crockett dirigiu o que seria um Ferrari Daytona Spyder que, na realidade, era uma réplica construída em cima de um Corvette, pois não conseguiram o merchandising da Ferrari, apesar de muita insistência. Confesso que pouco me lembro do carro, exceto que ele era preto e não tinha tanta relevância no seriado quanto o Testarossa 1986 0151 que acabou no colo dos produtores do seriado por exigência do fabricante, que não queria mais propaganda gratuita para réplicas de modelos seus. Mas lembro-me muito bem da saída de cena dramática do Daytona. Crockett estava negociando drogas e armas e ao se mostrar cético quanto ao alcance de uns mísseis que lhe eram oferecidos o vendedor não teve dúvidas: apontou o lança-mísseis na direção do Daytona e atirou. Bem, se a Ferrari queria deixar claro que não admitia cópias de seus carros, o recado foi dado bem claramente, não? Nada de propaganda subliminar, não. Petardo, mesmo. Em pouco tempo, o personagem foi agraciado com um Ferrari legítimo, o famoso Testarossa.
O primeiro modelo de Testarossa era na verdade preto e os motivos para ter sido pintado de branco após um par de capítulos não está claro — talvez porque não ficava plasticamente tão bem nas cenas noturnas. Não duvido, pois a preocupação do seriado com a estética ultrapassava qualquer coisa. Foi a leilão alguns anos atrás e foi o carro mais famoso do seriado (foto de abertura).
Magnum também era outro seriado no qual o carro era quase um personagem. O detetive particular que se muda para o Havaí andava pela ilha com um Ferrari 308 GTB/GTS com motor V-8 – vermelho, é claro. Lembro tão bem do carro quanto das camisas que o personagem Thomas Magnum, interpretado por Tom Selleck, usava — aquelas floridíssimas, chavão de turista no Havaí. Às vezes acho que tinha mais cenas externas para mostrar as belezas do Havaí e do carro do que seria realmente necessário, mas em ambos casos não tenho nenhuma reclamação. Justifico os dois
O Pontiac Trans Am do seriado A Super Máquina era, é claro, o personagem principal do seriado, como pode-se deduzir pelo nome do programa, né?. Não estava entre os meus favoritos nem entre os que eu assistia com frequência, mas não sei exatamente por quê. Talvez uma questão de horário, sei lá. Lembro bem de K.I.T.T. (Knight Industries Two Thousand), o carro com computador de bordo que falava (e como falava, affe!), dirigido pelo policial disfarçado Michael Knight, interpretado por David Hasselhoff. E, claro, o carro em si era indestrutível. Não havia bala que o perfurasse. KITT era um personagem em si, pois era um veículo com inteligência artificial que agia por conta própria e era, virtualmente, o parceiro do personagem Michael Knight
Pessoalmente, gosto do charme do Chevrolet Impala 1967 do seriado Supernatural, iniciado em 2005. Embora tenha desistido de ver lá pela terceira temporada, gostava do visual sombrio dos filmes e, claro, o carro combinava perfeitamente com fantasmas, diabos e forças do além. Os irmãos Sam (Jared Padalecki) e Dean Winchester (Jensen Ackles) herdam o veículo do pai e saem pelo mundo caçando forças do Mal com armas tão sombrias quanto o veículo que, por sinal, ficam no porta-malas.
Vem-me à mente (esta ênclise ficou esquisita até para meus padrões de ênclise…) o Ford Gran Torino do seriado Starsky & Hutch, dos anos 1970, que também ganhou um subtítulo besta, como quase sempre nos filmes e seriados no Brasil e virou Starsky & Hutch, justiça em dobro. Lembro um pouco do carro, mas não do seriado, pois minha mãe não me deixava assistir. Dizia que era muito violento. Anos depois, disse que pensando melhor nem era tanto assim, mas na época me achava muito pequena para ver cenas assim e, bem, como a televisão em casa era limitada em tempo e horário, precisei arrumar outras diversões para o horário desse seriado. Provavelmente um livro, pois se não me falha a memória passava no começo da noite na Argentina, então provavelmente já não brincava mais na rua. Não faz muito tempo assisti o filme mas não curti — mas me disseram que não tem o espírito do seriado. Enfim… voltando ao carro, lembro dele, sim, pois afinal assistia às propagandas e desde pequena gosto de carros. Nem sempre curto carro bicolor, mas a pintura deste Gran Torino ficou marcada e se o objetivo era dar destaque ao veículo, certamente o conseguiram. E, claro, era um belo modelo, sem dúvida.
Por falar em carro bicolor, tem o Dodge Charger R/T, mais conhecido como General Lee, do seriado Os Gatões (ou Os Dukes de Hazzard). Achava o seriado uma babaquice e pouco via, mas o carro era um barato, com seus grafismos malucos e a cor laranja inconfundível. Fora o fato de ter nome próprio, a bandeira dos confederados no teto, as portas que não abriam – enfim, todo um “combo” para a bobagenzinha que era o seriado.
Um seriado que não fez lá muito sucesso e durou apenas um ano, e do qual quase que só me lembro do carro era Stingray que no Brasil também ganhou um subtítulo bem ridículo e desnecessário. Virou Stingray, contrato de risco. Era de meados dos anos 1980 sobre um ex-agente secreto — ou algo assim, havia bastante mistério em torno do personagem — que dirigia justamente um charmosíssimo e totalmente vintage Corvette Stingray. O personagem principal, Ray, era interpretado por Nick Mancuso. Ele nunca aceitava receber pagamento pelos serviços prestados, mas pedia em troca que quando fosse necessário um favor fosse retribuído. E assim retroalimentava sua gigantesca rede de contatos (foto 7).
Relendo tudo o que escrevi, percebi que não há carros marcantes de seriados novos, apesar de hoje eu assistir muito mais televisão do que quando era pequena ou mesmo adolescente. Por mais que tente, não consigo lembrar de modelos por nenhum motivo. Triste, não? As pessoas ainda não se teletransportam de um lugar ao outro, de onde deduzo que mesmo na telinha continuam usando “viaturas”, mas por que não tem mais papel minimamente relevante? Ou será que minha memória está falhando?
Mudando de assunto: caríssimos leitores de todas as religiões e crenças (ou falta de): desejo-lhes um muito Feliz Natal, com muitas felicidades e algo que acredito que muitas vezes conseguimos nesta época, família reunida. É sempre bom, mesmo que seja apenas uma vez ao ano em alguns casos.
NG
Foto de abertura: 6speedonline.com
Foto de Dan Johnson: elnuevoherald.com