Fazer o que se gosta chega a ser um privilégio. Digo isto porque somos obrigados a fazer tanta coisa da qual não gostamos que quando conseguimos executar algo que nos é prazeroso pessoalmente fico muito feliz.
Como sempre digo, sou daquele tipo de pessoa que não questiona se gosta ou não de arrumar a cama todos os dias. Se eu não o fizer, ninguém o faz e aí a casa fica com aspecto de bagunçada — algo que abomino. Então, para que perder tempo me perguntando isso? Vou ter que fazer mesmo, então, para que sofrer com isso? Mais ou menos como horário de verão. Nem sei direito se gosto ou não, mas como minha opinião não muda absolutamente nada e ele vai ocorrer de qualquer forma, não gasto muito tempo com isso. Ou seja, não vou além de uma conversa com amigos sobre perder ou ganhar uma hora de sono no dia seguinte – tudo isto enquanto tomamos aperitivo. Nada que me leve a terminar uma amizade ou discutir mais ferozmente, se é que vocês me entendem. O mesmo com arrumar a cama, fazer supermercado, etc., etc., etc. É fazer e pronto. Sem drama nem mimimi que na vida já tem muito disso.
Não deixo de comprar outras brigas, como bem sabem todos os que me conhecem. Mas que valham a pena. Se não, não passo de uns minutos de conversa que, assumo, serão tempo jogado fora sem nenhuma contrapartida, sequer intelectual.
Dito isto, considero-me (ênclise pobrinha, porém ênclise) muito feliz porque escrevo neste espaço semanalmente há pouco mais de 3 anos. Dedico bastante tempo a esta tarefa, pois acredito que meus leitores merecem respeito, informações corretas e assuntos interessantes. Três anos é pouco perto dos 10 anos que o Autoentusiastas acabou de comemorar, mas sinto-me muito honrada de fazer parte desta excelente equipe.
Participar do encontro do dia 1º de dezembro foi, é claro, uma experiência fantástica. Escrever é uma atividade muito solitária e a única interação que temos com os leitores são os comentários que recebemos — ou reuniões como esta. Como pessoa extremamente sociável que sou, apesar de tímida (hehehe, não colou, né?) adoro estar ao vivo com meus leitores. Enquanto isso não acontece, aceito comentários e sugestões.
Conversar com os leitores e juntar um rosto a um nome que já me era familiar é muito gratificante. Muitas vezes já tínhamos formado mentalmente um perfil ou mesmo sabemos de cor e salteado algumas histórias deles. Por isso foi tão legal conhecer os gaúchos Rafael e a adorável Simone, que moram em Indaiatuba, e conversar com eles. E saber que lembram de coisas que contei neste espaço é também muito gratificante.
Ou o belorizontino Hudson, que encontrei ao lado do food truck dos sorvetes. Conversamos longamente e, embora ele não comente muito minhas colunas, ficou evidente que as lê sempre. Ele lembrava de coisas que eu havia escrito que somente depois de ele mencionar é que me vieram à mente.
Acompanhei Randerson e a esposa para coletar a assinatura de outros editores e colunistas no pôster do AE — eles vieram dirigindo desde Brasília! Verdadeiros autoentusiastas. Também destaco que foi muito legal ver tantas mulheres e crianças — sempre digo que autoentusiasmo começa desde criança e acho ótimo casais que têm interesses em comum. Companheirismo e interesses em comum são fundamentais em qualquer relacionamento — mesmo que às vezes não entendamos exatamente o que o outro vê, acompanhar e tentar compreender pode nos abrir novas perspectivas. Vai que passamos a ter um novo interesse?
Conversei bastante com o Telmo Ryoiti, que pegou autógrafo de (creio que) todos os editores e colunistas do AE nos postais do evento. Grande ideia! E, claro, o sempre presente RoadV8Runner, de Sorocaba, com quem bati um longo papo também.
Essas foram algumas das minhas alegrias como jornalista e escrevinhadora, mas não posso deixar de falar sobre outras, de autoentusiasta. Entrar no Avallone foi uma emoção única. Confesso que não cheguei nem perto dos pedais pois, como digo sempre, sou algo prejudicada verticalmente, mas a sensação foi indescritível assim mesmo. Pedi desculpas ao Miguel Beux, que fez um belíssimo trabalho de reconstrução do carro. pois acredito ter babado no volante do carro dele — mas acho que apesar do xodó que ele tem pelo possante, dadas as circunstâncias ele me perdoou. Belíssima surpresa conseguida pelo meu “primo” Wagner Gonzalez. Aliás, como fã que sou, além de um monte de fotos é claro que gravei o som do motor quando deram partida. O fato de ser jornalista profissional não me faz menos sem noção nessas horas… Mas pelo menos tentei não cortar a frente de ninguém com meu celular no alto. Se fiz isso, desculpem. Como disse, tenho um lado fã que nem sempre se comporta discretamente.
Revisitar o museu do Box 54 é sempre motivo de felicidade. Belíssima garagem de carros clássicos e museu de carros antigos perto de São Paulo, no município de Araçariguama. Tem um Jaguar que não canso de olhar toda vez que vou lá. Mas o caminhãozinho de entregas tem também um lugar garantido no meu coração. Sei lá por quê, mas sempre me emociono quando o vejo.
Aproveitei também para passear entre os carros dos nossos leitores e seguidores para constatar que há muito autoentusiasmo por aí. Carros belíssimos, superconservados, espelho dos donos. E isso não tem nada a ver com valor nem idade — se fosse assim, talvez meu marido não estivesse comigo até hoje, né? Hehehehe. Falo de paixão mesmo — algo que não tem preço nem prazo de validade.
Foi muito legal também curtir as motos da Royal Enfield. Já comentei neste espaço que tanto meu pai quanto minha mãe tiveram moto durante vários anos. Minha mãe tinha uma Lambretta que ganhou aos 16 anos, mas quando tirou CNH (tinha as duas, a de carro e a de moto) dirigia também a Norton 500 com sidecar do meu avô. Meu pai tinha uma Royal Enfield e certamente esse é o motivo de eu ter tanto carinho por essas marcas.
Nestes 3 anos de coluna “Visão Feminina” tive o enorme privilégio de escrever sobre muitos assuntos e gosto especialmente quando os leitores sugerem pautas — algo que aproveitei para dizer a vários deles durante o encontro. Quando o Bob Sharp me convidou para que me juntasse à equipe, duvidei se teria assunto semanal — até hoje, nunca faltou tema. Muito pelo contrário, tanto que inventei o “Mudando de assunto” para poder falar de uma segunda coisa ainda que mais brevemente.
Mudando de assunto: esta é totalmente fora da caixinha, mas entendedores entenderão. A Zippo conseguiu registrar como marca o som do seu isqueiro ao acender assim como o barulhinho da tampa metálica quando se abre o isqueiro. Algo dificílimo de se obter — tanto que apenas o rugido do leão da Metro e mais algumas coisas têm marca registrada de som. Meu pai tinha um isqueiro Zippo que até hoje acho um clássico de design e de eficiência, e sou perfeitamente capaz de identificar o som do fluido quando sai, assim como o da tampinha metálica. Adorei que esse registro fique para sempre. Totalmente outro assunto, mas sou um sorvedouro de conhecimentos de todo tipsempre gosto de dividi-los.
NG
A coluna “Visão feminina” é de exclusiva responsabilidade de sua autora.
Fotos: Ricardo Gonzalez