Quase um ano atrás o AE publicou na seção “Carros dos Leitores” a minha história com a linha Opala/Caravan: “Opala em três atos”. Naturalmente, como o Opala é um carro muito querido em nosso país, muito leitores se identificaram com a história e houve uma expressiva quantidade de comentários e interações a respeito daquele texto. Em uma das interações, o “Fat Jack”, leitor muito participativo do AE, comentou profeticamente: “Parabéns pela linda história, pelo belo Opala e pela belíssima família! (E aí? Alguma chance de voltar à “família Opala”??)”. Respondi, ao “Fat Jack”, que em meus projetos futuros a linha Opala/Caravan tinha prioridade, e embora isso fosse verdade eu não esperava que o “futuro” chegaria tão rápido e que após apenas alguns meses daquela conversa eu teria a oportunidade de ter uma Opala Caravan.
Na verdade, a presente história do Opala Caravan está intrinsecamente associada a outro projeto de natureza profissional. Esse projeto refere-se ao desenvolvimento da Assessoria Esportiva em preparação física para pilotos de automobilismo, o qual eu vinha trabalhando já há alguns anos e que hoje é uma realidade: Conte Fit – Motorsports Training (www.contefit.com.br).
Nesse sentido, após conhecer em julho de 2018 a “Pit Fit Training”, um centro especializado na preparação física de pilotos de automobilismo, onde treinam, por exemplo, Tony Kanaan, Pietro Fittipaldi, Alexander Rossi entre outros expoentes das corridas norte-americanas, em Indianápolis nos Estados Unidos da América (EUA), coloquei como meta que naquele mesmo ano eu iria definitivamente trabalhar com o automobilismo, que sem dúvida é uma das minhas paixões
Nesse sentido, eu trouxe dos EUA alguns equipamentos muito interessantes, visando o treinamento específico para o automobilismo. Estudei metodologias de treinamento aplicadas a melhorar a capacidade física, neurocognitiva e neurossensorial de pilotos de corrida e montei uma sala de treinamento bem interessante, a poucos metros do Autódromo Municipal José Carlos Pace.
Um dos lemas da Conte Fit é “estamos sempre perto de você”, ou seja, além de atender em nossa base em Interlagos, também fazemos atendimentos em outros locais convenientes ao piloto, bem como em Jundiaí, cidade onde resido, por isso eu precisava adquirir um veículo com uma capacidade razoável para transportar alguns equipamentos com segurança quando fosse necessário.
Esse veículo poderia ser uma picape leve, como uma Strada ou Saveiro equipadas com capota em compósito de fibra de vidro ou ainda um Fiat Doblò Cargo, entre outros modelos de carros espaçosos. Contudo, das opções disponíveis para essa finalidade, a minha escolha foi a menos racional e a mais passional: esse carro teria que ser uma Opala Caravan! O enorme porta-malas com capacidade de 774 litros e a ampla porta traseira configuravam as medidas exatas para os equipamentos que eu transportaria. E talvez o mais importante, essa era a chance (ou seria pretexto?) ideal para eu voltar a ter um carro da linha Opala/Caravan e resgatar toda a história que tive ao longo da minha vida com os modelos da marca da gravatinha borboleta..
Com a ajuda dos amigos Eduardo Lisboa e Samuel Romeira, apaixonados por Opala e Caravan, os meses de agosto e setembro de 2018 foram à procura por um exemplar que atendesse as minhas expectativas. Não precisava ser um carro padrão placa preta, contudo deveria ser confiável para enfrentar a Rodovia dos Bandeirantes pelo menos uma ou duas vezes por semana. A preferência era pelo motor 151 e por modelos fabricados até 1980. A primeira razão, devido ao consumo de combustível e a segunda, por motivos emocionais, pois como descrito na história “Opala em três atos”, entre os anos de 1976 e 1980 meu pai possuiu quatro Caravans (a primeira ano 1976 amarelo Primavera, na sequência uma 1977 marrom Monterrey, depois uma Comodoro marrom Araucária ano 1979, e finalmente a Comodoro 1980 dourado Palha). Sem dúvida, a convivência na infância esses modelos da GMB desenvolveu em mim um vínculo afetivo muito grande com a Opala Caravan.
Após ver algumas peruas Caravan durante semanas de procura, encontrei na internet aquela que eu considerei ser a melhor oportunidade, ou seja, o preço estava dentro do meu orçamento e ainda atendia as minhas preferências: ano 1979, motor 151 a gasolina e cor dourado Parati. Era um modelo básico, versão denominada oficialmente na época do seu lançamento em 1979, apenas como Opala Caravan, denominação que veio substituir Opala Caravan Especial utilizado no ano anterior.
A Opala Caravan 1979 dourada estava anunciada em uma página de venda de automóveis do Facebook e, coincidentemente, era de um rapaz, que embora eu não o conhecesse pessoalmente, fazia parte do meu grupo de amigos da respectiva rede social. Definitivamente, como a própria descrição do anúncio ressaltava, não era um automóvel para exposição ou placa preta, havia muitas imperfeições, começando pela tonalidade da cor que não correspondia de fato ao dourado Parati. Podia-se observar que a Opala Caravan 1979 havia sido pintada recentemente, no entanto a pintura ainda original, presente por dentro do capô, cofre do motor e batentes de porta, denunciavam um evidente equívoco no momento em que houve a preparação da tinta para repintura. Por outro lado, percebia-se alguns problemas na própria textura da pintura. Também havia corrosão em alguns pontos internos específicos, sendo o mais critico no para-lama dianteiro direito, além de alguns detalhes da ação do tempo nos frisos dos vidros e aros das lanternas dianteiras e traseiras.
Porém, ao um olhar menos antigomobilista e mais realista a aparência da funilaria e pintura até que estavam bem razoáveis para um automóvel que foi utilizado ao longo de 40 anos. Internamente, a tapeçaria estava em ótimas condições, a forração interna e os bancos haviam sido restaurados recentemente e embora o revestimento não fosse mais igual ao original, eram bem agradáveis, sendo que o cotelê havia sido substituído pelo courvim. Ainda internamente, o volante, o painel e o quadro de instrumentos originais estavam em boas condições. Todos os vidros, exceto o do lado motorista, ainda eram originais com emblema da GM.
Porém o mais importante naquele momento era a parte mecânica, a qual por sinal estava em condições muito boas. O motor quatro-cilindros havia sido retificado recentemente. Os freios e suspensão estavam em ótimas condições e os pneus realmente novos, sendo os dianteiros 195/70R14 e os traseiros, da marca Hankook, impressionavam com a medida 235/60R14 e deixavam a Caravan com uma aparência muito interessante. Percebi que havia uma barra estabilizadora na suspensão traseira, item relativamente raro de encontrar no modelo básico.
O câmbio originalmente de 3 marchas com alavanca na coluna foi substituído por um “moderno” de 4 marchas (ano 1987) com alavanca no assoalho, com engates suaves e precisos. O freio de estacionamento foi mantido na posição original ao lado direito do volante sob o painel, possibilitando a instalação de um console bem útil entre os bancos, que originalmente era inteiriço e foi substituído por bancos individuais do Opala do mesmo ano.
Enfim, essas eram as condições do Opala Caravan 1979 na ocasião da compra em outubro de 2018. No momento da compra o vendedor, sempre sincero, descreveu tudo que havia já feito no carro, bem como algumas pendências que deveriam ser corrigidas para o carro se tornar confiável. E de fato foi necessário, imediatamente, um belo serviço na parte elétrica que estava em condições precárias. Aproveitei para substituir o platinado pela ignição eletrônica. Além disso, realizei a substituição da caixa de direção e do servo-freio, além de uma revisão geral.
E assim a Opala Caravan estava pronta para novos desafios, não como um carro de exposição ou para os ralis de regularidade do Jan Balder, mas com certeza para enfrentar as tarefas do dia a dia com relativa eficiência e segurança.
Segundo o teste do Opala Caravan 1979 realizado pela revista Quatro Rodas (edição 229 – março/1979) esse modelo apresentava como grande novidade o aumento da capacidade do tanque de combustível de 54 para 65 litros, melhorando a autonomia. Relatavam também que o consumo médio segundo o sistema da revista foi 9,2 km/l. E o desempenho com aceleração de 0 a 100 km/h em 18,7 segundos e velocidade máxima de 143,8 km/h. A potência máxima, do motor de 2.474 cm3 é 90 cv (SAE bruta)) a 4.500 rpm e torque máximo de 18,1 m·kgf já disponível a 2.800 rpm. Ao final, a conclusão do teste foi que o Opala Caravan continuava com uma boa aceitação no mercado de peruas devido à grande capacidade de carga; além disso, o revestimento interno do modelo 1979 era melhor do que os anteriores, sendo o desempenho e consumo coerentes com a categoria do carro.
No entanto, a experiência Opala Caravan está além dos números, representa para mim a lembrança do meu pai e de várias boas recordações. Nos últimos meses a Opala Caravan 1979 tem se mostrado uma excelente companhia de estrada, o trajeto de ida e volta de Jundiaí até Interlagos me leva a uma jornada muito além dos 73 quilômetros que separam os dois respectivos pontos. A ausência de ar-condicionado, direção assistida e outras facilidades eletrônicas me permitem sentir o passado sem filtros. O cheiro do interior e o som do motor trazem lembranças inacessíveis por outros meios. Uma verdadeira cápsula do tempo.
Destaca-se, que no uso quase que diário, a “Caravan Conte Fit” — foi assim que batizei o Opala Caravan 1979 dourado Parati — tem se mostrado valente. Enfrentando sem problemas, os congestionamentos na marginal do Rio Pinheiros sob alta temperatura e/ou as fortes tempestades típicas de verão que tem assolado a cidade de São Paulo. Na estrada uma grata surpresa em relação ao consumo, chegando a marcas de um pouco mais de 11 km/l em velocidade constante, em torno de 100 km/h. Muito superior aos testes da época.
A Opala Caravan também se mostrou um carro extremamente simpático. Minha filha, por exemplo, se apaixonou a primeira vista pela elegante perua, a qual imediatamente se tornou o carro preferido dela. E assim como eu, nos passeios com meu pai nos anos 1970, ela também se diverte no amplo porta-malas da Opala Caravan com seus brinquedos embalada pela simplicidade que tanto nos faz falta nos dias de hoje.
Assim como todo carro antigo (ou velho), a Opala Caravan 1979 vem me proporcionando momentos únicos e inimagináveis, como, por exemplo, a honra de levar o Wagner Gonzalez, nada menos do que um dos melhores jornalistas do mundo quando o assunto é automobilismo e que também faz parte do Dream Team AE, para uma volta no Autódromo de Interlagos durante o desfile de abertura da temporada 2019 da Old Stock Race. Sem dúvida, foi um grande momento AE e inesquecível para mim e melhor ainda porque foi a bordo do Opala Caravan!
Marcelo Conte
Jundiaí – SP