Semana passada alguns leitores como Wendel Cerutti e Alan PR levantaram a questão do uso do pisca-alerta como habeas corpus preventivo para estacionar em lugar proibido. Pois é. Tem gente que acha que apenas por sinalizar já tem direito a qualquer coisa. Canso de ver pessoas que dão seta ao mesmo tempo em que esterçam o volante e mudam de faixa. É como se fosse uma manobra só — talvez para aproveitar a “viagem” da mão esquerda, pois aí é só a direita acompanhar. Metade do trabalho já estava feito, não? Sei lá. Minha teoria é uma teoria como outra qualquer, mas não me ocorre nada melhor a não ser que a pessoa atrás do volante é apenas ignorante das leis de trânsito e pouco se preocupa com o direito e a segurança dos outros.
Ora, como já dissemos aqui, dar seta é sinalizar a intenção de mudar de faixa ou de fazer uma conversão, mas não é uma autorização para isso. Tanto é que o correto é primeiro olhar, depois dar seta, olhar novamente e só então, se possível, mudar de faixa. Isso deveria ser especialmente utilizado quando se passa de uma faixa mais lenta para uma mais rápida. Mas não, tem gente que dá seta e vai para a pista da esquerda, obrigando os outros a frearem para dar lugar ao recém-chegado que, geralmente, não tem todo o espaço necessário para se acomodar na fila de carros. E ai de quem ousa reclamar! Normalmente a réplica é: “mas eu dei seta!”. Affe!
O mesmo acontece com o pisca-alerta. Parar em fila dupla: tudo bem, se você ligar o pisca-alerta. Hã? Não, não está tudo bem. Você não deve parar em fila dupla, nem com nem sem pisca-alerta. Nem em vaga exclusiva de cadeirante ou idoso. Nem com nem sem pisca-alerta. Luzinhas faiscando não são autorização para driblar legislação nem tem o dom de fazer com que o veículo em fila dupla paire acima da rua e assim não atrapalhe o trânsito. Parece difícil, mas não é: pisca-alerta não é cartão de estacionamento.
Agora que as águas de março levaram o verão diminuiu um pouco, mas outro péssimo hábito do brasileiro é ligar o pisca-alerta quando chove. Ora, pisca-alerta não é Santa Clara que teria o dom de afastar a chuva. Ele apenas serve para sinalizar que o veículo está parado – logo, se você está andando, não use o pisca alerta pois além de confundir estará cometendo uma infração.
Como já disse alguma vez neste espaço, quando vim morar no Brasil cheguei a pensar que os veículos aqui tinham um dispositivo específico, autóctone, que ao acionar o limpador de para-brisas ligava simultaneamente o pisca-alerta, tal a quantidade de gente que faz isso. Basta caírem alguns pingos d’água para que comece o festival de luzinhas de Natal, piscando incessantemente.
Mas por mais que tenha fuçado, em nenhum dos meus carros encontrei essa ligação entre esses dois apetrechos. Nem um cabo, nadinha. Em nenhum deles ao ligar o limpador ligava o pisca-alerta. Sempre foram operações separadas. Será que era só nos meus carros? (modo irônico ativado e pergunta retórica, mas caso alguém já tenha passado por isso, mensagens para esta redação).
No Código de Trânsito Brasileiro está relativamente claro quando deve-se usar o pisca-alerta. Digo “relativamente” pois tudo admite discussão jurídica por estas paragens. Então, vamos lá. Vejamos o que diz o CTB
Art. 40. O uso de luzes em veículo obedecerá às seguintes determinações:
V – O condutor utilizará o pisca-alerta nas seguintes situações:
- a) em imobilizações ou situações de emergência;
- b) quando a regulamentação da via assim o determinar.
O Capítulo XV do CTB relativo às infrações especifica os casos em que pode haver multa e penalidade em caso de mau uso de pisca-alerta e/ou seta. No Artigo 215 está determinado que:
Utilizar as luzes do veículo:
I – o pisca-alerta, exceto em imobilizações ou situações de emergência;
II – baixa e alta de forma intermitente, exceto nas seguintes situações:
a) a curtos intervalos, quando for conveniente advertir a outro condutor que se tem o propósito de ultrapassá-lo;
b) em imobilizações ou situação de emergência, como advertência, utilizando pisca-alerta;
c) quando a sinalização de regulamentação da via determinar o uso do pisca-alerta:
Infração – média;
Penalidade – multa
Não sou contra o uso do pisca-alerta. Pelo contrário. Mas, como tudo, tem vez e hora. E não necessariamente para indicar que se está parado. No exterior já o usei para agradecer alguém que tenha me dado passagem com uma rapidíssima ligada, quase um flash. Nada de circular com as luzinhas piscando. Notei que esse comportamento é especialmente comum na África do Sul e na Nova Zelândia.
Na Argentina acho que é onde o pisca-alerta é mais usado — pelo menos na minha experiência de dirigir e principalmente de observar o trânsito. Todo mundo liga o pisca-alerta para indicar que vai parar. Faz-se isso com o carro em movimento alguns segundos antes da imobilização e depois, se for o caso, aciona-se a seta. Pode ser ao ver uma vaga na rua, quando se vai entrar numa garagem a 90 graus da via por onde se está transitando ou quando se vai encostar em fila dupla (sim, é muito comum por aquelas paragens). Pessoalmente, gosto disso. Acho prático, pois apenas pisar no freio não dá a quem vem atrás a noção exata da manobra que vai se fazer.
No caso do país vizinho, é muitíssimo mais difícil alguém ficar parado atrás de quem parado em fila dupla ou que está esperando abrir um portão de garagem para entrar pois já foi avisado que o carro pararia. Obviamente, não dá para adivinhar qual tipo de manobra será feita, mas é um alerta. Tipo: cuidado, vou parar totalmente o veículo. O mesmo acontece na estrada quando o trânsito para subitamente ou quando há um obstáculo na pista. Aqui algumas pessoas no Brasil fazem isso. Lá deve ser 99%. Gosto especialmente nas estradas, pois com a mania que muitos motoristas tupiniquins tem de frear sem absolutamente nenhum motivo nunca se sabe se a criatura vai diminuir a velocidade ou parar completamente.
Sei que em Brasília é muitos motoristas acionam o pisca-alerta logo antes de uma faixa de pedestres para avisar a quem vem atrás que o carro diminuirá muito a velocidade e talvez até mesmo pare completamente. Nesse caso acho estranho, pois faixa deveria ter sempre sinalização vertical também e quem vem atrás também saberia que há uma faixa, mas… sei lá. Acho que é um exagero esse hábito candango.
Também não entendo esse pessoal que está estacionado (em local permitido ou não) com o pisca-alerta ligado e sai andando com o pisca-alerta ligado. Tem gente que segue quilômetros a fio. Normalmente, o “ploc-ploc” que faz a seta ou mesmo o pisca-alerta deveriam ser suficientes para o motorista se tocar. Ou a luzinha piscando no painel. Ou o reflexo no carro da frente, mesmo que seja de dia. Ou a luz piscando nos espelhos laterais. Mas não. Parece que tem gente que dirige olhando apenas para não sei bem aonde. Várias vezes avisei outros motoristas disso, mas poucos entenderam. Quando a chuva é forte, então, nem tem como, pois se abrir meu vidro vou me molhar e tudo dentro do carro. E aí a criatura segue no trio elétrico, piscando que só ele…
Mudando de assunto: sempre disse que o mês de maio para mim era motivo de felicidade pelo meu aniversário e tristeza por diversos fatos ocorridos com pilotos de Fórmula 1. A morte de Niki Lauda segunda-feira só reforça minha teoria. Além das mortes de Villeneuve e Senna teve o horripilante acidente de Piquet na Indy. Agora um dos melhores pilotos de todos os tempos se foi. Gostava muitíssimo da precisão dele, da velocidade e de três características que adoro em vários pilotos: não estava nem aí para o marquetingue exagerado, era um incrível acertador de carros e era um apaixonado pelo que fazia. Obsessivo, provavelmente. Um nome que fará muita falta no automobilismo mundial. Fica aqui uma foto da qual gosto muito pela irreverência misturada com respeito de dois grandes pilotos, Lauda e Piquet.
NG