Adoro dirigir. Sempre. Em qualquer circunstância. Motorista ruim a minha frente incomoda? Claro, mas mesmo assim, gosto de dirigir. Trânsito engarrafado incomoda? Novamente, sim e novamente mesmo assim gosto de dirigir. Tomar uma fechada no trânsito incomoda, sim, mas ainda assim gosto de dirigir — claro que preferiria que não ocorressem essas, vá lá, intercorrências, mas digamos que o ato de dirigir é algo que me apraz muito, ainda que as circunstâncias não sejam as melhores.
Mas algo que me perturba sobremaneira são faróis altos ou desregulados. Já falei algumas vezes sobre esse tema aqui e percebi que é comum a muitos dos meus leitores também. Luzes de procedência duvidosa (sim, as famosas xing-ling) são outra tortura. Lembro-me da música eternizada por Elis Regina, “Falso brilhante”. Pois é, chamo esses horripilantes faróis de “Falso xenônio”.
Justamente por gostar de dirigir é que curto especialmente fazê-lo à noite, quando há menos trânsito, menos congestionamentos. Estrada boa à noite é uma delícia. Só aquele caminho à frente, música boa tocando dentro do carro… e aí aparece um indigitado com o maldito farol desregulado, apontando para Júpiter ou sei lá o quê, com aquele tom branco óptico (“Omo lava mais branco”) e acabou-se o que era doce.
Mas como naqueles anúncios “ligue djá”, tem uma mágica solução. Na minha visita anual ao oftalmologista do ano passado ouvi que meu constante incômodo ao dirigir à noite com luzes desreguladas batendo no retrovisor poderia ser minimizado pelo uso de óculos de lentes amarelas.
Comentei com meu marido e, por coincidência, ele viajou um tempo depois e comprou não um, mas dois pares desses óculos amarelos. Na dúvida se seriam úteis ou não, entrou numa loja de departamentos e escolheu uns por algo assim como US$ 10 cada um. Como aconteceu toda a história com minha mãe, as coisas que ele trouxe na mala ficaram perdidas em diversos lugares, pois de repente nada material parecia ter a menor importância. E não é que cerca de um mês atrás, ao voltar do interior de São Paulo dirigindo, reclamei dos faróis do carro atrás de mim e minha cara-metade lembrou-se que ele colocara os tais óculos nos carros, um par em cada porta-luvas? Como carona (e marido) gentil que ele é perguntou se eu não queria testar. Leitores, juro, juro de pé junto que a minha vida mudou a partir daquele momento.
Ao colocar as lentes tudo ficou instantaneamente um pouco mais escuro. Sem problemas, meu carro não tem Insulfilm, então a ligeira mudança de tom ficou parecendo aquela de quando viramos o retrovisor para a posição antiofuscamento. E todos os faróis adquiriram uma coloração ligeiramente amarelada, incrivelmente suave.Já comentei outras vezes, mas para quem não sabe tenho um olho de cada cor. Bem, tecnicamente os dois são castanhos, mas um é muitíssimo mais claro do que o outro. Isso me confere algum charme — isso sou eu quem diz, embora meu marido insista em dizer que é defeito de fabricação— e muito ofuscamento em casos de luz forte, pois uma retina demora mais para voltar ao normal do que a outra. O óculos amarelo virou uma bênção.
Agora os benditos não saem mais do porta-luvas, onde estavam embaixo de um velhíssimo guia de ruas do qual não me desfaço por motivos sentimentais e por achar que posso ficar sem sinal de GPS ou Waze. Foram promovidos a um lugar acima do guia de ruas, o que, por si só, já demonstra o upgrade alcançado. Acabo usando mais esses óculos do que os de sol, que nem acho assim tão indispensáveis quanto os amarelos. Mesmo na cidade, eles são extremamente úteis.
Lembro que minha oftalmologista me disse, à época, que tem gente que não se beneficia muito dessas lentes. Bom, certamente eu não sou desse grupo. Nem o meu marido, que também aderiu imediatamente aos óculos estilo cantor de rock dos anos 80.
Apesar do meu recém-adquirido conforto, continuo brigando para que haja fiscalização sobre esses verdadeiros horrores que andam por aí assombrando nossas ruas e estradas assim como continuo brigando para que os motoristas tenham consciência do uso correto dos faróis. Cada luz tem seu uso, sua hora e sua ocasião. Todas são necessárias mas, como disse, depende de vários fatores.
A rigor, as lentes são “âmbar”. O verde e o vermelho passam a ser melhor percebidos, pois não há ofuscamento. Em compensação, as cores e as luzes ficam mais esmorecidas — daí meu comentário sobre filmes nos vidros. É claro que Insulfilm no para-brisa é ilegal, mas mesmo assim tem gente que usa. Pessoalmente, acho também um horror algo que tire minha visibilidade, mas nesses casos imagino que os óculos amarelos sejam desaconselháveis — nem tanto pelo óculos em si, mas mais pela visibilidade já reduzida pelo uso do filme.
Há também no mercado uma opção que confesso achei meio estranha: uma espécie de viseira que pode ser acoplada ao para-brisa (arte acima). Explico por que não gostei muito: deixa de fora os retrovisores que, na minha opinião, são as primeiras vítimas das luzes desreguladas e dos faróis altos. Por isso prefiro os óculos, que não importa para onde olhe, me protegem do ofuscamento.
Meu óculos foi uma pechincha e reconheço que não é, assim, um primor de design. Mas há outros no mercado, inclusive nacional, bem mais estilosos. O meu é apenas discreto e cumpre super bem sua função antiofuscamento. Por óbvio, eles atrapalham um pouco se o local é de baixa luminosidade mas, nesse caso, para que usar? Eles são úteis justamente quando há muitas luzes e especialmente, desreguladas. Algo que é muito comum em nossas ruas e estradas. Infelizmente.
Mudando de assunto: O Grande Prêmio de Mônaco de F-1 é um clássico. Concordo com o Piquet, que disse que correr por lá é como andar de triciclo num apartamento, mas faz parte da história do automobilismo e ainda tem todo o charme de Monte Carlo… Na corrida de domingo Hamilton foi excepcional e conseguiu vencer mesmo com uma péssima estratégia de pneus da Mercedes — que mais uma vez erra e obriga seus pilotos a tirarem coelhos das cartolas. Adorei a ultrapassagem de Leclerc em plena Rascasse. O moleque é muito, muito bom, apesar da Ferrari que faz de tudo para prejudicar seus dois pilotos — mais ainda o monegasco. Para mim, a melhor manobra do dia, de longe. Coisa de gente grande, não de alguém com somente 21 anos.
NG