Caro leitor ou leitora,
É com grande satisfação que comunico a chegada de mais um editor ao nosso AE. Trata-se de Gerson Borini, velho conhecido meu e do Paulo Keller, uma vez que fomos contemporâneos na GM do Brasil e sempre mantivemos contato desde então. Ele é leitor do AE praticamente desde o nosso começo e costuma postar comentários. Engenheiro mecânico, Gerson tem uma vida intimamente ligada ao automóvel. Com 10 anos de idade já acompanhava o tio e o avô na oficina mecânica, e curtia os carros de avaliação de qualidade da Vemag e VW que o pai trazia para casa. Aos 20 anos de idade ingressou na área automobilística, tendo trabalhado na Mercedes-Benz (dois anos), BorgWarner (três) e GM (30 anos). De 1989 a 1995 correu na categoria Super Stock (Opala 6-cilindros). Em 2004 montou a equipe Chevrolet Endurance Team para disputar o Campeonato Brasileiro de Endurance (2004 a 2012), onde conquistou vários títulos individuais e da equipe. Na GM atuou na área de Engenharia de Desenvolvimento e Validação no Campo de Provas e gerenciou diversas áreas técnicas no Brasil, Estados Unidos e América Latina. Portanto, o Gerson tem muito a contar nas matérias que certamente virão, além da já começar fazendo parte do time do AE que testa carros regularmente.
Bem-vindo ao AE, Gerson!
Bob Sharp
Editor-chefe
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O COMEÇO DE TUDO
Por Gerson Borini
Sempre digo que entrei na indústria automobilística muito antes de nascer. Meu pai trabalhava na Ford quando nasci e depois ele foi para a Vemag, que acabou sendo comprada pela Volkswagen, onde ele permaneceu por mais alguns anos, antes de ir trabalhar num fabricante de autopeças. Portanto, ligação e paixão pelos automóveis estão no meu DNA.
Ainda menino eu acompanhava meu tio João nas suas invenções em automóveis e nos seus carros como motor V-8 tunados e restaurados. Isso era final dos anos 1960/início dos 1970. Eu estava sempre atento às conversas dele com seus amigos, todos superautoentusiastas, e a todas minhas perguntas ele respondia e explicava de uma maneira tão didática que seria impossível eu não ter aprendido tudo o que aprendi nessa fase da minha vida. Foi nessa época que o DNA se transformou em paixão.
Esse DNA que me levou e me formar em engenharia mecânica e trabalhar 36 anos na indústria automobilística seguindo minhas paixões e agora, após a aposentadoria, ter o privilégio de fazer parte do time de colunistas e editores do AE. Aqui vou compartilhar com você meu ponto de vista em relação aos carros nacionais e importados, indústria nacional e estrangeira, lançamentos, técnica e tudo relativo à mobilidade e desenvolvimento de um novo veículo.
Desses 36 anos de trabalho nessa indústria, 30 anos foram dedicados à Engenharia de Produto da General Motors do Brasil, sendo 20 anos no Campo de Provas da Cruz Alta em Indaiatuba, SP. Lá pude adquirir muitos conhecimentos técnicos e tive a oportunidade de conhecer mais de 20 países para onde a GMB exportava veículos e/ou tinha parcerias técnicas.
Tenho certeza de que há muitos autoentusiastas que sonham, ou um dia sonharam, ou talvez irão sonhar, em trabalhar em um campo de provas e poder fazer todas as maluquices imagináveis e inimagináveis com os carros e colocar todas suas habilidades à prova. Porém, saiba que apesar de toda essa mística que existe em torno desse tema, a vida dentro de um campo de provas é repleta de regras, procedimentos, processos, cálculos, análise de riscos e custos, mas nada disso subsiste se não for a paixão emanada por cada engenheiro, técnico, mecânico e motorista de teste que ali trabalha.
Nos meus 30 anos dentro da Engenharia de Produto e dentro do campo de provas vi a transformação da engenharia automobilística nacional, que passou de uma condição primordialmente subjetiva para uma engenharia objetiva, onde os dados coletados por diversos tipos de sensores são capturados e analisados em potentes computadores e traduzidos em maior desempenho, conforto e/ou durabilidade dos nossos veículos.
Pode ter certeza de que todos os lançamentos da GM foram extensivamente testados nos campos de provas da GM no Brasil ou no exterior, e o resultado é o que vemos nas concessionárias e nas ruas. Muitas vezes não gostamos de alguma das soluções adotadas, porém em muitos casos o resultado que não gostamos é o melhor que o engenheiro conseguiu com o orçamento, material, desenho e tempo que ele tinha disponível para fazer seu trabalho. Na área de desenvolvimento de produto muitas vezes brincamos que a conclusão acontece por decurso de prazo, pois se deixarmos um engenheiro trabalhar livremente ele nunca ficará contente com o resultado e estará sempre buscando uma melhoria.
Uma das atribuições que tive ao longo desses anos de desenvolvimento de produto foi a verificação dos veículos frente ao consumidor final, com as peculiaridades de uso que cada país tem e nas condições locais de vias, velocidade média, altitudes, temperaturas ambiente, qualidade de combustíveis, etc. Em função dessas atribuições acabei viajando para mais de 20 países, onde fazia roteiros do dia a dia dos consumidores. Também, viajava para locais onde nos finais de semana os usuários costumam ir, de modo a evitar que atributos necessários para utilização dos carros naquelas condições locais tenham sido esquecidos ao longo do processo de desenvolvimento e validação.
Nessas viagens acabei aprendendo algumas coisas muito peculiares, como, por exemplo, a chave ou trava na tampa do tanque de combustível na Venezuela ou Oriente Médio era desnecessária, pois na Venezuela a gasolina era tão barata que não valeria a pena furtá-la. E no Oriente Médio somente loucos iriam furtar gasolina e correr o risco de perder a mão. Aprendi também que a buzina era algo importantíssimo no Peru, pois um motorista não conseguia dirigir sem buzinar a cada 100 metros. Chegava ao ponto de ele buzinar para alertar o motorista à sua frente quando abre o sinal, mesmo que ele seja o primeiro da fila. Vicio do hábito?
Nas próximas semanas vou compartilhar com você muitas dessas histórias da vida de um engenheiro de testes, sem deixar de dar destaque às novidades que forem aparecendo e eu tiver a oportunidade de avaliar, juntamente com os demais editores do AE.
Outro tema que atrai muito a minha atenção e crítica é o sistema viário das nossas cidades e rodovias, e os absurdos que encontramos em nossos caminhos todos os dias. Este tema já é muito bem explorado pela Nora Gonzalez na coluna “Visão Feminina”, portanto a minha iniciativa é ser mais uma voz pela moralidade e/ou obediência às normas, pois quem sabe um dia cheguemos lá.
Às vezes parece que, quando já vimos de tudo, eles conseguem inventar algo mais espetacular e, logicamente, com essa vivência em diversos países tive a oportunidade de ver soluções superinteligentes que infelizmente não foram utilizadas por aqui, como também o oposto, soluções bem estúpidas que parecem ter sido utilizadas como referência pelos engenheiros de tráfego daqui.
GB